Somos todas Helena
Caros leitores (as),
…retornando para mais um inverno em plena primavera. E trazendo um pouco de “mulherices” por aqui. Um texto guardado há tempos, nunca antes publicado por causa do meu perfeccionismo de achar que sempre falta mais algum ajuste. No entanto, a vida não é perfeita. A vida acontece!
Viver implica em saber quem somos e não permitir que isso seja usado contra nós. E como é difícil essa missão de sentir-se à vontade na própria pele, se conhecer, se amar, se aceitar e simplesmente “ser”. Decidir “ser” na era do “ter” é declarar guerra a pré-juízos e conceitos. Mas, como é libertador e que poder imenso há em quem decide “ser o padrão”. Subitamente, até sem perceber você se torna referência e desperta afetos e desafetos, angaria admiradores e inimigos.
E falando especificamente, às mulheres, digo sem medo de errar, ser poderosa a seu jeito, projetar suas habilidades, permitir-se apaixonar, chorar, ter o dia do mau humor, e ainda assim cuidar das crianças, do bichinho de estimação, ser esposa dedicada, ou optar pela solteirice, e ainda assim ser amiga, filha, profissional dedicada, enfim, ser “todas elas juntas num só ser”: assusta. Por outro lado, ter a pisada firme com toda a essência da feminilidade: encanta.
E porque estou falando sobre isso? Pois o texto que segue vem do encanto que tenho pela história de Helena de Tróia, a mulher que fez mil navios serem lançados ao mar.
Mas, sempre que se referem a Helena, o primeiro elemento a ser lembrado era sua beleza. E não há nada errado com isso. Mas, à nós mulheres bonitas é válido ressaltar que não nos resumimos a isso. Na verdade, a beleza é consequência. A embalagem belíssima é reflexo de envoltório que não poderia ser diferente, uma vez que se molda ao ser extraordinário que contém.
E sabe-se lá porque sempre que há mulher na história, a romance, paixão, essa relação conflitante de amor e ódio. O Universo parece atravessar gerações nutrindo esse assustador encanto pelas figuras femininas, e o poder que as mulheres exercem. O amor se mostra como elo que permite o doce devaneio de tocar uma mulher. Não apenas externamente, mas, conectar-se com sua alma.
Porém, por mais poético que tudo isso possa ser, é primordialmente: contraditório. Romances podem ser o “calcanhar de Aquiles”, para muitas mulheres, a paixão pode deixar a mente como em dia de céu nublado. Mas, observando a composição do enredo no qual Helena de Tróia foi apresentada ao mundo, temos um ciclo “Esparta –Tróia – Esparta”, que lembra que fatalmente as coisas retornam. E que verdadeiras guerras podem ser travadas por quem quer para si, uma Helena.
Helena de Tróia, de Margaret George, é uma das minhas obras favoritas pois, gosto de olhar para mim mesma, e para todas nós mulheres e crer estar diante de uma heroína, inteligente, linda, deslumbrante. Quantas mulheres já entraram em um casamento como o de Helena e Menelau, envolto em amizade e respeito, mas, por ironia da vida em algum ponto se percebe que não é aquela relação que a fará feliz. Temos coragem de mudar, de fazer e refazer, aprendendo cada vez mais. Gosto de olhar para nós mulheres como seres determinados, capazes de desafiar, de jogar tudo que nos estagna em uma “zona de conforto” em busca de viver um amor verdadeiro. E por favor, às Helenas contemporâneas, evidentemente isto não significa um amor frívolo por alguém, apenas… as Helenas atuais amam sua carreira, os filhos que geraram, a liberdade conquistada e tantas outras coisas que nos tornam, referência…E como falei, assustam.
Mas, não há como fugir do destino de ser uma mulher forte. Já nascemos assim. E não há escapatória a quem nasceu para ser “the face who launched a thousand ships”, ou em versão tupiniquim “o rosto que lançou mil navios ao mar”. E isso é lindo, no entanto, ainda é trágico, como a história de Helena de Tróia. Ainda hoje, isso pode significar solidão, inveja, preconceito e doses nada homeopáticas de incompreensão. E as batalhas veladas da atualidade não ferem o corpo, ferem a alma.
E por que encarar a dor dessas batalhas? Não há vitórias sem lutas! E o bom combate nos torna ainda mais forte, com tudo que vivenciamos. A cada conquista reafirmamos a certeza que somos capazes de tornar o simples em extraordinário. Sabemos quem somos: Giselle, Daniela, Monica, Maria, Renata, Olívia, Isabela, Camila, Fabiana, Bárbara, Juliana, Eunice … E porque se impressionar com um rosto capaz de lançar mil navios ao mar? Somos bem mais impressionantes que isto. Somos este belíssimo e poderoso exército. Seguimos desconstruindo as tragédias do cotidiano, com a vibrante certeza que nos move gritando em silencio dentro da alma “ Já valeu a pena”. Somos todas Helena!