A MENTE UNIVERSAL
Em suas pesquisas sobre a origem do universo a ciência só conseguiu, até agora, chegar ao conceito do “átomo primordial”, ou seja, um “ponto no espaço” tão densamente carregado de energia, que não podendo conter em si tamanha pressão, um dia explodiu.
Por falta de um nome melhor para designar essa “densidade energética dos princípios” que vazou para além de si mesma, deram-lhe um nome ainda mais estranho. Chamaram-na de Singularidade, ou seja, “algo” que explodiu, dando início ao tempo e preenchendo o espaço cósmico com a matéria derivada do imenso potencial energético que esse “algo” continha. E daí a visão científica do nascimento do universo através do fenômeno que eles chamam de Big-Bang, ou a grande explosão.
Essa explosão inicial liberou a energia que estava presa dentro dessa Singularidade. Espalhando-se pelo nada cósmico ela tomou o formato de uma enorme bolha de gás e partículas atômicas que, desde então, se encontra em constante expansão. Nessa visão o universo pode ser imaginado como se fosse uma bexiga cheia de pontinhos luminosos, que está sendo preenchida eternamente; a cada soprada ela se torna maior e os pontinhos se afastam cada vez mais uns dos outros 1)
.
Assim, segundo a moderna ciência, vivemos em um universo em eterna expansão. Essa expansão, todavia, não é aleatória nem descontrolada, porque dentro dele existe uma força que atua em um sentido contrário ao que orienta a sua expansão pelo nada cósmico. É uma força de retração, que está presente em maior ou menor grau em todos os corpos materiais e faz com que suas massas se agrupem e formem compostos e sistemas. Teilhard de Chardin nos dá uma ideia dessa propriedade da matéria universal: “A ordenação das partes do universo tem sido para os homens um motivo de deslumbramento”, escreve ele. “Ora, esse arranjo se revela cada dia mais espantoso, á medida que nossa Ciência se torna capaz de um estudo mais preciso e mais penetrante dos fatos. Quanto mais longe e profundamente penetramos na Matéria, por meio sempre mais poderosos, tanto mais nos confunde a interligação de suas partes. Cada elemento do Cosmos é positivamente tecido de todos os outros; abaixo de si próprio, pelo misterioso fenômeno da “composição”, que o faz subsistir pela extremidade de um conjunto organizado; e, acima, pela influência recebida das unidades de ordem superior que o englobam e o dominam para seus próprios fins.”
(...) A perder de vista, em volta de nós, o Universo se sustenta por seu conjunto. E não há uma única maneira realmente possível de considerá-lo, É tomá-lo como um bloco, todo inteiro."(2)
Portanto, por fora, o universo se forma por dispersão; por dentro ele se organiza pela união. Por fora atua a relatividade; por dentro atua a gravidade. Duas leis que parecem antagônicas, mas que, no entanto, se completam na formação do todo.
Assim, na imensidade do plano cósmico os corpos menores são atraídos pelos corpos maiores e ficam presos em suas órbitas, girando em volta deles, formando os sistemas planetários. Estes, por sua vez, se agrupam formando galáxias, e estas as nebulosas, fazendo do universo uma espécie de organismo, com suas células, órgãos e sistemas.
A força da atração, que se traduz pela lei da gravidade, impede que o universo se torne um imenso caos de forças desordenadas, como se fosse uma manada de bois estourada, correndo em todas as direções. Nasce dessa forma a organização estelar, da mesma forma que a matéria bruta e a matéria orgânica também assim se estruturam para formar elementos químicos, compostos, produtos, biomas, ecossistemas, organismos. É a ordem posta no caos. Ordo ab Chaos.(3)
Nesse particular, o discurso científico não deixa de conter certo esoterismo e na mística contida no discurso esotérico também podemos encontrar fumos de ciência. A matéria bruta é feita de átomos, os átomos se juntam para formar compostos e os compostos constituem a maior parte da matéria universal.
