O intelecto não existe sem a virtude.

O papagaio repete o que lhe é ensinado, mesmo tal animal não conhecendo a fundo o que ele mesmo profere, está na inteligência do homem compreender o que por ele é dito. Este por sua vez, entende porque viu e viveu o que significam tais palavras.

Da mesma forma, é possível dizer sem entender, falar sem saber, escrever sem no fundo conhecer o que se está dizendo. Porque não se compreende à realidade que se está a sinalizar - Mas é justamente este compreender, o entender, tomar para si o objeto do conhecimento de modo que ele passe a ser seu, fazer parte de si, e não tenha que se recorrer à guias ou manuais para expressar tal conhecimento - Salvo casos nos quais estes são consultados a fim de buscar apenas uma melhor descrição dos fatos mas de modo que o conhecimento fundamental preceda, que constitui a parte fundamental do intelecto.

Pois como pode por exemplo, alguém que nunca experimentou a escravidão do vício ensinar como se atinge a liberdade? Existe sim uma maneira, a seguinte; Escutar de alguém que o fez, e passar adiante aquela informação - Mas veja que a natureza deste conhecimento tem origem na própria vivência, na realidade em si, na experiência que vive o ser. Ainda que o corpo do conhecimento venha a ser materializado na forma de livros ou apostilas, e que assim possa-se passar adiante tais conhecimentos, o nascer deste ocorre somente como fruto da vivência e depende sempre de alguém.

No campo da física-corporal, há de se escutar à quem? O perito nas informações sobre exercícios físicos, dietas e metodologias corporais e que possui um corpo obeso ou raquítico e nada vive daquilo que prega. Ou alguém que mesmo sem tanto conhecimento livresco, demonstra em sua essência vivente corpo robusto e saudável, musculoso, forte, resistente, e que, segue uma rotina de alimentação e disciplina que pode ser contemplada por todos em essência? Quando o primeiro disser "coma ovos", que sentimento há de gerar? receio? desconfiança? medo? Mas se o sujeito exemplar, virtuoso na cultura do próprio físico disser o mesmo "coma ovos", não seguirá de imediato sentimento de confiança no que ele diz?

Ora, ambos dizem a mesmíssima coisa, como pode o primeiro gerar desconfiança e o segundo confiança se a expressão fora a mesma? "Coma ovos" - A diferença entre os sentimentos só pode então estar num lugar; No próprio indivíduo que professa, pois, vivendo ele aquilo que diz, saberá discernir por si mesmo se algum discurso de fato se aplica ou não, se é real ou não. Se ele come ovos e está forte e saudável, e isso pode-se constatar empiricamente, e diz ele ainda que é saudável e bom comer ovos, não devemos duvidar pois ele tem conhecimento de causa (e de efeito) e não somente; Isso demonstra.

Já o sujeito que não demonstra tal vigor, embora diga a mesma coisa, como pode ele saber disso, se é verdade ou não, sendo que aparentemente tal ação não tornou-o saudável e robusto?

A diferença esta mais no fato que o segundo pode estar a se enganar, ter uma informação falsa, pois se ele diz e não demonstra, isso não somente é desconfiável, mas pode minar a própria credibilidade daqueles que comem ovos e são saudáveis, ora, pode minar mesmo a credibilidade do próprio ovo em ser saudável, pois "ele come ovos e não parece saudável".

Mas, atentemo-nos, no que devemos acreditar? Que ovo é saudável pois o homem saudável o come ou ele não é saudável pois o raquítico fracassado o come e continua não saudável?

Nenhuma das proposições é adequada, pois, o "saudável" está no ser, e não no objeto, portanto, ser saudável é comer ovos mas não somente isso, são muitas outras coisas também; disciplina, temperança, amor, perseverança, entrega, sacrifício, intelecto, etc... Comer ovos está no ser saudável, mas ser saudável não está no comer ovos.

Portanto, as virtudes todas estão no ser, e não nas proposições isoladas, estas, são vazias por si mesmas. Ora, retire da Terra todos os humanos, deixe aí todo o conhecimento acumulado que descreve as virtudes e assim as virtudes não poderão ser encontradas pois se não há ser, não há virtude. O mesmo se aplica aos vícios, que não estão nos objetos em si, mas no ser "viciado".

Portanto, o ser é fundamental ao intelecto, pois pode-se entender somente as coisas que vive-se, embora possa-se repetir como papagaio aquilo que se não se vivencia na carne, tais discursos estão sempre sujeitos à fragilidade da incoerência e são inequivocadamente usurpados de outrém - Ainda que diga-se do próprio vício, como citamos no início, apenas alguém viciado teria propriedade de falar com verdade sobre o mesmo.

Isso significa que devemos ter a certeza de permitir que somente falem aqueles que vivem tudo que dizem nos mínimos detalhes? Não. O que venho trazer aqui é uma proposta; Se quiserdes ser um melhor intelectual, procures viver e imitar os grandes intelectuais, que com base em Deus, seguiam devotadamente suas vocações e sacrificaram suas vidas em prol da iluminação humana.