Fracassar faz parte, aprender é arte

Então eu estava no meio de um texto que havia significado muito para mim, com lágrimas brotando no canto dos olhos, numas férias largadas, na madrugada do dia seguinte àquele que não fiz yoga por preguiça e me maquiei na hora de dormir para conter a ansiedade das tarefas não cumpridas.

Mais uma vez, eu caía na armadilha do destino de separar um escrito genérico para que eu me sentisse momentaneamente tocada. Não, caro leitor, não pense que eu não entendo das armadilhas dos escritores em prender a atenção — e a identificação — do leitor com para a sua história. Mas eu sabia o que estava acontecendo e por um instante tive medo.

De botar a baixo toda a resistência que eu vinha alimentando. De acabar com as minhas tentativas de me respeitar mais. De dar um fim nos compromissos que eu vinho construindo. Sim, dói demais pensar que tudo estava desmoronando. Dói demais pensar nos nossos fracassos.

Mas, depois de tanto tempo negando os meus nãos sem admitir que as minhas vitórias sempre chegaram com mais amor e respeito no meu coração, eu sei que preciso escrever, de uma vez, sobre os fracassos.

Eu sempre pensei no futuro como uma chance de acalmar o meu peito. O presente doía e eu acreditava que o que viria depois de um dia ensolarado enfim me faria respirar com calma, respirar pela barriga. Hoje eu sei que as coisas não funcionam assim. Respirar dentro de mim não é uma recompensa; faz parte do Processo que todos nós vivemos todos os dias. Respirar dentro de mim me garante que eu tenha calma para lidar com o que acontece hoje, e assim gerar um amanhã melhor. A cada vez que a gente se prende àquilo que pode vir a acontecer, fechamos portas para oportunidades maravilhosas. Seja chave mestre.

Eu sei que você já sonhou demais e idealizou momentos que nunca aconteceram. E pior, sei que você se culpa por muitos deles. Mas já pensou se todos os seus sonhos tivessem se tornado realidade? Se cada coisa, boa ou não, que você idealizou no passado hoje fosse verdade?

Não deixe que as bobagens que passam pela sua mente tomem conta do seu tempo e da sua sanidade. Não deixe subir pela garganta feito bile cada coisa que você poderia ter feito e não fez. Tudo que você é hoje é consequência mas, também, é aprendizado. Nada veio por acaso e nada irá embora por acaso. Saiba ouvir-se por dentro.

Você já pôde ter sido tanta coisa e não foi... mas você é o que é hoje e isso importa mais do que tudo que foi deixado para trás. Quem moldou-se diante de todas as circunstâncias que permearam o seu passado é alguém resistente e que merece enxergar a própria força. Você já prestou atenção em todos os sacrifícios que teve que fazer e todos os perrengues que já passou? Você sabe que está vivo e resistindo agora pois é forte e único e um lutador?

A vida é sobre isso: sobre dividir dores e sobre aprender com as quedas. Aí que reina a sutileza, aí que reina a delicadeza. Quando falamos sobre encarar de frente os arrependimentos do nosso passado, os medos do nosso presente e as expectativas do nosso futuro, falamos sobre encarar com cuidado as nossas feridas e saber encontrar uma saída segura entre elas. Falamos sobre resiliência, e sobre não pisar novamente nos cacos que feriram os nossos pés. Falamos sobre nos reconstruirmos.

A razão está em não sermos completamente donos do que virá. O destino não depende da gente; depende dos seus pais, amigos, filhos, primos distantes, padrinhos amorosos, avós queridos, bichinhos de estimação, estilos de vida, compras, religiosidade, profissão, despedidas, reencontros... mas, principalmente, depende da nossa confiança nele. Entregar tudo ao destino não é relaxar, encostar numa sombra confortável e esperar o mundo cuidar de si. Entregar tudo ao destino é crer que nossas escolhas influenciam, mas também crer que nós não sabemos de tudo, e tudo bem com isso.

Não tenha medo dos seus insucessos, amigo. Ame-os da mesma forma que lhe ensinaram a brindar com champanhe as lutas ganhas, as batalhas vencidas. Errar faz parte e você deve ter orgulho não daquilo que deu certo, mas daquele momento em que tudo deu errado e você soube lidar com o fracasso.

Eu espero que você tenha paz no coração para entender que aquilo que está distante de nós é aquilo que menos interessa. O agora é o seu único poder. Um poder frágil, mas de raizes fortes, como uma flor. Que possamos florir por aí com as nossas derrotas, que possamos amar as nossas cicatrizes e aprender com os nossos erros.

Que o agora seja presente.