A MAÇONARIA E A TRADIÇÃO HERMÉTICA
A principal marca da influência gnóstica na cultura maçônica aparece nos temas relacionados com a tradição hermética. Essa influência pode ser recenseada em praticamente todos os ensinamentos dos graus superiores, especialmente nos chamados graus filosóficos. [1]
O que chamamos de tradição hermética é um conjunto de doutrinas de caráter místico que compreendem especialmente três ramos distintos de pensamento, quais sejam, a Cabala, a Gnose e a Alquimia. Embora cada uma dessas três manifestações culturais tenham características próprias e sejam originárias de fontes diferentes (A Cabala é de fonte judaica, a Gnose é fundamentalmente cristã e a Alquimia, embora já praticada por povos antigos como os egípcios e os chineses, foi desenvolvida em sua forma moderna pelos árabes), vale dizer que, na época moderna elas se confundiram em um único sistema, que hoje é o fundamento do pensamento místico moderno.
O hermetismo, originalmente, é fruto do trabalho de um grupo de pensadores esotéricos, que escreveram seus trabalhos no segundo século da era cristã, reunidos sob o nome de um personagem mitológico conhecido como Hermes Trismegisto, que quer dizer três vezes grande. Ele era assim chamado porque dizia-se que tinha nascido três vezes no Egito, tendo na sua primeira vida inventado a astronomia, na segunda a medicina, e na terceira a alquimia.
Os escritos atribuídos a Hermes Trismegisto foram reunidos em três trabalhos chamados Corpus Herméticum, Discurs Parfair e Discurs Livre de Ostathas, que são, evidentemente, produtos de diferentes autores, já que apresentam conteúdos doutrinários diversos. De alguma forma, os trabalhos do suposto Hermes concordam com teses gnósticas muito em voga na época, especialmente as ideias defendidas pelo Bispo Valentino.
Essas teses defendiam a ideia de que o universo originou-se de uma energia, que antes de tudo, existia no nada absoluto. Essa energia, um dia manifestou-se no “nada absoluto” através de um nous macho-fêmea que deu origem a um Demiurgo, que por sua vez, produziu os Sete Arcontes que governam os sete céus que constituem o universo material.[2] No oitavo céu reside a Divindade Suprema. O Demiurgo hermético é identificado com o Sol, que é rodeado pelos planetas e responsável por tudo que neles existe. Nesse modelo está claramente exposta a visão do sistema solar, que era o universo conhecido até a época de Galileu, Kepler, Newton e outros cientistas que desvelaram ao mundo as faces do mundo moderno.[3]
A gnose hermética adotou também a idéia essênia do Homem Primordial, o Homem do Céu, como arquétipo do Homem da Terra, um conceito que também é desenvolvido na Cabala. Só que ao fazê-lo, identificaram-no com o mito grego de Narciso, pois “o homem primordial” gnóstico, tendo se inclinado sobre o mundo inferior, viu seu reflexo na água e achou-se tão belo que desceu para contemplar-se mais de perto. Nessa ação foi apanhado na armadilha da matéria e nela ficou retido, revestido de uma forma perecível, ao mesmo tempo em que é imortal em sua essência. Por isso, todas as disciplinas místicas hospedam em suas práticas o mesmo objetivo, ou seja, buscam libertar a luz que foi encerrada na matéria, para que ela, livre das impurezas que a matéria lhe agrega, possa voltar ao centro irradiante que é Deus. [4]
Na maçonaria essa ideia está presente principalmente no ritual de iniciação, onde a Luz é dada ao neófito como resultado do processo iniciatório. A originalidade aqui fica por conta da forma profana (no dizer de René Guénon) que a maçonaria assumiu depois que incorporou motivos políticos e filosóficos aos seus rituais, para adaptá-la às exigências modernas.[5] Essa tendência se expressa no simbolismo de uma frase muito usada na maçonaria, que diz que o maçom deve “levantar templos á virtude e cavar masmorras ao vício”. Com isso quer-se dizer que o objetivo da prática maçônica, hoje, é muito mais moral e ética do que, propriamente, esotérica, no sentido que lhe era dado pela tradição hermética. Em outras palavras, não se trata mais de uma “libertação interior” que proporcione ao iniciado um êxtase espiritual, mas sim de um aprendizado que lhe dê um caráter sem mácula, capaz de fazer dele uma reserva moral para a sua comunidade.