Igualmente a matéria orgânica se forma a partir de células que se juntam para formar moléculas e estas se reúnem em sistemas. Todos com seus domínios e funções, da mesma forma que cada vida, humana ou animal, tem o seu domínio, sua função e sua missão na estrutura do universo. No imenso do espaço cósmico e no ínfimo do núcleo atômico da matéria, fundem-se os domínios da física com os da metafísica para nos dar a compreensão de como o universo funciona e como ele está sendo construído. É uma verdadeira Cosmogênese que se processa, segundo um plano e uma finalidade que talvez nunca cheguemos a compreender, mas que é possível entrever nas leis que regem a formação dos corpos materiais e do próprio fenômeno da vida.(4)
A natureza não faz nada que não seja absolutamente útil. A menor partícula existente na matéria universal cumpre papel extremamente importante nessa formidável rede de relações em que vai se tornando o universo físico que saiu do Big-Bang. Essa rede de relações parece obedecer á um plano extremamente lógico, como se ela estivesse sob o comando de uma Mente Universal que tudo planeja e controla.
Ás vezes temos a impressão de que todos os eventos universais acontecem aleatoriamente, como em um jogo de dados. (5) Mas isso é porque, do nosso limitado campo de visão, nós só temos a perspectiva do imediato. Se nos fosse dado o privilégio de ver todos os desenhos futuros que o tecido universal assumirá, ou no passado todos que já assumiu, então a nossa preocupação seria apenas a de procurar entender o nosso papel nesse processo. Pois, como bem expressa o autor do Fenômeno Humano, nós somos o ápice momentâneo de uma Antropogênese, que por sua vez, coroa uma Cosmogênese, ou seja, somos a espécie mais elaborada que o fenômeno da vida produziu, até agora, dentro de um projeto de vida cósmico, elaborado pela Mente Universal. (6)
Conscientes desse processo, podemos evitar ações que possam causar “defeitos” na urdidura desse tecido, pois embora o universo tenha mecanismos de recomposição para todos os desequilíbrios que nele são gerados, qualquer ação que viola os princípios de organização e desenvolvimento postos na natureza sempre exige um custo maior em dispêndio de energia para realizar uma recomposição. Essa é noção que a Cabala nos dá sobre a finalidade dos conceitos do bem e do mal. O bem é a ação que concorre para a ordem cósmica; o mal, o seu contrário.
A tese de que o universo é uma espécie de tecido único foi expressa na chamada Teoria do Caos, proposta por Edward Lorenz em princípios de 1960. A idéia que está na base dessa teoria é a de que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Quer dizer, essa mudança altera todo o curso dos acontecimentos, tornando-os imprevisíveis, trazendo o caos para o processo. Por isso o nome dado á teoria. Assim, se pudéssemos voltar ao passado e mudar qualquer decisão nossa, por mais insignificante que fosse, essa mudança alcançaria toda a nossa vida futura e consequentemente do universo todo, pois ele teria que se recompor para acomodar o resultado dessa ação modificadora. É o famoso “efeito borboleta”, pressuposto mediante o qual o bater de asas de uma borboleta na floresta amazônica pode provocar, futuramente, um furacão no Texas ou em outro lugar qualquer do mundo. O universo sempre se equilibra no futuro, seja qual for o tamanho do desequilíbrio causado por um evento desconexo, mas nesse esforço ele gasta uma energia suplementar que seria poupada se esse desequilíbrio não tivesse acontecido.
Por outro lado, os livros sagrados de todas as religiões do mundo, sejam elas “reveladas” ou frutos da especulação que o homem faz em busca de uma realidade que está além da sua própria sabedoria, sustentam que o universo começou pela ação de uma Divindade, que de alguma forma, deu início ao mundo, tal como o vemos.(7)
A Bíblia, por exemplo, que é a fonte mais conhecida de uma religião revelada, diz que Deus fez todas as coisas tirando a luz das trevas. E quando viu que a luz era boa, Ele fez o restante do universo com ela. Para os cientistas, como já vimos, o universo teve início com a explosão de um “átomo” carregado de energia, há cerca de uns quinze bilhões de ano atrás. Essa explosão, que pode ser vista ainda hoje, liberou “quantas” de energia, em forma de luz. Nesse sentido, luz e energia são sinônimos do mesmo fenômeno, constituindo aquilo que Teilhard de Chardin chama de “estofo do universo”. (8)
Assim, ciência e religião, no fundo, dizem a mesma coisa: Deus é luz, o mundo foi feito de luz, todas as coisas existentes no universo são condensações de energia luminosa. Inclusive nós mesmos. Por isso temos um espírito, que também é pura luz. E conforme nos ensina a Gnose, a nossa alma é uma centelha de luz (ou energia) presa em um invólucro material. E de uma forma ou de outra, usando diferentes figuras de linguagem, todas as doutrinas trabalham com esse mesmo princípio: a de que somos uma massa corpórea animada por alguma forma de energia.
