Leitura recomendada: "TCHIN-TCHIN À MONSIEUR BAUDRILLARD...", de ANA VALÉRIA SESSA

Tchin-tchin à Monsieur Baudrillard et ses Cool Memories

(Leitura recomendada pelo Prof. Dr. Sílvio Medeiros)

Autoria: ANA VALÉRIA SESSA

Faz quase quatro meses que Jean Baudrillard morreu. Pouco antes da sua morte, eu estava procurando um livro aqui em casa, quando um deles subitamente caiu da última prateleira. Era exatamente o livro “Cool Memories”, de Baudrillard. Delicioso acaso, pois foi um grande prazer reler esse livro depois de tantos anos, sem contar que estávamos em época de eleições - suas idéias sobre política me extasiaram e me divertiram. É impossível não se deixar contaminar por suas opiniões demolidoras e análises aguçadíssimas da sociedade, as quais, invariavelmente, desestabilizam paradigmas. Um homem contraditório, pois usava a psicanálise em sua análise social ao mesmo tempo em que a criticava. Polêmico -uns o veneravam, outros o tachavam de homofóbico, anti-feminista, elitista e até charlatão. O fato é que em tempos de idéias magras, quase anoréxicas, todos são unânimes em concordar: o mundo perdeu um grande pensador. É preciso rever Baudrillard, para entender o que se passa à nossa volta.

Segundo o referido filósofo, os espetáculos midiáticos (como por exemplo: a visita de George W. Bush) “desaparecem por saturação, disseminação patológica, difusão virótica, proliferação excessiva e caótica, banalização, hiperexposição, visibilidade exagerada e doentia”. Como bem pontificou Juremir Machado da Silva, em artigo para o “Correio Brasiliense”, Baudrillard percebeu o marasmo e o esgotamento da crítica, que se transformou numa queixa moralista de ‘tia solteirona’ , passando a defender uma “teoria irônica”. Esse dissidente da verdade, como ele mesmo se auto-denominava, usou a ironia e o paradoxo como armas para combater a imbecilidade. Um exemplo: “A humanidade espera que a inteligência artificial a salve da sua estupidez natural”.

Como afirma um artigo no jornal “Libération” : " Qualquer que fosse o tema abordado, Jean Baudrillard dizia sempre alguma coisa que ninguém jamais disse. Ele era obcecado, verdadeiramente, por uma questão estranha e inquietante: O que fazer quando os acontecimentos ultrapassam a velocidade dos sentidos ?"

Muitas de suas idéias cabem como uma luva nesses tempos velozes em que a mídia parece ter alcançado um grau quase psicótico, em que as simulações ultrapassam cada vez mais o real, afinal, como o próprio escreveu: " Não estamos mais na era da anomia, mas da anomalia. Não estamos mais na era da virtude, mas da virtualidade".

Basicamente, Baudrillard se apoiava na idéia de uma sociedade que rege o sexual no corpo com a mesma política e economia que rege o valor de mercadoria “...o corpo na atualidade tornou-se um modelo sexual cujo modo de aparição extasia-se pelo consumo.” É bem verdade. Haja vista o número cada vez maior de ‘reality shows’, de celebridades ‘mixando’ insolitamente suas vidas íntimas com pequenos escândalos, sexo e publicidade; com seus pequenos golpes ardilosos, numa luta furiosa para não perder espaço na mídia. Os exemplos são muitos. Ontem mesmo, um amigo e jornalista mandou-me um e-mail com um vídeo de um telejornal norte-americano em que a âncora, leve como um isopor (bem adjetivado por ele!), revoltada, desabafa no ar que não agüenta mais noticiar as baboseiras da (o que é mesmo, que ela é ??? milionária-ex-presidiária ???) Paris Hilton. As máscaras das simulações são trocadas como se troca de roupa para satisfazer o gosto voraz da "arena" virtual.

Desde sua obra "As trocas simbólicas e a morte", até a sua obra mais estruturada como corpus de indagação: "Transparência do mal", as palavras baudrillardianas explodem em gritos, solicitando uma definição do homem contemporâneo que, na visão do filósofo, também está perdido nessa parafernália de proposições e verdades em que não se encontra nenhuma coerência.