É importante lembrar que algumas tradições maçônicas se referem a Hermes como sendo um de seus fundadores. Essas tradições são mais desenvolvidas no rito de Misrain-Menfis, cujos praticantes entendem ser a maçonaria muito mais uma continuação dos Antigos Mistérios egípcios do que uma derivação de tradições cultivadas pelas corporações de oficio medievais. Para os maçons praticantes daquele rito, Hermes é o deus egípcio Thot, e também o deus romano Mercúrio. Em suas três encarnações ele combinou todos os atributos de um homem civilizado, sendo, ao mesmo tempo, legislador, sacerdote, guerreiro e filósofo, tendo também inventado a escrita e a ciência.
Foram os filósofos gregos do primeiro século cristão que criaram o mito de Hermes e desenvolveram a Alquimia como ciência da natureza. Eles acreditavam na existência de uma sociedade secreta, existente no Egito desde as mais remotas épocas da humanidade, que detinha os altos segredos da ciência, da filosofia e da religião. Essa fraternidade, chamada de “Filhos de Hermes”, tinha sede em Heliópolis e transmitia tais conhecimentos através de palavras de passes, toques, símbolos e métodos codificados de instrução, para evitar que caíssem em mãos profanas.[6]
Segundo alguns autores, essa fraternidade ainda hoje existiria e seria responsável pela manutenção dos mais profundos conhecimentos da civilização humana. Alguns dos segredos retidos por essa fraternidade seria a fórmula de obtenção da pedra filosofal (o sonho alquimico), o elixir da longa vida, a fórmula para ficar invisível, o poder de comunicação á distância (telepatia), etc. Esses, aliás, eram os poderes atribuídos aos irmãos da Rosa-Cruz, que em 1622 cobriram os muros de Paris com estranhos cartazes. [7]
Se existiu ou existe ainda tal fraternidade jamais saberemos com certeza, pois segundo a tradição ela se oculta da publicidade, não coopta mais pessoas que o estritamente necessário, e ainda assim, os cooptados são pessoas especiais, á nível de conhecimento e caráter. De acordo com a Enciclopédia Mackenzie, seus membros são pessoas de vasta erudição, falam diversas línguas, viajam pelo mundo todo, são discretos, simpáticos, humildes na aparência e no trato com as pessoas, calmos e seguros em tudo que dizem e fazem. Passam, muitas vezes, por professores de história, face ao conhecimento que dela mostram, como se tivessem, efetivamente, vivido os acontecimentos.[8]
Pawels e Bergier também parecem acreditar na existência de tal fraternidade. Escrevem aqueles autores: “A idéia de uma sociedade internacional e secreta, reunindo homens intelectualmente muito avançados, transformados espiritualmente pela intensidade do seu saber, desejosos de proteger as suas descobertas cientificas contra os poderes organizados, a curiosidade e avidez dos outros homens, reservando-se o direito de utilizar suas descobertas no momento oportuno, ou de sepultar durante vários anos, ou de apenas pôr em circulação uma ínfima parte-tal idéia é simultaneamente muito antiga e ultramoderna. Era inconcebível no século XIX, ou mesmo apenas há vinte e cinco anos. Mas hoje é concebível. Num determinado plano, ouso afirmar que essa sociedade existe neste momento. Certos hóspedes de Princeton (recordo especialmente um sábio viajante oriental) puderam ter consciência disso.”[9]
Os autores escreveram esse texto no século passado, por volta da metade dos anos cinqüenta. Hoje se sabe que existe um grupo de intelectuais, oriundo principalmente da universidade americana de Princeton que se denomina “os novos gnósticos” de Princeton. Congregam principalmente cientistas atômicos, astrônomos, biólogos e outros próceres da pesquisa cientifica avançada, bem como teólogos e filósofos de vanguarda.
Talvez o autor estivesse se referindo a esse grupo. O que importa, todavia, é apontar a correlação que existe entre a idéia da sociedade secreta e o saber. Essa correlação, como se vê, sempre existiu. Se no passado o saber se ocultava através de práticas chamadas iniciáticas, hoje ele se oculta em fórmulas só inteligíveis a alguns poucos espíritos de categoria. Em qualquer caso, porém, a aquisição desse saber só é possível através da adequada iniciação. O mito hermético, que antes se vinculava a uma idéia de religião, hoje está por trás da ciência mais avançada.