Essa é uma interessante concepção que nos dá muito que pensar. Mas ela só pode ser expressa através de símbolos, metáforas e analogias. A mente humana cria figuras de linguagem para descrever realidades que a nossa intuição sabe que existem, mas não consegue descrevê-las porque o sistema de comunicação que desenvolvemos não tem elementos suficientes para fazer uma exata configuração delas.
Na verdade, o que seduz tanto os místicos quanto os cientistas é a ideia de que toda a matéria universal tem sua origem em uma forma de energia. No principio do universo ─ nisso tanto a religião quanto a ciência concordam ─, existia apenas a energia da grande explosão do Big-Bang. Nesse estágio embrionário do Cosmos, aquilo que chamamos de massa ainda não havia se formado. Nada tinha peso ou qualquer outra qualidade que pudesse ser identificada como matéria. Todos os corpos que existem, existiram e existirão eram somente uma coleção de partículas subatômicas dispersas, movendo-se à velocidade da luz. Um certo tipo dessas partículas (fótons, elétrons, neutrinos) formavam uma espécie de oceano invisível, um campo energético de infinita radioatividade. Foi na interação com esse “oceano” que certas partículas, como os quarks (que formam basicamente toda a matéria universal, inclusive o nosso corpo), adquiriram massa e vieram a se tornar o que conhecemos como universo físico.
Na força que os quarks fazem para atravessar esse oceano oleoso, dizem os cientistas, é que a massa física do mundo acaba sendo gerada. Isso significa que sem esse “oceano primordial” não haveria matéria. Mais ou menos como diz a Bíblia: “No princípio, ao criar Deus os céus e a terra, a terra era sem forma e vazia, e havia escuridão sobre a face do abismo, e o espírito de Deus pairava sobre a face das águas.”(9)
Cientista é um bicho teimoso. Não importa que sua teimosia seja chamada de pragmatismo, racionalismo, positivismo ou qualquer outro nome que se queira dar a essa mania de buscar prova material para tudo. E para isso leva anos e anos pesquisando e gastando milhões de dólares em recursos para tentar provar aquilo que o espírito humano já sabe desde que o primeiro homem experimentou a sua primeira reflexão: que Deus existe e que é Ele, seja lá o que Ele for − uma entidade ou uma forma de energia − que dá existência a toda realidade cósmica.
Galáxias, estrelas, planetas, asteroides, tudo são condensações de energia, presas por um vínculo de união e organizadas segundo um padrão de estabilidade. Como disse o físico Heisenberg, se a gravidade fosse retirada do universo, a luz também desapareceria e o mundo desabaria sobre si mesmo.(10)
Por seu turno Hawking nos mostra que no universo existem duas forças que regem a sua formação: a força da expansão, que faz com que o universo se expanda na velocidade da luz e a força da contração, que faz com que as massas cósmicas se agrupem e formem os sistemas planetários. Essas duas forças se traduzem em duas leis: a relatividade e a gravidade. Assim, o que hoje se descobre nos laboratórios já estava presente na intuição dos taumaturgos e pensadores do passado. Bastaria uma consulta ao Zhoar, (a bìbllia dos cabalistas) para ver que a descrição do Big-Bang já estava lá com todas suas cores: “No início, quando a vontade do Rei começou a ter efeito, Ele imprimiu signos na esfera celeste. Uma flama escura brotou do fundo do recesso mais escondido, do mistério do Infinito, qual uma névoa formando-se no informe, encerrado no anel daquela esfera, nem branca nem preta, nem vermelha nem verde, de cor nenhuma. Só quando a flama começou a assumir tamanho e dimensão foi que produziu cores radiantes. Pois do centro mais íntimo da flama brotou uma fonte, da qual emanaram cores que se alastraram sobre tudo que estava embaixo, oculto no mistério do ocultamento do Infinito. A nascente irrompeu, e no entanto, não irrompeu através do éter (da esfera). Não era possível reconhecê-la de modo algum, até que um ponto escondido, sublime, raiou sob o impacto do irrompimento final. Nada para além desse ponto é cognoscível, e é por isso que se chama reschit, o começo, a primeira daquelas palavras criadoras, por meio das quais o universo foi criado.” (11)
É muito bom que os cientistas tenham descoberto (se é que de fato descobriram) o DNA do universo físico (que eles chamam de bóson de Higgs). Mas nada disso nos leva á compreensão do que realmente Deus é, e qual o caminho mais seguro e correto para se chegar a Ele. Isso porque o caminho para Deus nunca será desvelado no estudo do que é simplesmente material. Por isso é que a ciência jamais prescindirá da filosofia (e dentro desta a teologia) como ferramenta de investigação dessa parte oculta do universo, que é a sua porção espiritual. Pois como dizem os mestres cabalistas, a nossa mente é "um telefone" com a qual nós podemos nos comunicar com Deus. O único problema, diríamos, nós é discar o número certo, já que há tanta gente ocupada em nos passar números errados.
