Poder x Sabedoria

Estava há pouco pensando na separação que faço entre autoridade de poder e autoridade de sabedoria. Basicamente ela reside na diferença entre impor o que se pensa e entre demonstrar inquestionavelmente a verdade do que se pensa.

Percebi isso ao ler uma história escrita pelo filho de alguma "celebridade por um mundo melhor". Ele conteve que certa vez foi à cidade com seu pai de carro. O pai disse que precisava resolver um assunto e o filho disse que iria à biblioteca. Antes de cada um partir para seu destino, marcaram de encontrar-se no mesmo local onde estavam algum tempo depois.

O jovem mentiu para o pai e foi ver um filme. No cinema perdeu a noção da hora e atrasou-se para o reencontro. O pai, percebendo que o filho não estava no local combinado, foi procurá-lo na biblioteca, onde não o encontrou. O filho, ao ver seu pai, ficou muito envergonhado e revelou que mentiu ao dizer para onde ia. O pai disse então que deveria ter feito algo de errado para que o filho não tivesse coragem de lhe dizer a verdade e decidiu percorrer todo o caminho para casa a pé. O filho, destruído pelo remorso, não conseguiu convencer o pai a mudar de ideia e seguiu-o de carro durante todo o trajeto.

Aquilo me chamou a atenção pelo emprego de uma autoridade diferente. O pai aplicou uma lição no filho sem aplicar-lhe nenhum castigo. Certamente demonstrou sua autoridade, mas não com o uso da força.

Lembrei-me então da primeira vez que vi um vídeo com o Olavo de Carvalho. Tratava-se de uma conferência ou congresso, não guardo bem o nome destes eventos porque isto me parece irrelevante. Junto à ele na bancada estava um senhor cujo sobrenome apenas direi que começa com Su e termina com plicy. Chegando ao final do evento, o político provocou levemente o Olavo dizendo que, ao contrário deste, que declarou tinha uma meta e que estava lutando para implementar no Brasil (sob aplausos da platéia) a "renda básica de cidadania", onde cada cidadão deveria receber um valor "x", sem perguntas, sem comprovação de renda e sem nenhuma exigência que garantiria a condição mínima de vida a todos. Bastava ser cidadão. Para dar peso a sua ideia e por estar na presença de um filósofo, argumentou que Aristóteles, Confúcio, Martin Luther King, John Kennedy, Friedrich Hayek, Desmond Tutu e Milton Friedmann defenderam esta ideia, apesar de não dizer onde os mesmos fizeram isto, claramente usando estes nomes como um peso para dar força ao próprio argumento.

Olavo, sem levantar a voz e sem ofender diretamente o cidadão disse que as coligações para implementar estava muito acima das suas capacidades. Depois apontou que, conforme livro do qual não entendi direito o nome, já apontava que não há direito sem obrigação. Ou seja, levantou um questionamento, de onde viria o dinheiro? Quem teria o dever de possibilitar este direito?

Esse é um questão simples de responder e, ao respondê-la, demonstra-se a ineficiência desta "renda básica de cidadania". Primeiramente, esta renda seria para a todo cidadão brasileiro e, assim sendo, somente poderia ser paga pelo governo brasileiro. O governo brasileiro, por sua vez, depende de recursos recolhidos pelos impostos para arcar com os pagamentos que deve fazer, impostos pagos pelos cidadãos brasileiros.

Ou seja, o genial político brasileiro considerava boa ideia dar uma renda mínima para cada cidadão brasileiro usando o dinheiro vindo de cada cidadão brasileiro. Cada cidadão teria que dar um pouco de dinheiro para o governo para que este, buscando garantir condições mínimas de vida a cada cidadão, devolvesse o dinheiro para o mesmo. Porém a coisa fica pior. Este dinheiro não fica em um espaço no vácuo, necessitando ser guardado e gerenciado. Quem guarda e quem gerencia este dinheiro não o fará gratuitamente. Não necessariamente estas pessoas são más, porém elas precisam se sustentar também, estarão fazendo um trabalho, de forma que é justo receberem algo pelo seu serviço. Além disso, há a necessidade da infraestrutura para o recolhimento e para o pagamento deste dinheiro, além de pessoas para realizar o controle e a manutenção destes sistemas. Ainda há a necessidade de fiscalização com relação ao recebimento e ao pagamento desta renda mínima, haja vista a possibilidade de sonegação, prevaricação ou peculato.

Levanto isto em conta, fica claro que o cidadão receberá menos do que pagou. Ao fim, o real beneficiário desta "renda básica de cidadania" serão as pessoas empregadas para gerenciar o funcionamento deste sistema. O cidadão brasileiro, ao fim, sairá prejudicado por receber menos que pagou. Isto demarca uma característica de toda caridade estatal ou por organização que não se baseia em serviço totalmente voluntário. Ao fim, sempre o recurso destinado ao necessitado é menor que a doação realizada. A doação direta, caridade sem intermediários, sempre chega "mais inteira" ao receptor. Outra forma de demonstrar o mesmo princípio é dizer que todo recurso gerenciado tem um custo para ser gerenciado. É do interesse de todo cidadão que este gerenciamento seja o mais eficiente possível, sob pena de tornar o gerenciamento danoso, prejudicial e, talvez até, impraticável.

Obviamente, esta não é a pior ideia a passar pela cabeça de um político brasileiro. O que ali foi sugerido, foi feito de maneira um pouco diferente no bolsa família. Bastou limitar os que recebem ao conjunto de pessoas que recebem menos que a renda mínima. O que me salta aos olhos é uma pessoa ter a coragem de defender uma ideia tão desprovida de bom senso, tão desproporcional, tão irracional. Uma ideia que demonstra claramente a falta de atenção ao que se propõe. Mais escandaloso é que milhares de cidadãos brasileiros fazem o mesmo e ainda recebem vultuosas quantias para expor primores de ilógica e de falta de proporção da realidade que serão impostos aos outros cidadãos por meio de leis, regulamentos, decretos, decisões judiciais, regimentos, entre outros tipos de procedimentos legais.

Entre estes estão vários daqueles que alegam que Olavo de Carvalho deve ser prontamente ignorado. Os inimigos dos meus inimigos são...

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