Vórtice

O cintilar da brasa que brilha parece aumentar a dor das chagas da alma.

Um caminhar sobre as ruas vazias. Que ilustram a solidão de quem lida com as angústias que tanto atormentam a consciência.

Tentativas de se conhecer, frustradas pela névoa de acontecimentos novos.

Provas que colocam em xeque tudo que foi construído. Talvez ordália seja a palavra mais acertada.

O incerto que fascina. Mas que também machuca.

Fascina no presente. Frustra no futuro. Amargura o ser. Vexa a liberdade.

Grilhões que aprisionam o eu daquilo que ele quer. Ou não quer, na realidade.

Vivendo no vórtice paradoxal que suga e absorve toda a pureza e ingenuidade daquilo que já fui. E não poderei mais ser.

Estar de novo naquele momento. Que alento.

Pensar de novo naquele tempo. Que martírio.

Encontrar refúgio na ocupação, mas ser consumido no ócio. Sentir pretensa liberdade nas escolhas. Mas ser acorrentado nas consequências.

E sentir eternamente o cheiro putrefato das correntes. Maculadas pelos envolvidos nos infortúnios.

Mimetizando pretensões e se transformando no palhaço do próprio circo.

No teatro da vida, vivo em uma jaula de vidro.