O POEMA É UM CORPO VITAL PSÍQUICO-ENERGÉTICO

Realmente, entendo que estamos no caminho correto: são essas agonias, angústias e inquietações que acionam o processo emocional-psíquico do amar, cuja complexidade, sob aparente singeleza, é capaz de gestar o poema com Poesia. O mais complexo de tudo, em Poética, não é a comoção – o aceso e peculiar sentimento observável no poeta-autor – mas a difícil demora do encontro com a palavra em seu vestido de gala, como sói ocorrer com o significante e o significado e a utilização das figuras de linguagem no conjunto verbal, especialmente nas metáforas e nas imagens que da linguagem decorrem – nascituras – ao serem formalmente apresentadas, e, de somenos, convulsionam o espiritual do poeta-leitor. O poema (com Poesia) é este contextual candente de vida e força motriz, oriundo daquela primaz comoção desencadeada na psique e que se plasma corporificada no organismo verbal a que, na modernidade, denominamos de poema. E é esta peça composta de palavras que compõe a materialidade da poética. O que nos permite conceituá-la como um corpo vital psíquico-energético capaz de conter, emitir ou suscitar Poesia. E que me perdoe a tal de “poesia visual”, em cujas peças as palavras não comparecem no conjunto plástico. Parece-me, neste caso, que a tentativa de tradução do que explicita o poema pertence a uma especificidade de domínio que não é o da escrita, e sim o das artes plásticas. E, para finalizar, frente ao imensurável número de escritores dedicados à poesia no país e no planeta, é muito pouco expressivo o número de pesquisadores da humilde palavra enquanto corpo psíquico-energético, que é o poema com Poesia. E que, como tal, é fonte de vida a todo o tempo. Por fim ao cabo, esta é a sua íntima e vital utilidade ao humano ser, a única, porque tudo o que se pode observar em termos de utilitarismo provém de ação prática e este não é, seguramente, o plano em que se situa a porta emergencial da Poesia, expressa por sua materialidade, o poema.

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02. Obra inédita, 2015/20.

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