etimologia da língua portuguesa Nº175

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva nº175.

Ave australiana comum no mundo, calopsita veio do latim calopsittacus, papagaio bonito, palavra formada com os compostos gregos kállos, beleza, e psittakós, papagaio. Também comum até no ambiente doméstico, a incômoda mosca teve sua origem no latim musca, inseto alado.

Calopsita:do latim calopsittacus, papagaio bonito, palara vinda dos compostos gregos kállos, beleza e psittakós, papagaio. Designa pequena ave australiana, hoje espalhada pelo mundo como animal de estimação. O jornalista carioca Zózimo Barroso do Amaral (1941-1997) deu a seguinte nota, no dia 24 de outubro de 1980, na coluna social que mantinha no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro: “Informa-se que calopsita é um pequeno pássaro, de cor cinza, que exibe uma espécie de crista no alto da cabeça. A sra. Fernanda Calagrossi, cuja calopsita de estimação fugiu pela janela, está prometendo uma outra calopsita a quem achar a sua”. Há também calpsitas de outras cores: brancas, amarelas e azuladas. Descrito pela primeira vez em 1792, esses pássaros longevos --- vivem 25 anos --- chegaram aos Estados Unidos e à Europa em 1949, e ao Brasil em 1970.

Heterônimo: do grego heteronymos, outro nme pela formação dos étimos heteros, outro, diferente, e ónymos, de nomos, nome. Esses étimos estão em diversas palavras do português: sinônimo, antônimos, anônimo, pseudônimo, em que entra o segundo elemento. E em outros nos quais entra o primeiro: heterocelular (organismo constituido de células de mais de um tipo), heteróclito ( constituídos de elementos pouco homogêneos), hetorodoxo (com outra doxa, isto é, outro sistema), heterossexual (relativo a quem prefere pessoas de sexo diferente, ao contrário do homossexual). Heterônimos é nome imaginário usado por escritor que não disfarça em pseudônimo, inventando também o autor de suas obras, não só os textos, conferindo-lhe qualidades, tendências, características diferente das de seu criador. Comentando os heterônimos que criou --- Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro Reis ---, escreveu Fernando Pessoa (1888-1935), um dos maiores poetas portugueses, talvez o responsável pela reintrodução do vocábulo do século XIX: “E assim arranjei , e propaguei, vários amigos e conhecidos que nunca existiram, mas que ainda hoje, a perto de trinta anos de distância, oiço, sinto, vejo... Repito: oiço, sinto, vejo ... E tenho saudades deles”, como está registrado em Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, coordenação do professor português Fernando Cabral Martins.

Loba: do latim lupa, loba, fêmea do lobo, lupus em latim. “Enfiado numa casaca preta que parecia uma loba de clérigo”, diz o escritor português Júlio Dantas (1876-1962) em O Amor em Portugal, no século XVIII, aludindo a um tipo de batina que fazia o padre parecer um lobo, e, como a saia é própria da mulher, recebeu o nome de loba. Na reviravolta dos costumes ocorrida na segunda metade do século XIX, a mulher redimiu o tratamento pejorativo de loba, que desde a antiga Roma designava a meretriz, donde lupanar, a casa em que trabalhava e diante da qual uivava como uma loba chamando os clientes. E loba passou a adjetivo de qualidade, nascendo a expressão idade da loba, entre 40 e 50 anos, por analogia com a idade nos homens --- entre 50 e 60 anos.

Mosca: do latim musca, inseto alado, comum no ambiente doméstico. Está presente em expressões como “comer mosca”, designando desatenção, e “acertar na mosca”, indicando precisão: no tiro ao alvo, o ponto escuro no meio lembra uma mosca. Há também a expressão “picado pela mosca azul”, nascida de um poema do romancista, contista e poeta carioca Machado de Assis(1839-1908) em que um poleá fica fascinado por uma mosca azul e, querendo entendê-la, acaba por perde-la. Tão desanimado fica, que ao olhar dos outros prece que enlouqueceu.

Pé-frio: do latim pede, declinação de pes, pé, e frigidu, declinação de frigidus, frio, designando azar e qualificando também pessoa sem sorte no jogo, nos esportes, nos negócios, na vida. Mas, sobretudo, que dá azar aos outros. A expressão provavelmente nasceu da temperatura dos pés dos cadáveres e de pessoas fracas, desnutridas. Celebridades e políticos amargam a fama de pé frio, reiterada na Copa do Mundo deste ano. O roqueiro Mick Jagger torceu para os Estados Unidos: o time perdeu por 2 a 1 para Gana. Torceu para a Inglaterra, que perdeu para a Alemanha por 4 a 1. Torceu para o Brasil, ao lado de Lucas, o filho que teve com a apresentadora brasileira Luciana Gimenez: o Brasil perdeu para a Holanda por 2 a 1.

Deonísio da Silva, escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor ´, pró-reitor de Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de romances, livros de contos e De Onde Vêm as Palavras (Editora Novo Século). Recebeu o Prêmio Internacional Casa de las Américas e foi premiado também pela Biblioteca Nacional. E-mail: deonisio@terra.com.br

Revista Caras

2010

deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 18/10/2019
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