Chá da Cesta - 9 -A: Expansão do chá a partir da China
Expansão do chá a partir da China
Face à divulgação do consumo, o comércio do chá expandiu-se a partir da China. Efetivamente, durante a dinastia Sung (960-1127 d.C.), o governo Chinês permitiu o comércio regular de chá através das suas fronteiras com a Mongólia, exportando-se o primeiro chá para o Tibete sensivelmente também por essa altura. Ainda assim, conforme Cunha, o chá, numa primeira fase de expansão, que ele situa nos séculos III a VIII, saiu do Yunnan natal para se disseminar pela China e depois pelos países influenciados por esta matriz civilizacional - a Coreia e o Japão. Alguns autores indicam o século V para as primeiras transações comerciais de chá levadas a cabo por comerciantes turcos. Para além disso, confirma que o chá estava já plenamente enraizado em 780, pois foi nessa data que surgiu a imposição pelo governo Chinês de um imposto sobre o chá.
Quanto ao chá da China, João Teles e Cunha garante-nos que por aí se manteve até inícios do séc. XIX, sem que a sua cultura se tivesse difundido geograficamente, embora se desse o seu consumo na Ásia Central, por populações que mantinham intercâmbio com a China. Em outro trabalho, A Via do Chá – Cultura Material e Artefactos do Oriente ao Ocidente, o autor afirma que, quando os Portugueses chegaram ao Oriente, o consumo de chá já se tornara um hábito nas regiões situadas na área de influência da civilização sínica (Mongólia, Tibete, Vietname, Coreia, Japão. Defende ainda a existência de duas fronteiras na expansão do chá: uma terrestre, na Ásia Central, e uma marítima, no Estreito de Malaca, esta marcada pela presença de comunidades de expatriados chineses dispersas pela Insulíndia desde o fim da dinastia Yuan (1280-1368) e que conheceram uma importância acrescida com as expedições marítimas dos Ming (1404-1433).
Seja como for, parece que até ao séc. XIX o chá nunca se terá imposto como bebida fora do mundo chinês, nem em contextos históricos favoráveis à sua expansão, como os contactos comerciais com o Islão e a expansão mongol para ocidente, nos sécs. XII e XIII. Por exemplo, ainda no século XIII, “o cultivo do chá não chegara ao Aname quanto mais à Ilha de Java, onde se bebia vinho de palma. Nem tão pouco se propagou a sua cultura quando, durante a transição da dinastia Yuan (1279-1368) para a Ming (1368-1644), os chineses muçulmanos do Fujian [Fuquiém] e Guandong [Cantão] fugiram para as zonas islamizadas do Sueste Asiático insular e continental (…). Apesar de a planta não ter sido transplantada, o chá foi consumido pelas comunidades chinesas que mantiveram o modo de vida que tinham na China.”
É de salientar ainda que, até ao arranque da indústria de chá na Índia, na segunda metade do século XIX, este era aqui praticamente desconhecido, se exceptuarmos o consumo de chá importado da China, por alguns europeus ou indianos europeizados.
Os Europeus, o consumo e o comércio do chá. Não há notícia de que o chá tenha chegado à Europa antes do século XVI. Que se saiba, não chegou pela rota da seda. Daí resulta, pois, ser consensual afirmar que só chega à Europa no século XVI, provavelmente pela mão dos Portugueses. Corroborando Henry Hobhouse, José Duarte Amaral presume que “o contacto dos Portugueses com os Chineses em Macau conduziu, inevitavelmente, a que o chá fosse deles conhecido, e algumas remessas teriam, presumivelmente, chegado à metrópole.” Maria Cândida Liberato, em 2012, não duvida de que o chá começou “(…) a chegar por volta de 1580, proveniente da China, através de Macau, para Lisboa.” Tom Standage reafirma a possibilidade real de entrada prévia de chá na Europa pela mão de marinheiros portugueses – “pequenas quantidades podem ter sido trazidas para Lisboa por marinheiros Portugueses,” – admitindo, porém, que foi só em “1610 que um barco Holandês trouxe uma primeira diminuta remessa comercial de chá para a Europa, onde foi considerado uma novidade.” Não discordando de Hobhouse, já que referem o arranque do comércio do chá com a Europa, K. C. Wilson e M. N. Clifford conferem a primazia aos Holandeses: “(…) O primeiro chá a chegar à Europa chegou através dos Holandeses que, sendo grandes comerciantes empenhados no Oriente, trouxeram a primeira remessa para a Holanda, no princípio do século XVII.”
