TOTENS DE PLÁSTICO

Toda sutileza de gestos gestados no ponto cego do pensamento, se tornam violentos. Todo fracasso imposto por regras sociais na verdade é auto-sabotagem e o medo de sair da casa dos pais. Todo pão indigesto que você comeu não estava estragado, você é que não tinha fome. Para os famintos cujos desejos doem; o diabo sempre tem as fornalhas acesas, seus pães são para eles deliciosos. Preguiça e má vontade dão o sentido estético e o tempero que faltava, que faltava no pão que o diabo amassou. Se viver fosse não temer, não nasceríamos chorando. Se viver fosse destruir símbolos, não seríamos ridículos. O Gigante me ensinou que o olhar trafega onde o pensamento não pode nos levar. O pensamento é de Cronos, o olhar é o raio de Zeus. O Pensamento elege totens de plástico, enquanto que o olhar mostra onde está escondido Deus. Os totens de plástico podem ser de carne e osso, podem ter vida e serem vistosos, mas no fundo são receptáculos vazios, um templo sem fé, um muro de absurdos, um silêncio que incomoda, um medo que paralisa. Totens de plástico existem porque as pessoas não querem mudar e não querem porque são egoístas e tolas, medrosas e toscas, querem um só deus, mas de celulose e este também é um totem. Querem somente um deus obediente no qual todo materialismo espiritual é realizado. E o que diz o raio de Zeus?

Diz que não é bem assim. Deus não aceita regras. Deus não atende as chamadas de ameaça. Deus é ¼ do tempo pedagogo, 7/7 psicólogo, e é músico full time. A única coisa que a Ele importa é o Amor.

E amar é algo muito sério. Os totens de plástico são amores cegos. Pois quem ama só o ser amado, na verdade o aprisiona. Quem ama só a si mesmo é egoísta e fadado ao casulo. Ninguém pode ser feliz sem fazer quem ama feliz. Ninguém pode amar sem jogar os totens mortos pela janela. A jaqueta que tanto te custa, a jaqueta marrom... será novamente sua quando ver Deus em seus inimigos. Quando vê no perdão não só o céu, mas o chão. Quando em sua memória implacável você for mais forte e esquecer de anotar a placa do carro. É assim que o Poeta escreve, é assim que ele tenta viver. É assim que o Poeta reinicia sua prece e sem medo da resposta, pede a Deus para que seu amigo Gigante, não termine seus dias nas ruas. Vulnerabilidade social vem da indiferença. A indiferença vem quando os totens de plástico já se tornaram mais bonitos que o Sol.

“e não adianta nada rezar

para os totens de plástico

que insistimos em chamar de deuses,

são substitutos da nossa coragem

e o desespero vem

Às vezes ...

enganamos a nós mesmos

e confiamos em qualquer tirano

que nos traga um Paraíso de engano

e esquecemos que também somos Deuses.”

CARLOS MALTZ

(PASSOS DO MUNDO)

este ensaio faz parte do meu livro: "O Poeta e o Gigante"