Mas talvez, se os cientistas não fossem tão teimosos eles já teriam descoberto como o universo nasceu na descrição que o cronista bíblico faz da criação do mundo e assim não precisaríamos gastar tanto tempo, fosfato e dinheiro para comprovar o que a intuição taumatúrgica já sabe desde o princípio dos tempos.
Um respeitado cientista, ao explicar a importância do bóson de Higgs para a formação da matéria universal, utilizou uma interessante comparação: “ele é como a água para os peixes”. (12)
Assim, bastaria observar observar a expressão bíblica que diz, textualmente, que no início “o Espírito de Deus movia-se sobre as águas”. E com isso chegar-se-ia mais fácil á conclusão de que céu e terra (ou seja, o universo) nasceram com o surgimento da luz. Que a luz foi a primeira manifestação da Existência Positiva de Deus (na linguagem da Cabala), e essa luz é o “Espírito de Deus” promovendo a fecundação da vida sobre as “águas primordiais” (o caos de partículas energéticas liberadas pelo Big-Bang).
Tudo isso nos mostra que o universo não é caótico e que Deus não é indiferente ao seu destino. Que existe um processo regulando a sua criação, orientando o seu desenvolvimento. Há uma “Ordo ab Chaos” (uma ordem no caos), da qual participamos, talvez inconscientemente. Por enquanto sabemos apenas que existem duas margens nesse imenso rio que precisam ser ligados por uma ponte. Algumas pilastras já foram postas pelos grandes sábios do passado e do presente. Uma boa parte delas é obra dos mestres da Cabala e da Gnose. Sobre elas caminham os maçons, os rosa-cruzes, os gnósticos, os teosofistas e os cientistas que não perderam a sua espiritualidade. É só andando sobre elas que nós podemos, com muito cuidado, encetar esta nossa aventura espiritual.
O bóson de Higgs-“partícula Deus”- Fonte Wikipédia Fundation.
Por falta de um nome melhor para designar essa “densidade energética dos princípios” que vazou para além de si mesma, deram-lhe um nome ainda mais estranho. Chamaram-na de Singularidade, ou seja, “algo” que explodiu, dando início ao tempo e preenchendo o espaço cósmico com a matéria derivada do imenso potencial energético que esse “algo” continha. E daí a visão científica do nascimento do universo através do fenômeno que eles chamam de Big-Bang, ou a grande explosão.