Em uma entrevista concedida à revista “Época”, em 2003 quando esteve no Brasil para lançar seu livro “A verdade Oblíqua”, Baudrillard explica como desenvolve as próprias idéias:

"Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo!”

Esse era o francês baixinho e mal-humorado que, como muitos outros franceses, se negava a falar inglês e, mesmo assim, era ovacionado pelas platéias nos EUA; tornou-se ícone da expressão "pós-moderno"; e quando questionado sobre o assunto ficava irritadíssimo:

“Há um mal-entendido em relação a meu pensamento. Citam meus conceitos de modo irracional. Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial. Veja o conceito de pós-modernidade. Ele não existe, mas o mundo inteiro o usa com a maior familiaridade. Eu próprio sou chamado de 'pós-moderno', o que é um absurdo. A noção de pós-modernidade não passa de uma forma irresponsável de abordagem pseudocientífica dos fenômenos".

No filme “Matrix”, o ator protagonista Keanu Reeves guarda seus programas de paraísos artificiais no fundo falso do livro “Simulacros e Simulação”, de Baudrillard. Keanu leu o livro e adorava citá-lo em suas entrevistas, mas Baudrillard não gostava do filme. Dizia que se inspiraram nele, mas não o compreenderam.

Todavia, o que mais me encanta em Baudrillard, tônica dessa crônica quase amorosa, é a sua produção poética. Em forma de aforismos, reflexões filosóficas sempre permeadas de críticas ácidas à sociedade de consumo, sua literatura poética mostra-se dura, severa, mas também, doce e densa. Uma fina arquitetura dos sentidos que capta um gesto, uma piscadela, um cruzar de pernas como o flash certeiro de uma câmera capaz de traduzir num detalhe anseios profundos da alma, no qual o sujeito fragilizado parece sempre permeado por uma certa angústia numa sociedade incerta. Suas observações são de um requinte extremado, sensual e belo, por vezes cruel, cínico, mas tudo permeado por uma estética sedutora.

Sua obra poética condensa-se em: COLL MEMORIES I , II, III, e IV; seus artigos para o jornal “Libération”, além de escritos tidos como não acadêmicos.

A seguir, transcrevo alguns fragmentos baudrillardianos, enfatizando a brilhante “poiesis” que neles repousam:

Cool Memories

Entre aforismos, fragmentos de pensamentos, nada escapava à crítica baudrillariana: capitalismo, guerra, sedução, sexo, morte, clonagem, desejo, terrorismo... :

“É difícil remediar nossa própria tristeza porque dela somos cúmplices. É difícil remediar a tristeza alheia porque dela somos cativos.”

“Nova silhueta urbana: Um homem imóvel na esquina com seu celular, ou girando em torno de si como uma fera resfolegante, falando no vazio sem parar. Insulto vivo a todos que passam. Somente os loucos e os bêbados podem desprezar assim o espaço público e falar no vazio; mas, eles, pelo menos, estão ligados a seu delírio interior. Enquanto o homem celular impõe a todos, que não têm nada a ver com aquilo, a presença virtual da rede, que é o inimigo público nº1."

“Frenesi de indiferença nesses períodos de speed. Como se conjura a aceleração das moléculas mediante uma bebida gelada, é preciso distrair a euforia artificial através do freio da melancolia.”

“A acumulação é um sonho de paralítico. Quando se acelera tudo começa a turbilhonar.”

“A loucura só é obscena por causa da terapia; o deficiente só é obsceno por causa do cuidado que lhe é dado (handicapped is beautiful !) obsceno é o que afoga a crueldade do mal na sentimentalidade do olhar. Obscena é, por excelência, a piedade, a condescendência impudica."

“Há um modo nervoso e um modo langoroso de fazer política, como de fazer amor. O encontro dos dois produz os efeitos mais belos, ou as crianças mais belas.”