Na nossa opinião, a maçonaria institucionalizada se inscreve nesse domínio, não como portadora de segredos iniciáticos impublicáveis, como diziam possuir os rosa-cruzes, ou conhecimentos científicos avançados, ou ainda verdades filosóficas que devam ficar ocultas dos profanos, mas sim como uma sociedade que “trabalha” tais conteúdos para que eles possam ser transformados em atitudes práticas, resultando em beneficio para a humanidade. Nesse sentido, ela estabelece uma ponte entre a mística e a realidade, ligando os domínios mais sutis do espírito humano á sua consciência, que é onde se formata a imagem exterior do caráter do homem.
Como se sabe, o movimento rosa-cruz está na origem da maçonaria moderna. Por isso, grande parte das alegorias utilizadas nos graus superiores do rito escocês e do Arco Real são de origem hermética, como já se disse. O próprio nome de Hermes Trismegisto é citado num dos graus filosóficos, como legatário dos ensinamentos que ali se desenvolve. Assim, se á maçonaria praticada nas Lojas simbólicas podemos chamar de arquitetura do espírito, á maçonaria dos graus superiores chamaríamos, sem nenhum constrangimento, de hermetismo moral.
Com isso fica mais fácil entender o catecismo maçônico que é, na sua essência, um misto de filosofia com teosofia, desenvolvido com uma finalidade bem prática, que é a dar uma contribuição á sociedade, formando líderes e criando uma base moral na qual ela possa se sustentar na sua busca por um equilíbrio “justo e perfeito”.
A principal marca da influência gnóstica na cultura maçônica aparece nos temas relacionados com a tradição hermética. Essa influência pode ser recenseada em praticamente todos os ensinamentos dos graus superiores, especialmente nos chamados graus filosóficos. [1]
O que chamamos de tradição hermética é um conjunto de doutrinas de caráter místico que compreendem especialmente três ramos distintos de pensamento, quais sejam, a Cabala, a Gnose e a Alquimia. Embora cada uma dessas três manifestações culturais tenham características próprias e sejam originárias de fontes diferentes (A Cabala é de fonte judaica, a Gnose é fundamentalmente cristã e a Alquimia, embora já praticada por povos antigos como os egípcios e os chineses, foi desenvolvida em sua forma moderna pelos árabes), vale dizer que, na época moderna elas se confundiram em um único sistema, que hoje é o fundamento do pensamento místico moderno.
O hermetismo, originalmente, é fruto do trabalho de um grupo de pensadores esotéricos, que escreveram seus trabalhos no segundo século da era cristã, reunidos sob o nome de um personagem mitológico conhecido como Hermes Trismegisto, que quer dizer três vezes grande. Ele era assim chamado porque dizia-se que tinha nascido três vezes no Egito, tendo na sua primeira vida inventado a astronomia, na segunda a medicina, e na terceira a alquimia.
Os escritos atribuídos a Hermes Trismegisto foram reunidos em três trabalhos chamados Corpus Herméticum, Discurs Parfair e Discurs Livre de Ostathas, que são, evidentemente, produtos de diferentes autores, já que apresentam conteúdos doutrinários diversos. De alguma forma, os trabalhos do suposto Hermes concordam com teses gnósticas muito em voga na época, especialmente as ideias defendidas pelo Bispo Valentino.
Essas teses defendiam a ideia de que o universo originou-se de uma energia, que antes de tudo, existia no nada absoluto. Essa energia, um dia manifestou-se no “nada absoluto” através de um nous macho-fêmea que deu origem a um Demiurgo, que por sua vez, produziu os Sete Arcontes que governam os sete céus que constituem o universo material.[2] No oitavo céu reside a Divindade Suprema. O Demiurgo hermético é identificado com o Sol, que é rodeado pelos planetas e responsável por tudo que neles existe. Nesse modelo está claramente exposta a visão do sistema solar, que era o universo conhecido até a época de Galileu, Kepler, Newton e outros cientistas que desvelaram ao mundo as faces do mundo moderno.[3]
A gnose hermética adotou também a idéia essênia do Homem Primordial, o Homem do Céu, como arquétipo do Homem da Terra, um conceito que também é desenvolvido na Cabala. Só que ao fazê-lo, identificaram-no com o mito grego de Narciso, pois “o homem primordial” gnóstico, tendo se inclinado sobre o mundo inferior, viu seu reflexo na água e achou-se tão belo que desceu para contemplar-se mais de perto. Nessa ação foi apanhado na armadilha da matéria e nela ficou retido, revestido de uma forma perecível, ao mesmo tempo em que é imortal em sua essência. Por isso, todas as disciplinas místicas hospedam em suas práticas o mesmo objetivo, ou seja, buscam libertar a luz que foi encerrada na matéria, para que ela, livre das impurezas que a matéria lhe agrega, possa voltar ao centro irradiante que é Deus. [4]
Na maçonaria essa ideia está presente principalmente no ritual de iniciação, onde a Luz é dada ao neófito como resultado do processo iniciatório. A originalidade aqui fica por conta da forma profana (no dizer de René Guénon) que a maçonaria assumiu depois que incorporou motivos políticos e filosóficos aos seus rituais, para adaptá-la às exigências modernas.[5] Essa tendência se expressa no simbolismo de uma frase muito usada na maçonaria, que diz que o maçom deve “levantar templos á virtude e cavar masmorras ao vício”. Com isso quer-se dizer que o objetivo da prática maçônica, hoje, é muito mais moral e ética do que, propriamente, esotérica, no sentido que lhe era dado pela tradição hermética. Em outras palavras, não se trata mais de uma “libertação interior” que proporcione ao iniciado um êxtase espiritual, mas sim de um aprendizado que lhe dê um caráter sem mácula, capaz de fazer dele uma reserva moral para a sua comunidade.