Essa explosão inicial liberou a energia que estava presa dentro dessa Singularidade. Espalhando-se pelo nada cósmico ela tomou o formato de uma enorme bolha de gás e partículas atômicas que, desde então, se encontra em constante expansão. Nessa visão o universo pode ser imaginado como se fosse uma bexiga cheia de pontinhos luminosos, que está sendo preenchida eternamente; a cada soprada ela se torna maior e os pontinhos se afastam cada vez mais uns dos outros 1)
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Assim, segundo a moderna ciência, vivemos em um universo em eterna expansão. Essa expansão, todavia, não é aleatória nem descontrolada, porque dentro dele existe uma força que atua em um sentido contrário ao que orienta a sua expansão pelo nada cósmico. É uma força de retração, que está presente em maior ou menor grau em todos os corpos materiais e faz com que suas massas se agrupem e formem compostos e sistemas. Teilhard de Chardin nos dá uma ideia dessa propriedade da matéria universal: “A ordenação das partes do universo tem sido para os homens um motivo de deslumbramento”, escreve ele. “Ora, esse arranjo se revela cada dia mais espantoso, á medida que nossa Ciência se torna capaz de um estudo mais preciso e mais penetrante dos fatos. Quanto mais longe e profundamente penetramos na Matéria, por meio sempre mais poderosos, tanto mais nos confunde a interligação de suas partes. Cada elemento do Cosmos é positivamente tecido de todos os outros; abaixo de si próprio, pelo misterioso fenômeno da “composição”, que o faz subsistir pela extremidade de um conjunto organizado; e, acima, pela influência recebida das unidades de ordem superior que o englobam e o dominam para seus próprios fins.”
(...) A perder de vista, em volta de nós, o Universo se sustenta por seu conjunto. E não há uma única maneira realmente possível de considerá-lo, É tomá-lo como um bloco, todo inteiro."(2)
Portanto, por fora, o universo se forma por dispersão; por dentro ele se organiza pela união. Por fora atua a relatividade; por dentro atua a gravidade. Duas leis que parecem antagônicas, mas que, no entanto, se completam na formação do todo.
Assim, na imensidade do plano cósmico os corpos menores são atraídos pelos corpos maiores e ficam presos em suas órbitas, girando em volta deles, formando os sistemas planetários. Estes, por sua vez, se agrupam formando galáxias, e estas as nebulosas, fazendo do universo uma espécie de organismo, com suas células, órgãos e sistemas.
A força da atração, que se traduz pela lei da gravidade, impede que o universo se torne um imenso caos de forças desordenadas, como se fosse uma manada de bois estourada, correndo em todas as direções. Nasce dessa forma a organização estelar, da mesma forma que a matéria bruta e a matéria orgânica também assim se estruturam para formar elementos químicos, compostos, produtos, biomas, ecossistemas, organismos. É a ordem posta no caos. Ordo ab Chaos.(3)
Nesse particular, o discurso científico não deixa de conter certo esoterismo e na mística contida no discurso esotérico também podemos encontrar fumos de ciência. A matéria bruta é feita de átomos, os átomos se juntam para formar compostos e os compostos constituem a maior parte da matéria universal.
Igualmente a matéria orgânica se forma a partir de células que se juntam para formar moléculas e estas se reúnem em sistemas. Todos com seus domínios e funções, da mesma forma que cada vida, humana ou animal, tem o seu domínio, sua função e sua missão na estrutura do universo. No imenso do espaço cósmico e no ínfimo do núcleo atômico da matéria, fundem-se os domínios da física com os da metafísica para nos dar a compreensão de como o universo funciona e como ele está sendo construído. É uma verdadeira Cosmogênese que se processa, segundo um plano e uma finalidade que talvez nunca cheguemos a compreender, mas que é possível entrever nas leis que regem a formação dos corpos materiais e do próprio fenômeno da vida.(4)
A natureza não faz nada que não seja absolutamente útil. A menor partícula existente na matéria universal cumpre papel extremamente importante nessa formidável rede de relações em que vai se tornando o universo físico que saiu do Big-Bang. Essa rede de relações parece obedecer á um plano extremamente lógico, como se ela estivesse sob o comando de uma Mente Universal que tudo planeja e controla.