Mário Moura
Doutor em História do Atlântico
Universidade dos Açores
Lugar Areias, Rabo de Peixe, Setembro de 2019
Chá da Cesta -9 - A
Expansão do chá a partir da China
[Mapa: China, Coreia e Japão]
Fonte: https://www.google.pt/search?q=china,+korea+and+japan
Face à divulgação do consumo, o comércio do chá expandiu-se a partir da China. Efetivamente, durante a dinastia Sung (960-1127 d.C.), o governo Chinês permitiu o comércio regular de chá através das suas fronteiras com a Mongólia, exportando-se o primeiro chá para o Tibete sensivelmente também por essa altura. Ainda assim, conforme Cunha, o chá, numa primeira fase de expansão, que ele situa nos séculos III a VIII, saiu do Yunnan natal para se disseminar pela China e depois pelos países influenciados por esta matriz civilizacional - a Coreia e o Japão. Alguns autores indicam o século V para as primeiras transações comerciais de chá levadas a cabo por comerciantes turcos. Para além disso, confirma que o chá estava já plenamente enraizado em 780, pois foi nessa data que surgiu a imposição pelo governo Chinês de um imposto sobre o chá.
Quanto ao chá da China, João Teles e Cunha garante-nos que por aí se manteve até inícios do séc. XIX, sem que a sua cultura se tivesse difundido geograficamente, embora se desse o seu consumo na Ásia Central, por populações que mantinham intercâmbio com a China. Em outro trabalho, A Via do Chá – Cultura Material e Artefactos do Oriente ao Ocidente, o autor afirma que, quando os Portugueses chegaram ao Oriente, o consumo de chá já se tornara um hábito nas regiões situadas na área de influência da civilização sínica (Mongólia, Tibete, Vietname, Coreia, Japão. Defende ainda a existência de duas fronteiras na expansão do chá: uma terrestre, na Ásia Central, e uma marítima, no Estreito de Malaca, esta marcada pela presença de comunidades de expatriados chineses dispersas pela Insulíndia desde o fim da dinastia Yuan (1280-1368) e que conheceram uma importância acrescida com as expedições marítimas dos Ming (1404-1433).
Seja como for, parece que até ao séc. XIX o chá nunca se terá imposto como bebida fora do mundo chinês, nem em contextos históricos favoráveis à sua expansão, como os contactos comerciais com o Islão e a expansão mongol para ocidente, nos sécs. XII e XIII. Por exemplo, ainda no século XIII,
“o cultivo do chá não chegara ao Aname quanto mais à Ilha de Java, onde se bebia vinho de palma. Nem tão pouco se propagou a sua cultura quando, durante a transição da dinastia Yuan (1279-1368) para a Ming (1368-1644), os chineses muçulmanos do Fujian [Fuquiém] e Guandong [Cantão] fugiram para as zonas islamizadas do Sueste Asiático insular e continental (…). Apesar de a planta não ter sido transplantada, o chá foi consumido pelas comunidades chinesas que mantiveram o modo de vida que tinham na China.”
É de salientar ainda que, até ao arranque da indústria de chá na Índia, na segunda metade do século XIX, este era aqui praticamente desconhecido, se exceptuarmos o consumo de chá importado da China, por alguns europeus ou indianos europeizados.
Os Europeus, o consumo e o comércio do chá. Não há notícia de que o chá tenha chegado à Europa antes do século XVI. Que se saiba, não chegou pela rota da seda. Daí resulta, pois, ser consensual afirmar que só chega à Europa no século XVI, provavelmente pela mão dos Portugueses. Corroborando Henry Hobhouse, José Duarte Amaral presume que “o contacto dos Portugueses com os Chineses em Macau conduziu, inevitavelmente, a que o chá fosse deles conhecido, e algumas remessas teriam, presumivelmente, chegado à metrópole.” Maria Cândida Liberato, em 2012, não duvida de que o chá começou “(…) a chegar por volta de 1580, proveniente da China, através de Macau, para Lisboa.” Tom Standage reafirma a possibilidade real de entrada prévia de chá na Europa pela mão de marinheiros portugueses – “pequenas quantidades podem ter sido trazidas para Lisboa por marinheiros Portugueses,” – admitindo, porém, que foi só em “1610 que um barco Holandês trouxe uma primeira diminuta remessa comercial de chá para a Europa, onde foi considerado uma novidade.” Não discordando de Hobhouse, já que referem o arranque do comércio do chá com a Europa, K. C. Wilson e M. N. Clifford conferem a primazia aos Holandeses: “(…) O primeiro chá a chegar à Europa chegou através dos Holandeses que, sendo grandes comerciantes empenhados no Oriente, trouxeram a primeira remessa para a Holanda, no princípio do século XVII.”
Mário Moura
Doutor em História do Atlântico
Universidade dos Açores
Lugar Areias, Rabo de Peixe, Setembro de 2019