Cachorro Magro

Não existe uma única chama iluminando nossos mortos

Pois as luzes estão apontadas para o playground dos vivos

Ao lado do grande salão de mármore

Que transforma dor em lucro

Cachorro magro, vestes cinzas

E manto de três cores

De um lado a tranquilidade

De outro o choro de quem não aproveitou seus amores

Não sinta falta de quando alguém daqui partir

Não sinta saudades no depois

Sinta saudades todo dia quando acorda

Daqueles que ainda estão aqui

Pense que quem nos separa são compromissos e o tempo

Pense que todos que temos, não temos por sorte

Pense que a vida é breve como o vento

Entenda que o que nos afasta é o tempo e não a morte.

Não são flores abandonadas à intempérie que marcam a saudade

Não são as velhas datas comemorativas de outrora

São em prática as lições que nos deixam de humildade

E ignoradas por aquela alma que chora

Um homem pode ser feliz cortando lenha ou carregando pedras

Enquanto outro se lamenta em uma escalada sem fim em busca de sucesso e não de tempo

O homem que é sábio deixa de ser quando acredita na própria grandeza

Assim o sábio de ontem é o ignorante do amanhã

E quando a verdade lhe alcança e ele se depara com o hoje

Só lhe resta a saudade do homem que era

Se o ontem sempre parece ser melhor que o hoje

É porque não fizemos jus àquilo que chamamos de presente

E isto não é vida... é rotina.

Na rotina a gente roda a roda do mundo

Procurando sentido naquilo que não foi feito para ser explicado...

Aquilo que foi feito apenas para ser sentido

E em outros momentos... Contemplado.

Assim nesta roda agigantada do mundo

Quem realmente está perdido é o homem

E não aquele cachorro magro.