Ás vezes temos a impressão de que todos os eventos universais acontecem aleatoriamente, como em um jogo de dados. (5) Mas isso é porque, do nosso limitado campo de visão, nós só temos a perspectiva do imediato. Se nos fosse dado o privilégio de ver todos os desenhos futuros que o tecido universal assumirá, ou no passado todos que já assumiu, então a nossa preocupação seria apenas a de procurar entender o nosso papel nesse processo. Pois, como bem expressa o autor do Fenômeno Humano, nós somos o ápice momentâneo de uma Antropogênese, que por sua vez, coroa uma Cosmogênese, ou seja, somos a espécie mais elaborada que o fenômeno da vida produziu, até agora, dentro de um projeto de vida cósmico, elaborado pela Mente Universal. (6)
Conscientes desse processo, podemos evitar ações que possam causar “defeitos” na urdidura desse tecido, pois embora o universo tenha mecanismos de recomposição para todos os desequilíbrios que nele são gerados, qualquer ação que viola os princípios de organização e desenvolvimento postos na natureza sempre exige um custo maior em dispêndio de energia para realizar uma recomposição. Essa é noção que a Cabala nos dá sobre a finalidade dos conceitos do bem e do mal. O bem é a ação que concorre para a ordem cósmica; o mal, o seu contrário.
A tese de que o universo é uma espécie de tecido único foi expressa na chamada Teoria do Caos, proposta por Edward Lorenz em princípios de 1960. A idéia que está na base dessa teoria é a de que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Quer dizer, essa mudança altera todo o curso dos acontecimentos, tornando-os imprevisíveis, trazendo o caos para o processo. Por isso o nome dado á teoria. Assim, se pudéssemos voltar ao passado e mudar qualquer decisão nossa, por mais insignificante que fosse, essa mudança alcançaria toda a nossa vida futura e consequentemente do universo todo, pois ele teria que se recompor para acomodar o resultado dessa ação modificadora. É o famoso “efeito borboleta”, pressuposto mediante o qual o bater de asas de uma borboleta na floresta amazônica pode provocar, futuramente, um furacão no Texas ou em outro lugar qualquer do mundo. O universo sempre se equilibra no futuro, seja qual for o tamanho do desequilíbrio causado por um evento desconexo, mas nesse esforço ele gasta uma energia suplementar que seria poupada se esse desequilíbrio não tivesse acontecido.
Por outro lado, os livros sagrados de todas as religiões do mundo, sejam elas “reveladas” ou frutos da especulação que o homem faz em busca de uma realidade que está além da sua própria sabedoria, sustentam que o universo começou pela ação de uma Divindade, que de alguma forma, deu início ao mundo, tal como o vemos.(7)
A Bíblia, por exemplo, que é a fonte mais conhecida de uma religião revelada, diz que Deus fez todas as coisas tirando a luz das trevas. E quando viu que a luz era boa, Ele fez o restante do universo com ela. Para os cientistas, como já vimos, o universo teve início com a explosão de um “átomo” carregado de energia, há cerca de uns quinze bilhões de ano atrás. Essa explosão, que pode ser vista ainda hoje, liberou “quantas” de energia, em forma de luz. Nesse sentido, luz e energia são sinônimos do mesmo fenômeno, constituindo aquilo que Teilhard de Chardin chama de “estofo do universo”. (8)
Assim, ciência e religião, no fundo, dizem a mesma coisa: Deus é luz, o mundo foi feito de luz, todas as coisas existentes no universo são condensações de energia luminosa. Inclusive nós mesmos. Por isso temos um espírito, que também é pura luz. E conforme nos ensina a Gnose, a nossa alma é uma centelha de luz (ou energia) presa em um invólucro material. E de uma forma ou de outra, usando diferentes figuras de linguagem, todas as doutrinas trabalham com esse mesmo princípio: a de que somos uma massa corpórea animada por alguma forma de energia.
Essa é uma interessante concepção que nos dá muito que pensar. Mas ela só pode ser expressa através de símbolos, metáforas e analogias. A mente humana cria figuras de linguagem para descrever realidades que a nossa intuição sabe que existem, mas não consegue descrevê-las porque o sistema de comunicação que desenvolvemos não tem elementos suficientes para fazer uma exata configuração delas.
Na verdade, o que seduz tanto os místicos quanto os cientistas é a ideia de que toda a matéria universal tem sua origem em uma forma de energia. No principio do universo ─ nisso tanto a religião quanto a ciência concordam ─, existia apenas a energia da grande explosão do Big-Bang. Nesse estágio embrionário do Cosmos, aquilo que chamamos de massa ainda não havia se formado. Nada tinha peso ou qualquer outra qualidade que pudesse ser identificada como matéria. Todos os corpos que existem, existiram e existirão eram somente uma coleção de partículas subatômicas dispersas, movendo-se à velocidade da luz. Um certo tipo dessas partículas (fótons, elétrons, neutrinos) formavam uma espécie de oceano invisível, um campo energético de infinita radioatividade. Foi na interação com esse “oceano” que certas partículas, como os quarks (que formam basicamente toda a matéria universal, inclusive o nosso corpo), adquiriram massa e vieram a se tornar o que conhecemos como universo físico.