"Infelizmente a idiotice típica de nossa época não se diferencia mais da inteligência. Confunde-se com ela. Não é mais inculta; ao contrário, é superinformada, possui a mesma vivacidade reflexa da inteligência artificial. É o grau xerox da estupidez que se confunde com o grau xerox da inteligência."

“O segredo de uma vida está aqui: quantos rostos, corpos, você reconheceria acariciando-os de olhos fechados ? De quem você aceitaria qualquer coisa, de olhos fechados ? Você mesmo já fechou os olhos, conduziu-se cegamente, amou cegamente e pressentiu no escuro o desvio táctil das idéias ?”

...e que prosa poética da melhor qualidade nesse texto em que ele tece com maestria a teia complexa da sedução no universo amoroso:

“Mesmo numa cama muito grande, ela dorme na ponta e seu corpo leve não deixa traços. Não consigo domar esse corpo frágil e distante.

Tenho direito apenas a um breve abraço a longos intervalos, e mesmo assim ela não separa as pernas. Não me beija, não me acaricia. No entanto tem algo de terno, de animal, de rebelde."

"...tudo em seu corpo se defende. Seu próprio modo de falar. A frase se precipita para escapar de você, ela se pontua com um riso leve, agudo, para se colocar fora de alcance, riso de ninfa triste e perolada, de uma jovialidade artificial e infeliz."

"Seu rosto continua virado, ausente sobre o travesseiro, como se alguém a fizesse gozar a contragosto. Dança felina e contraditória para escapar um do outro, particularmente à noite quando os movimentos do corpo acabam respondendo aos outros. Um pé que se move causa uma mudança na respiração do outro, uma eletricidade negativa conecta os corpos mesmo durante o sono....como jurei para mim mesmo não tentar mais nada sem um sinal de afeto, sem uma marca de fraqueza, estamos agora, de fato distantes um do outro, e não a toco mais. Situação original: O primeiro que romper o silêncio se perde, o primeiro que quebrar o espelho perde a face. A situação é de violação impossível e desafio silencioso. Na falta de cena violenta(ninguém percorre dez mil quilômetros para fazer uma cena) estamos desatando um a um todos os fios que nos ligavam sem arrebentar um único que seja. O mais difícil será conduzir até o final essa cerimônia escabrosa, e terminar sem escândalo...Por trás dessa fachada de indiferença, será que sou um monstro de ternura e ela um monstro de sensualidade?”

A crítica ácida à maior forma de poder:

“O carisma político não é exatamente o carisma gracioso que vem do poder irresistível de um objeto puro, como o de uma mulher, mas uma vontade sem graça que tira a sua glória e sua força de uma servidão voluntária. A política continua sendo a alucinação mais evidente de todas as fraquezas da vontade. Pode-se justificar de todas as maneiras a existência dos homens de poder, nada impede que sejam um objeto nefasto, porque aquilo que os justifica e inexpiável.”

Imagens delicadas, quase melancólicas:

“Vi, em sonho, o rosto da servidão. É uma mulher de olhos pesados, azuis, atônitos. As lúnulas de seus seios são assimétricas. Tem sempre um sorriso para os mais pobres e rasteja em direção ao infinito com delicadeza.”

"Eu colocava meus dedos sobre seus olhos como sobre os botões silenciosos de um canal de TV. O que apenas roçamos com os dedos - os olhos precisamente, certas partes do corpo suaves e cegas a sexualidade, que não querem ser nem tomadas nem violentamente acariciadas - onde o sangue aflora sob a pele, onde o sentido aflora sob as palavras. Misteriosa expressão: à flor da pele."

A sagacidade aliada a um delicioso senso de humor que beira o non sense numa sociedade que cultua, acima de tudo, a forma :

“Seu nariz não lhe agradava: entregou-se aos cuidados da cirurgia estética. Sua alma também não lhe agradava: entregou-se aos cuidados da psicanálise. Mas o pior é o seu signo astrológico. Ele gostaria tanto de ser escorpião, Virgem ou Câncer. Qualquer signo que não o seu, porque com aqueles de que gosta ele está sempre em conjunção negativa.

Signo, oh! signo voraz, que posso fazer com meu signo?

