O SONHO DE TAUROS NO ZOOLÓGICO

Não devemos julgar, adjetivos são adjetos. Opa, mais um adjetivo aqui.

Será que eu julguei?

Reza a lenda que:

“Havia um Castelo enorme dentro de um Labirinto de barras de lingote, era bonito ver do metal saltar elétrons em múltiplas cores, mas não se podia sair dali... as barras impediam a passagem e impeliam que se vivesse dentro do Castelo. Somente. Não parecia ser tão ruim, mas era. O Castelo ficava vazio na primavera. Que era quando os anjos vinham se banhar no perfume da Luz do Sol. E lá no castelo só restava Tauros... o antigo herói derrotado por Teseu. Tauros era digno de Terror e de Piedade, dizia ele, morto de melancolia em todo fim de tarde:

- Como posso sair daqui? Não é justo que eu pague por erros que não cometi...

De fato os erros não eram dele, eram de seu Pai Minos, Pederasta do Mundo... mas Tauros era punido por ser quem ele realmente é: metade homem, metade mulher... acha estranho essa androgenia? Pensava que sobre ele diferentemente me referiria? Engano. Tauros era um ser humano. Todo homem tem uma parte de sua psique que é feminina, Jung chamou a isso de ‘Anima’, toda mulher tem também em si seu complemento masculino. Então mulheres podem vir de Marte e homens de Vênus. E ponto final. A cabeça de Tauros era algo másculo, lembrava a de um zebu, olhos negros, porém não impávidos, com chifres longos e não delgados, em curvatura acintosa para trás, perfeita dentição que deixaria muitos atores globais e dentistas com um assombro de fazer o queixo ir ao chão. O restante de seu corpo era delicado, soava o sino de descobertas de sua sexualidade na adolescência e ele não cabia dentro de si de tanta dúvida, pungência e encanação. Ora queria namorar com um menino, ora tinha desejos e fantasias com meninas. E a Sociedade, cabeça de um mal que está com os dias contados, achava que esse comportamento era muito errado e o trancou no Labirinto.”

Essa lenda ilustrativa representa quando o “eu” se perde em caos de repressão e agonia, o problema de se matar um ego, é que não sabemos quem de fato vem ocupar aquele lugar... pode ser um ego pior... e nosso teto vem a desabar... o fanatismo se baseia em robustecimento de egos cada vez mais presos em idiossincrasias pérfidas que, de tão longe que estão da perfeição criam um mundo de fantasias supra reais. O nosso Gigante, não demostrava “sexualidade humana”, assim não demonstrava a “condição humana”. E talvez fosse isso que o impedia de se enunciar. Pois de fato e de forma incomensurável “sexo é vida”... mas como se pensar em sexo se não temos nem sequer comida? Confesso que para mim o sexo era a o fator mais importante em um relacionamento, enquanto que um sábio filósofo amigo meu, dizia que não era... depois casado, descubro que o amor é mais importante, mas sem sexo viram irmãos os cônjuges, e isso não é bom, porque estrelas atrás das nuvens parecem não brilhar. E é o sexo que faz toda nuvem, todo medo dissipar. E de desejo morre ardente o beijo na boca da mulher que se ama, enquanto que os olhos pedem que o corpo se consuma em chamas.

Todo roubo começa com uma inveja.

Este ensaio faz parte do meu livro "O Poeta e o Gigante".