Na força que os quarks fazem para atravessar esse oceano oleoso, dizem os cientistas, é que a massa física do mundo acaba sendo gerada. Isso significa que sem esse “oceano primordial” não haveria matéria. Mais ou menos como diz a Bíblia: “No princípio, ao criar Deus os céus e a terra, a terra era sem forma e vazia, e havia escuridão sobre a face do abismo, e o espírito de Deus pairava sobre a face das águas.”(9)
Cientista é um bicho teimoso. Não importa que sua teimosia seja chamada de pragmatismo, racionalismo, positivismo ou qualquer outro nome que se queira dar a essa mania de buscar prova material para tudo. E para isso leva anos e anos pesquisando e gastando milhões de dólares em recursos para tentar provar aquilo que o espírito humano já sabe desde que o primeiro homem experimentou a sua primeira reflexão: que Deus existe e que é Ele, seja lá o que Ele for − uma entidade ou uma forma de energia − que dá existência a toda realidade cósmica.
Galáxias, estrelas, planetas, asteroides, tudo são condensações de energia, presas por um vínculo de união e organizadas segundo um padrão de estabilidade. Como disse o físico Heisenberg, se a gravidade fosse retirada do universo, a luz também desapareceria e o mundo desabaria sobre si mesmo.(10)
Por seu turno Hawking nos mostra que no universo existem duas forças que regem a sua formação: a força da expansão, que faz com que o universo se expanda na velocidade da luz e a força da contração, que faz com que as massas cósmicas se agrupem e formem os sistemas planetários. Essas duas forças se traduzem em duas leis: a relatividade e a gravidade. Assim, o que hoje se descobre nos laboratórios já estava presente na intuição dos taumaturgos e pensadores do passado. Bastaria uma consulta ao Zhoar, (a bìbllia dos cabalistas) para ver que a descrição do Big-Bang já estava lá com todas suas cores: “No início, quando a vontade do Rei começou a ter efeito, Ele imprimiu signos na esfera celeste. Uma flama escura brotou do fundo do recesso mais escondido, do mistério do Infinito, qual uma névoa formando-se no informe, encerrado no anel daquela esfera, nem branca nem preta, nem vermelha nem verde, de cor nenhuma. Só quando a flama começou a assumir tamanho e dimensão foi que produziu cores radiantes. Pois do centro mais íntimo da flama brotou uma fonte, da qual emanaram cores que se alastraram sobre tudo que estava embaixo, oculto no mistério do ocultamento do Infinito. A nascente irrompeu, e no entanto, não irrompeu através do éter (da esfera). Não era possível reconhecê-la de modo algum, até que um ponto escondido, sublime, raiou sob o impacto do irrompimento final. Nada para além desse ponto é cognoscível, e é por isso que se chama reschit, o começo, a primeira daquelas palavras criadoras, por meio das quais o universo foi criado.” (11)
É muito bom que os cientistas tenham descoberto (se é que de fato descobriram) o DNA do universo físico (que eles chamam de bóson de Higgs). Mas nada disso nos leva á compreensão do que realmente Deus é, e qual o caminho mais seguro e correto para se chegar a Ele. Isso porque o caminho para Deus nunca será desvelado no estudo do que é simplesmente material. Por isso é que a ciência jamais prescindirá da filosofia (e dentro desta a teologia) como ferramenta de investigação dessa parte oculta do universo, que é a sua porção espiritual. Pois como dizem os mestres cabalistas, a nossa mente é "um telefone" com a qual nós podemos nos comunicar com Deus. O único problema, diríamos, nós é discar o número certo, já que há tanta gente ocupada em nos passar números errados.
