Encontro fatal
Morava na mesma rua. Quase na frente um do outro. Nunca se encontraram. Ela saia logo cedo toda manhã e ficava até o final da tarde no serviço. A noite estudava para o concurso. Não era de sair nos finais de semana e não tinha muitas amizades. Ele acordava sempre tarde. Passava quase a noite toda jogando e bebendo com os amigos. A casa estava quase sempre cheia de pessoas. Um vai e vem cotidiano.
Ela gostava de escrever cartas pessoais, poemas e diários. Ele mal sabia escrever o próprio nome. Abandonara a escola logo cedo e não quis nem saber de estudar. Ela sempre trabalhou e, com o passar dos anos conseguira economizar uma pequena quantia que a ajudaria a fazer a faculdade. Tinha perdido os pais ainda criança e sempre deu um jeito de vencer na vida apesar das intempéries. Ele havia saído de casa e recebia uma pensão dos pais que tinha boa vida financeira.
Ele não pretendia sair aquele dia. Tinha marcado com uns amigos para fazerem uma festinha com umas meninas e as esperavam. Ela tinha tirado o dia para descansar. Era ponto facultativo e no dia seguinte era feriado.
Ela recebeu uma ligação para que fosse até o serviço terminar um arquivo que ficara pendente e que deveria ser enviado o mais urgente possível. Saiu em sua moto biz rumo ao serviço.
Ele olhou para seus amigos que reclamavam da cerveja e da carne dizendo que não daria para a festinha que haviam planejado. Ficou enfurecido e falou que iria buscar mais. Saiu em sua camionete.
Ela tentou desviar da criança que atravessou a rua. Na velocidade que vinha, a moto subiu à calçada e o atingiu quando saia da loja de bebidas com um engradado de cerveja. Com o impacto os dois caíram estirados no chão. Curiosos e pessoas próximas os ajudaram até a chegada do socorro médico.
Ambos foram atendidos no mesmo hospital em estado grave. Ele quebrou algumas costelas e teve o pulmão perfurado. Ela sofreu fraturas expostas em uma das pernas e um dos braços.
Foi no corredor do hospital, dias depois, que se conheceram. Conversaram bastante e marcaram de sair quando recebessem alta do hospital.
Saíram a tarde e foram ver o por do sol na beira do rio. Depois partiram para uma lanchonete. Conversaram bastante e na volta ela deu-lhe uma carona em sua moto. Estavam parados no último semáforo antes de chegaram em suas casas quando foram atropelados pelos fugitivos que eram perseguidos pela polícia.
Agora dois corpos são sepultados um na frente do outro.
Texto: Odair José, o Poeta Cacerense