POETANDO AS SAUDADES
Por enquanto - Nenhum sorriso é, infinitamente, duradouro igualmente as lágrimas não são eternas.
Assim, nada é para sempre:
Nenhuma valsa ou salsa, nem tango... Não importa a festa,
Ou o tempo se de manga, ou de cerejas... Folhas, flores e frutos caem;
Mesmo salada de jiló que amarga dando nó na garganta, semelhante aquele aperto de quando se perde um ser amado – Se acaba, ao fim do repasto;
Nem o que é detestado, o velho, o manco, o sábio, o douto, o rinoceronte, o macaco, o sacerdote, o ignorante, o ambulante, aves e peixes, sem esquecer das paixões e aborrecimentos - Tudo se esvai;
Dias e noites, limitam-se, um ao outro;
Num contínuo renovar a natureza se faz, enquanto uma estação finda deixando saudades outra em cena entra – Mudando a atmosfera;
Ninguém nasce sabendo que as estrelas, também, morrem.
Todavia muitos homens, que sabem que sabe, afirmam que assim como as estrelas os astros, igual, se apagam;
Indo além predizem que a expansão do universo o levará a se finar – Tais humanos, já nem choram.
Mas, ainda que destituídos de lágrimas, devotam-se apaixonadamente às premissas na tentativa de comporem os silogismos.
Por enquanto ou enquanto...
Quiçá o fim seja experienciar o fim na infinitude,
Em cuja perenidade porventura pulsa perfeição e justeza,
Paradoxalmente apresentando-se como medicina efetivamente mais eficaz de modificar paisagens, humores, amores, atores, temores até grandes dores...
Ao fim e ao cabo acaba-se se Poetando as Saudades, quer nas soleiras da vida ou sob os pórticos da morte.