É importante lembrar que algumas tradições maçônicas se referem a Hermes como sendo um de seus fundadores. Essas tradições são mais desenvolvidas no rito de Misrain-Menfis, cujos praticantes entendem ser a maçonaria muito mais uma continuação dos Antigos Mistérios egípcios do que uma derivação de tradições cultivadas pelas corporações de oficio medievais. Para os maçons praticantes daquele rito, Hermes é o deus egípcio Thot, e também o deus romano Mercúrio. Em suas três encarnações ele combinou todos os atributos de um homem civilizado, sendo, ao mesmo tempo, legislador, sacerdote, guerreiro e filósofo, tendo também inventado a escrita e a ciência.
Foram os filósofos gregos do primeiro século cristão que criaram o mito de Hermes e desenvolveram a Alquimia como ciência da natureza. Eles acreditavam na existência de uma sociedade secreta, existente no Egito desde as mais remotas épocas da humanidade, que detinha os altos segredos da ciência, da filosofia e da religião. Essa fraternidade, chamada de “Filhos de Hermes”, tinha sede em Heliópolis e transmitia tais conhecimentos através de palavras de passes, toques, símbolos e métodos codificados de instrução, para evitar que caíssem em mãos profanas.[6]
Segundo alguns autores, essa fraternidade ainda hoje existiria e seria responsável pela manutenção dos mais profundos conhecimentos da civilização humana. Alguns dos segredos retidos por essa fraternidade seria a fórmula de obtenção da pedra filosofal (o sonho alquimico), o elixir da longa vida, a fórmula para ficar invisível, o poder de comunicação á distância (telepatia), etc. Esses, aliás, eram os poderes atribuídos aos irmãos da Rosa-Cruz, que em 1622 cobriram os muros de Paris com estranhos cartazes. [7]
Se existiu ou existe ainda tal fraternidade jamais saberemos com certeza, pois segundo a tradição ela se oculta da publicidade, não coopta mais pessoas que o estritamente necessário, e ainda assim, os cooptados são pessoas especiais, á nível de conhecimento e caráter. De acordo com a Enciclopédia Mackenzie, seus membros são pessoas de vasta erudição, falam diversas línguas, viajam pelo mundo todo, são discretos, simpáticos, humildes na aparência e no trato com as pessoas, calmos e seguros em tudo que dizem e fazem. Passam, muitas vezes, por professores de história, face ao conhecimento que dela mostram, como se tivessem, efetivamente, vivido os acontecimentos.[8]
Pawels e Bergier também parecem acreditar na existência de tal fraternidade. Escrevem aqueles autores: “A idéia de uma sociedade internacional e secreta, reunindo homens intelectualmente muito avançados, transformados espiritualmente pela intensidade do seu saber, desejosos de proteger as suas descobertas cientificas contra os poderes organizados, a curiosidade e avidez dos outros homens, reservando-se o direito de utilizar suas descobertas no momento oportuno, ou de sepultar durante vários anos, ou de apenas pôr em circulação uma ínfima parte-tal idéia é simultaneamente muito antiga e ultramoderna. Era inconcebível no século XIX, ou mesmo apenas há vinte e cinco anos. Mas hoje é concebível. Num determinado plano, ouso afirmar que essa sociedade existe neste momento. Certos hóspedes de Princeton (recordo especialmente um sábio viajante oriental) puderam ter consciência disso.”[9]
Os autores escreveram esse texto no século passado, por volta da metade dos anos cinqüenta. Hoje se sabe que existe um grupo de intelectuais, oriundo principalmente da universidade americana de Princeton que se denomina “os novos gnósticos” de Princeton. Congregam principalmente cientistas atômicos, astrônomos, biólogos e outros próceres da pesquisa cientifica avançada, bem como teólogos e filósofos de vanguarda.
