Sobre os ídolos

Em língua portuguesa usamos a palavra ídolo para nos referirmos àqueles indivíduos que nos despertam um profundo sentimento de respeito e admiração. Nossos ídolos emergem da arte, da ciência, da filosofia, da religião, do esporte, do convívio com outras pessoas...enfim, ídolos surgem de qualquer parte e a qualquer tempo.

Idolatrar alguém é algo moralmente aceitável, pelas razões que abaixo serão explicitadas. Concebemos, contudo, que há um limite para tal, pois desde Aristóteles que sabemos que a virtude se encontra no meio-termo e nunca no excesso.

A atitude de admirar tanto um Deus (seja ela o cristão ou o muçulmano, a critério de exemplo) ao ponto de considerá-lo o único ser supremo existente nos leva a um dogmatismo religioso, anterior ao fanatismo religioso.

Quando se tem uma admiração desenfreada por um filósofo qualquer corre-se o risco de chegar à falsa conclusão de que o mesmo resolveu todos os problemas da filosofia. A idolatria cega neste caso pode nos levar ao vício do pedantismo, pois sempre que surgir oportunidade não deixaremos de falar o que disse ou o que não disse o pensador x sobre este ou aquele assunto.

No âmbito da arte, cultuar exacerbadamente um romancista a tal ponto que somente os livros escritos por ele/ela sejam lidos podem nos levar a uma condição de limitação cultural, na medida em que passamos a desprezar tudo aquilo que não foi escrito por nosso ídolo.

Toda forma de idolatria em excesso, portanto, traz consigo mais desvantagens do que vantagens. Toda forma de idolatria em excesso é moralmente condenável.

Por outro lado, a ação de idolatrar moderadamente alguém é algo moralmente aceitável. Ninguém pode ser condenado por venerar parcimoniosamente um cientista, um santo, um cantor, um pai, uma mãe, um jogador de futebol, um professor, entre outros, uma vez que isso, a ação de idolatrar racionalmente alguém, revela uma valiosa virtude do admirador: seu não egocentrismo.

Os indivíduos não egocêntricos são aqueles que com maior facilidade conseguem chegar à adoração de ídolos, haja vista que os mesmos não encontram dificuldades em reconhecer e valorizar os feitos de outrem. Os não egocêntricos não se sentem diminuídos ao devotar ao outro estima e veneração, dado o fato de que estão abertos para o mundo e não pretendem ser o centro dele.

O contraponto deste tipo de indivíduo é o sujeito egocêntrico, aquele que parte da ideia de que o mundo gira em torno de si. Tal sujeito não possui ídolos, pois ele é incapaz de reconhecer e valorizar os feitos do outro. Ao fazer isso, inconscientemente pensa, estaria desvalorizando a si mesmo, o que é inconcebível e inaceitável.

Alguém dirá que Narciso possuía ídolos? É pouco provável. Narciso é a maior personificação do egocentrismo no mundo ocidental. Sua visão permitia-lhe um olhar apenas a si mesmo. Ver qualquer coisa para além disso não era do seu interesse.

O trágico fim da história de Narciso todos nós conhecemos. Porém, isso não nos impede de continuarmos cometendo seu mesmo erro: o egocentrismo.

Em língua portuguesa usamos a palavra ídolo para nos referirmos àqueles indivíduos que nos despertam um profundo sentimento de respeito e admiração. Nossos ídolos emergem da arte, da ciência, da filosofia, da religião, do esporte, do convívio com outras pessoas...enfim, ídolos surgem de qualquer parte e a qualquer tempo.

RAFA PASSANT
Enviado por RAFA PASSANT em 15/02/2018
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