A Beleza Arrogante

A beleza funciona, em parte, como o caso do rico aposentado. Explico: devido aos seus altos vencimentos, ele tem tudo de melhor a sua volta. Todos os dias experimenta as melhores comidas, usa as melhores roupas, dirige o melhor carro, mora na melhor casa, com a melhor localização, não tendo em sua vida um único aspecto material medíocre.

Pode parecer bom, a princípio, ter a excelência ao seu redor diariamente, mas na verdade, quão vazia é a vida quando o menor grão de areia fora do lugar trata-se de um desastre de proporções bíblicas.

Experimentar uma refeição que, feita com todo o carinho do mundo, não saiu como planejado é uma experiência que todas as pessoas comuns já passaram. Porém até este momento de aparente falha trás em si um tipo de beleza presente no esforço para superar as próprias limitações, abrindo mão de tempo e energia, na tentativa de desenvolver uma técnica que não possuía antes, ou, escrito de outra forma, gastando o próprio tempo para aprender a cozinhar. Ao fazê-lo, o homem ou a mulher que está buscando aprender a cozinhar, está, de certa forma, expressando uma forma de amor ao sacrificar parte de sua vida na tentativa de agradar a outrem.

Porém, o alimento preparado com excelente técnica e com intenção parcial ou integral de lucro financeiro, deixa em segundo plano a preocupação primordial no bem estar do próximo que existe no gesto gratuito. Lembrando que, quando fazemos algo gratuitamente, não deixamos de ter alguma forma de lucro, mesmo não sendo lucro financeiro.

Quando tudo é bom, nada mais é bom. Isto acontece porque os substantivos e adjetivos somente podem se referir a algo específico e não ao conjunto geral das experiências. Tudo que costuma acontecer sempre deixa de ser percebido como bom e passa a ser normal. Por exemplo: é normal sair em viagem e chegar ao destino. Quando isto não acontece, vira notícia justamente por ser ponto fora da curva. Podemos verificar isso nos feriados, quando os jornais sempre se prestam a noticiar o número de acidentes nas estradas, contabilizando os feridos e os falecidos. Se o contrário fosse normal, a notícia seria justamente o anormal, ou seja, o número de pessoas que conseguiram chegar ao destino seria o fato curioso a ser noticiado.

Um dos males dos dias de hoje é que, em parte por causa da visão errada do que é felicidade, retratando-a como simples alegria, todo mundo busca o extraordinário ao invés das bases sólidas que geram a verdadeira felicidade. Hoje tudo tem que ser belo, mais que isso, espetacularmente belo. Entretanto esta ambição de ter a beleza suprema em tudo acaba tornando o belo arrogante, arrogância esta que enfeia o mundo, desvirtuando a beleza. Querendo ser os mais belos sempre, esquecemos que para haver beleza é necessário certa dose de humildade, sendo sempre o feio humilde mais belo que o belo arrogante.

Ou seja, em um mundo onde todos e tudo têm necessariamente que ter a beleza suprema, nada mais é belo.

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