Talvez o autor estivesse se referindo a esse grupo. O que importa, todavia, é apontar a correlação que existe entre a idéia da sociedade secreta e o saber. Essa correlação, como se vê, sempre existiu. Se no passado o saber se ocultava através de práticas chamadas iniciáticas, hoje ele se oculta em fórmulas só inteligíveis a alguns poucos espíritos de categoria. Em qualquer caso, porém, a aquisição desse saber só é possível através da adequada iniciação. O mito hermético, que antes se vinculava a uma idéia de religião, hoje está por trás da ciência mais avançada.
Na nossa opinião, a maçonaria institucionalizada se inscreve nesse domínio, não como portadora de segredos iniciáticos impublicáveis, como diziam possuir os rosa-cruzes, ou conhecimentos científicos avançados, ou ainda verdades filosóficas que devam ficar ocultas dos profanos, mas sim como uma sociedade que “trabalha” tais conteúdos para que eles possam ser transformados em atitudes práticas, resultando em beneficio para a humanidade. Nesse sentido, ela estabelece uma ponte entre a mística e a realidade, ligando os domínios mais sutis do espírito humano á sua consciência, que é onde se formata a imagem exterior do caráter do homem.
Como se sabe, o movimento rosa-cruz está na origem da maçonaria moderna. Por isso, grande parte das alegorias utilizadas nos graus superiores do rito escocês e do Arco Real são de origem hermética, como já se disse. O próprio nome de Hermes Trismegisto é citado num dos graus filosóficos, como legatário dos ensinamentos que ali se desenvolve. Assim, se á maçonaria praticada nas Lojas simbólicas podemos chamar de arquitetura do espírito, á maçonaria dos graus superiores chamaríamos, sem nenhum constrangimento, de hermetismo moral.
Com isso fica mais fácil entender o catecismo maçônico que é, na sua essência, um misto de filosofia com teosofia, desenvolvido com uma finalidade bem prática, que é a dar uma contribuição á sociedade, formando líderes e criando uma base moral na qual ela possa se sustentar na sua busca por um equilíbrio “justo e perfeito”.
[1] Aqui nos referimos especialmente à maçonaria de influência anglo-saxônica, que engloba os dois principais ritos hoje praticados no mundo ocidental, quais sejam, o REAA (Rito Escocês Antigo e Aceito) e o Arco Real.
[2] Um corpo sideral, ou uma espécie de esfera energética semelhante ás que os cabalistas chamam de sefirá, ou se quisermos fazer uma analogia com simbolismos mais modernos, o campo energético que gerou o Big-Bang que está na origem do universo.
[3] Essa visão foi muito influenciada pelas ideias dos filósofos neoplatônicos, que estão na origem do pensamento gnóstico. Nessa visão está inserta principalmente o simbolismo-base da maçonaria, que vê o mundo como um edifício que é pensado por Deus (o seu Grande Arquiteto) e construído por seus agentes, que são os anjos e os homens.
[4]Alexandrian, História da Filosofia Oculta, pg. 60.
[5] René Guenón- Estudos Sobre o Esoterismo Cristão. São Paulo, Ed. Pensamento, sd.
[6] Não é sem razão que o alquimista Fulcanelli dedica seu livro O Mistério das Catedrais aos “Irmãos de Heliópolis”. Na imagem o deus Hermes.
[7] “Nós, delegados da agremiação principal dos Irmãos da Rosa-Cruz, fazemos uma estada visível e invisível nesta cidade, pela graça do Altíssimo em direção ao qual se dirige o coração dos Justos a fim de libertar os homens, nossos semelhantes, do erro mortal”. Citado por Pawels e Bergier – O Despertar dos Mágicos, pg. 47.
[8] Kenneth Mackenzie- The Royal Masonic Cyclopaedia.
[9] O Despertar dos Mágicos- pg. 48.