Mas talvez, se os cientistas não fossem tão teimosos eles já teriam descoberto como o universo nasceu na descrição que o cronista bíblico faz da criação do mundo e assim não precisaríamos gastar tanto tempo, fosfato e dinheiro para comprovar o que a intuição taumatúrgica já sabe desde o princípio dos tempos.
Um respeitado cientista, ao explicar a importância do bóson de Higgs para a formação da matéria universal, utilizou uma interessante comparação: “ele é como a água para os peixes”. (12)
Assim, bastaria observar observar a expressão bíblica que diz, textualmente, que no início “o Espírito de Deus movia-se sobre as águas”. E com isso chegar-se-ia mais fácil á conclusão de que céu e terra (ou seja, o universo) nasceram com o surgimento da luz. Que a luz foi a primeira manifestação da Existência Positiva de Deus (na linguagem da Cabala), e essa luz é o “Espírito de Deus” promovendo a fecundação da vida sobre as “águas primordiais” (o caos de partículas energéticas liberadas pelo Big-Bang).
Tudo isso nos mostra que o universo não é caótico e que Deus não é indiferente ao seu destino. Que existe um processo regulando a sua criação, orientando o seu desenvolvimento. Há uma “Ordo ab Chaos” (uma ordem no caos), da qual participamos, talvez inconscientemente. Por enquanto sabemos apenas que existem duas margens nesse imenso rio que precisam ser ligados por uma ponte. Algumas pilastras já foram postas pelos grandes sábios do passado e do presente. Uma boa parte delas é obra dos mestres da Cabala e da Gnose. Sobre elas caminham os maçons, os rosa-cruzes, os gnósticos, os teosofistas e os cientistas que não perderam a sua espiritualidade. É só andando sobre elas que nós podemos, com muito cuidado, encetar esta nossa aventura espiritual.
O bóson de Higgs-“partícula Deus”- Fonte Wikipédia Fundation.
1.O universo em expansão- Fonte: Revista Científica Universal.
2. O Fenômeno Humano, citado, pg. 96.
3. Ordo ab Chaos. Expressão latina que designa o processo de organização que vem ocorrendo no universo físico que saiu da explosão do Big-Bang. Por isso ela é usada na Maçonaria para simbolizar a esperança maçônica de congregar em uma única proposta filosófica todas as diferentes concepções políticas e religiosas, gerando uma ordem social perfeita, que sirva a todos os povos do mundo.
4. Segundo Teilhard de Chardin (O Fenômeno Humano, citado), a evolução do universo físico obedece á duas grandes leis: a lei da união, pela qual as partículas elementares que formam a matéria tendem a se unir para formar átomos e estes se unem para formar os elementos químicos; e a lei da complexificação, segundo a qual essa união vai produzindo compostos cada vez mais complexos, dando um sentido á evolução.
5. É nesse sentido que Einstein disse que “Deus não joga dados”. Que dizer, Deus não constrói o universo aleatoriamente, testando alternativas para ver no que vai dar.
6. Teilhard de Chardin- op. citado pg. 27.
7. Religiões reveladas são aquelas cuja doutrina, supostamente, foram transmitidas aos seus fundadores pela própria Divindade. O Judaísmo, o Islamismo e o Cristianismo são exemplos de religiões reveladas. Já o Budismo, o Taoísmo, o Espiritismo são exemplos de religiões metafísicas, pois seus pressupostos são deduzidos a partir de especulações filosóficas ou de experiências psíquicas feitas pelos seus fundadores.
8. O que Teilhard de Chardin chama de “estofo do universo” é a energia primordial que atua na base de todas as coisas existentes no universo.
9. Gênesis, 1: 1,2. Que se
10. Werner Karl Heisenberg (1901 —1976) físico teórico alemão, Prêmio Nobel de Física em 1932, pela descrição dos princípios da mecânica quântica.
11..Sepher Há Zhoar, I 15, a.
12. O “bóson de Higgs” é a partícula atômica que segundo os teóricos da física nuclear é responsável pelo surgimento da massa física do universo. Essa partícula essencial, apelidada de “partícula Deus”, foi descoberta pelo cientista Peter Higgs em 1964. Em 2013, a existência e atuação desse padrão energético foi observada e comprovada pela primeira vez através de pesquisas realizadas nos laboratórios do CERN (Centro Europeu de Pesquisas Nucleares).