Felizmente existe a Clínica Mundial de Lifting Zodiacal, onde se refaz o seu céu e a hora de seu nascimento, não me pergunte como. Dão-lhe um signo novo, é a clínica do destino.

Signo, oh ! meu signo fatal, és tu que mudas e eu não sou nada.

Mas com um destino totalmente novo, é preciso prestar muita atenção. Com um signo novo o transplante é frágil. É preciso tomar muito cuidado com o ascendente, e não muda-lo com muita freqüência. É preciso, sobretudo nunca passear nu sob seu signo.

Signo, oh! signo voraz, tu devoras a sociedade carnívora.”

Sobre Borges

"Borges e sua face cega de mulher asteca, de velho gatuno da metáfora, diante da qual passam sem comovê-lo, sobre seus olhos abertos, os clarões de magnésio. Os cegos parecem manter a cabeça fora d’água. Mas são dotados para a irrealidade e para a astúcia... Ponha um tigre dentro de sua biblioteca e retire-lhe a visão: é Borges..."

O mundinho intelectual e provinciano de ódios e rivalidades traduzido aqui, magistralmente. Quem conhece sabe - É mesmo um verdadeiro porre, não ?!:

"O embaralhamento de ódios, de cumplicidade de escolas,de peripécias de humor faz com que cada átomo do mundo intelectual, que vive num estado de superexposição a si mesmo e à sua má consciência, prefira a si mesmo e deteste os demais. Há aí uma animosidade insondável, mil serpentes venenosas entrelaçadas em vasos comunicantes. O despedaçamento respectivo é o enfeite dessa micro- sociedade, e a prova iniciática exigida à entrada do santuário intelectual é esse contrato de ódio e exclusividade. Paixão provinciana exacerbada pela sofisticação dos meios de expressão. Que certos efeitos desconcertantes de beleza possam vez por outra brotar desse esterco de relações humanas continua sendo um paradoxo miraculoso, resultante de efeitos perversos ou astúcias da virtude"

A mulher é uma constante em seus escritos em que ele parece perscrutar os meandros do mundo feminino com um certo conhecimento de causa:

“Claro que é preciso sonhar com todas as mulheres. Não há uma sequer que não ficaria ferida se um homem não sonhasse com todas através dela.”

Por fim, apresento um trecho bastante interessante do livro “Power Inferno”, o qual reúne artigos jornalísticos publicados na imprensa francesa, após 11 de setembro de 2001.

“Por que, antes de mais nada, as Twin Towers? Por que as duas torres gêmeas do World Trade Center?

...Nova York é a única cidade no mundo a retraçar assim, ao longo de sua história, com uma prodigiosa fidelidade, a forma atual do sistema com todas as suas peripécias. Deve-se, portanto, supor que o desabamento das torres - acontecimento ele próprio único na história das cidades modernas - prefigura a concretização dramática dessa forma de arquitetura e do sistema por ela encarnado. Como pura 'modelização' informática, financeira, contábil, digital, eram o cérebro dele. Ao atacá-las, os terroristas atingiram, portanto, o centro nevrálgico do sistema. A violência do global, também passa pela arquitetura, pelo horror de viver e de trabalhar nesses sarcófagos de vidro, aço e concreto. O pavor de morrer aí é inseparável do pavor de viver aí. Por isso a contestação dessa violência passa também pela destruição dessa arquitetura.

#Q#

Esses monstros arquitetônicos sempre suscitaram um fascínio ambíguo, de uma forma contraditória de atração e repulsão, e, portanto, em algum lugar um desejo secreto de vê-las desaparecer. No caso das Twin acrescenta-se a isso tudo essa simetria perfeita e essa condição de gêmeas, com certeza uma qualidade estética mas sobretudo um crime contra a forma, uma tautologia da forma, que provoca a tensão de quebrá-la. A própria destruição respeitou essa simetria: duplo impacto com alguns minutos de intervalo - suspense que leva a crer ainda que possa tratar-se de um acidente; mais uma vez é o segundo impacto que assina o ato terrorista.

