DO TEXTO POÉTICO

“Nem sempre podemos taxar um poema de “ausência de metáforas”. Há situações em que o leitor descobre num poema, mensagens que o autor não identificou.”

– D. J. M. C., pelo Facebook, em 06/06/2020.

Sendo a metáfora a "subversão do sentido original da palavra, dando a essa um novo sentido", a ausência desta figura de linguagem ou de estilo, no poema, se dá pela simples observação do poeta-leitor aficionado à Poética, no momento em que não a encontra nos versos, também porque esta salta aos olhos ao primeiro exame: é a palavra em seu vestido de festa ou de gala. Por engalanada a palavra, trata-se de mera constatação à simples leitura. A descoberta ou o acolhimento das sugestões poéticas se dá à conta do efeito das metáforas no texto, formando imagens a que chamamos tecnicamente de imagística ou imagética, a qual perfectibiliza um ou mais contextos, na barriguinha do poema. Nesta hipótese, por força das imagens exsurgidas, o poeta-leitor pode obter diversos entendimentos ou interpretações. Temos, no caso, a aplicação prática do jargão de raiz latina: "cada cabeça uma sentença". Todavia, o interpretar do poema se dá a partir dos efeitos que a metáfora produz no receptor, vale dizer, através da palavra ornada pela imagética. Veja-se o que diz o poeta, filósofo e diplomata mexicano Octavio Paz, Prêmio Nobel de Literatura de 1990: " ... O poético é poesia em estado amorfo; o poema é criação, poesia erguida.". E, para mim, o erguimento da poesia se dá pela utilização das figuras de linguagem, especialmente as metáforas, que são peças visíveis (o letramento) do texto poético. Consequentemente, a partir dos efeitos que delas decorrem, dá-se o consumo e a interpretação do conjunto textual através dos mecanismos psíquicos da sensibilidade e da intelecção do leitor. Não esqueçamos: o poema é humilde e singela peça gerada pelo poeta-autor. Este é o “pai das ideias”, mas quem se apossa da peça poética é o poeta-receptor. É este quem define e alinha a destinação da proposta ou sugestão que tomou “pra chamar de sua”. O primeiro é o proponente do conjunto de ideias e pensamentos contido no ventre da peça poética. Ele a joga no mundo, mas, tal como ocorre nas crianças, o poema se inaugura com o choro concomitante ao primeiro respiro. Todavia, quem lhe corta o cordão umbilical, dando-lhe autonomia, é o poeta-leitor. E este, por ternura, encanto e/ou deslumbramento apresenta-o aos recantos de convivência entre aqueles que descobrem a fonte da vida na vertente insensata das águas que correm avessas a um itinerário certo.

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020.

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