etimologia da língua portuguesa Nº198

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº198.

Um dos principais sonhos humanos e tema recorrente entre os poetas, amor veio do Latim amore, declinação amor. Já místico, personagem que fascina muitos tem origem no Grego mystikós, pelo Latim mysticus, do mesmo étimo de mysterion, cerimônia religiosa secreta.

Amor: do Latim amore, declinação de amor, designando sentimento que pode que pode incluir sensualidade e erotismo, mas também pode dar-se em outras dimensões. Um dos maiores poetas de todos os tempos, o português Luís Vaz de Camões, (1524-1580), disse que “ Amor é fogo que arde sem ver,/ é ferida que dói, e não se sente;/ é um contentamento descontente;/é dor que desatina sem doer.” Histórias de amor dão muitas voltas e nem sempre têm final feliz. Um dos primeiros amores desesperados a ocorrer no Brasil foi o da índia Moema, uma das esposas do português Diogo Álvares Correia, o Caramuru (/-1557). Ela suicidou-se, lançando-se ao mar para seguir o amado que ia à Europa com sua outra esposa,a irmã dela, Catarina Paraguaçu Álvares (1503-1583), a primeira brasileira a ter certidão de nascimento. E uma neta de Moema (?-1527) ou 1528, filha de sua filha Madalena, casou-se no dia 22 de abril com um sobrinho de Camões.

Corrida: de correr, do Latim currrere, designando trecho feito nesse tipo de marcha. O étimo está presente em palavras aparentemente estranhas entre si, como currículo, curso, cursor, cursilho, discurso, concorrer, concurso, corriola, corriqueiro, discorrer, escorregar, recorrer, percorrer, recorrer, percorrer, socorro, transcurso e transcorrer. A Corrida Internacional de São Silvestre tem esse nome em homenagem ao santo homônimo, comemorando nesse dia. É realizada todos os anos no Brasil, no último dia do ano, desde de 1925. Desde 1945 estrangeiros podem participar. Desde 1975, a competição é aberta também para as mulheres. O atual percurso tem 15 km, percorridos em 43 minutos e 48 segundos pelo vencedor de 2013, em 51 minutos e 38 segundos pela, vencedora, ambos quenianos.

Etrusco: do Latim etruscus, língua de um povo que desde o século IX a. C., habitava a atual Toscana, na Itália, de onde foi expulso entre os séculos VI e VIV a. C., em guerras travadas contra celtas, gregos e romanos. A região tem esse nome por ter sido habitada pelos tusci, como romanos os denominavam. Já o mar Tirreno, que banha suas costas, traz na denominação o Grego Tirrenoi, palavra pela qual os etruscos eram conhecidos na Grécia. Eles se chamavam a si mesmos rasina. Viviam em cabanas simples, mas levavam vida de refinamento. Compunham a Etrúria cerca de 12 cidades-estados, onde oje se situam Arezzo, Perúgia e Fescênia, entre outras.

Fescenino: do Latim fesceninnus, habitante e tudo que se referisse à Fescênia, região Etrusca próximo a Roma, tida como local de grande devassidão. Fescenino tornou-se sinônimo de obsceno, licencioso e difamador, aplicando-se a versos de grande popularidade entre os antigos romanos por se referirem ao sexo de modo debochado, com vistas a criticar homens e mulheres do povo, mas também autoridades e personalidades de destaque.

Licencioso: do Latim licentiosus, estilo que toma licitus, lícito, permitido, o que não o é, abusando da liberdade. Esse estilo chegou a Portugal e dali ao Brasil, de que é exemplo parte expressiva da obra do poeta baiano Gregório de Matos Guerra (1636-1651), já presente nos versos do poeta e dramaturgo italiano Pietro Aretino (1492-1556), o “secretário do mundo”, como foi conhecido no seu tempo, autor de Diálogo das Prostitutas e Sonetos Luxuriosos, filho de um sapateiro com uma meretriz, e muito amigo do pintor renascentista italiano Ticiano (1490-1576), que fez dele vários retratos. Conquanto desbocado e irreverente, Aretino foi protegido por Leão X (1475-1525), um dos Médicis, pois esse papa, filho do famoso estadista de Florença Lorenzo de Médici, o Magnífico (1449-1492), foi, como o pai, grande mecenas, amealhando dinheiro com a venda de indulgências, usando tais recursos também para proteger as ciências, as artes e as letras.

Místico: do Grego mystikós, pelo Latim mysticus, do mesmo étimo de mystérion, cerimônia religiosa secreta, pelo Latim eclesiástico mysterium, palavra referente às transcendências da fé, tão caras e diversos santos que foram exemplos da prática do misticismo, como a monja espanhola e primeira doutora da Igreja, Teresa d’Ávila (1515-1582), cujos 500 anos de nascimento são das grandes efemérides do ano que vem. Ela escreveu textos amorosos belíssimos sobre o Crucificado, declarando o seu amor por Ele.

Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, é escritor, doutor em Letras pela USP, professor (aposentado) da UFSCar (SP), autor contratado pela Estácio (RJ), diretor-adjunto da Editora da Unisul , (SC) e colunista da Bandnews com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas. Alguns de seus romances e contos foram publicados também em Portugal, Cuba, Itália, México, Alemanha, Suécia etc., e é autor de De Onde Vêm as Palavras (17ª edição) www.lexicon.com.br

Revista Caras

2015

deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 20/10/2019
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