O desabamento das torres é o acontecimento simbólico maior. Imaginem se elas não tivesse desabado, ou que apenas uma delas desabasse, o efeito não seria de modo algum o mesmo. A prova da fragilidade da potência mundial não teria sido a mesma. As torres, que eram o emblema dessa potência, ainda a encarnam nesse fim dramático, que lembra um suicídio. Vendo-as desabar sozinhas, como numa implosão, tinha-se a impressão de que estavam suicidando-se em resposta ao suicídio dos aviões suicidas.”

BIBLIOGRAFIA

Cool Memories I – Jean Baudrillard. Rio de Janeiro: Editora Espaço e Tempo, 1992.

Cool Memories II - Jean Baudrillard. Rio de Janeiro: Estação Liberdade, 1995.

Cool Memories IV - Jean Baudrillard - edição 2002.

Power Inferno - Jean Baudrillard - Editora Sulina, 2001.

Entrevista a Luís Antônio Giron, Revista Época, 7 junho 2003.

Paulo Alexandre Cordeiro de VASCONCELOS. Porque estudar Jean Baudrillard. Site do Projeto Tellus, 2000.

Jornal Libération - Jean Baudrillard au-delà du réel, 7 de março de 2007.

* Para os que se interessarem em ler a obra de Baudrillard, a “Folha de São Paulo”, no “Caderno Especial Mais”, publicou conceitos-chaves do filósofo, os quais abaixo reproduzo:

Sociedade de consumo

Preocupação principal das primeiras obras de Baudrillard: necessidades, forças e técnicas naturais são substituídas por um sistema em que os objetos de consumo dão forma e significado à vida cotidiana.

Pós-modernidade

É definida como o vazio deixado pelo desaparecimento das ideologias e dos limites da modernidade, embora Baudrillard recusasse o rótulo de “pós-moderno”.

Simulacro

Enquanto o mundo moderno era organizado em torno da produção, o mundo pós-moderno é regulado pela reprodução, pela simulação. Diferentemente da imitação ou do fingimento -casos em que a diferença entre produto e realidade se mantém- o simulacro (a TV, a realidade virtual) confunde realidade e ilusão.

Hiper-realidade

É o mundo dos simulacros em que as pessoas vivem, a sociedade de imagens -idealizadas pela TV, rotuladas pelos meios de comunicação de massa e distantes do cotidiano do trabalho- que substitui a sociedade de classes e do trabalho.

Fim do trabalho

Nos anos 70, Baudrillard rompe com o marxismo, que, segundo ele, perde sentido no mundo pós-moderno: o trabalho deixa de ter valor em si, aparecendo apenas como mais “um signo entre outros”, um sinal de status ou modo de vida.

Sedução

Com seus rituais ambíguos, opõe-se ao conceito de “sexual” -este está associado à produção. A sociedade burguesa teria subvertido a ordem original, em que a sedução viria primeiro. Ao tentar resgatar o conceito de sedução, no final dos anos 70, Baudrillard o associou ao feminino, criticando, porém, o feminismo -o que gerou mal-estar no círculo dos estudos de gênero.

Orgia e pós-orgia

A expansão cultural moderna aparece como “orgia”. Baudrillard ressalva não se tratar de liberação, mas de “metáfora da liberação” manifesta na sociedade moderna. A sociedade contemporânea, portanto, viveria a pós-orgia, a reação a essa explosão -uma implosão.

Implosão

Conceito emprestado do canadense Marshall McLuhan (1911-80), nomeia o colapso da diferenciação entre os planos econômico, político, artístico etc. Na sociedade da simulação, a economia e a vida “reais” não se diferenciam mais dos simulacros; a sexualidade permeia tudo.

Transestética

Situação conseqüente da implosão: ao mesmo tempo em que a arte tudo permeia, ela deixa de ser entendida como fenômeno próprio; seu poder de oposição à realidade desaparece, juntamente com suas normas.

ANA VALÉRIA SESSA

SÃO PAULO, 01 de julho de 2007.

http://www.recantodasletras.com.br/autores/anavaleriasessa