Aborto...
Parece que eu escuto ela chorando, gritando pelos corredores, querendo uma resposta, e que ninguém ousa dizer.
Eu fecho os olhos e sinto as lágrimas correndo por uma estrelinha que nem teve tempo de brilhar se apagando.
Parece que eu vejo ela chorando, nenhum abraço consolando, nenhuma palavra acalmando. Parece que eu vejo ele tentando tirar a dor dela, sendo que nem ele estava aguentando. Era uma família se despedindo, dizendo adeus a muitos destes não tiveram nem tempo de dizer "bem-vindo".
Eu me pergunto se ela teve coragem de entrar naquele quarto e ver que não tem ninguém. Sentir aquela dor no coração, aquele nó na garganta, e as lágrimas correndo mais uma vez. Parece que eu vejo ela sentada em um canto perguntando o que aconteceu de errado, o que ela poderia ter feito e não conseguiu.
Está tudo pronto, uma família esperando, um quarto todo azul, um pai que por meses ficou programando partidas de futebol, como seria a primeira bicicleta, quem pegaria mais peixes... Uma mãe imaginando os primeiros sorrisos, as primeiras palavras... o primeiro dia das mães...
Estava tudo pronto, tudo esperando uma criança, um filho... um anjinho que Deus quis que ficasse com ele, no céu. Deixando um pai e uma mãe sozinhos, chorando a dor de ter perdido um filho que por muitos anos foi desejado. E a única coisa que todos sabem dizer é que Deus quis assim... talvez fosse melhor....
----
A dor do aborto espontâneo, sentida por uma família que sempre desejou um filho e que fez tudo certinho como mando o figurino, filho que morreu por uma falha médica, do sistema publico, por falta de orações... o motivo, não importa mais, não pode trazer de volta aquele que se foi.
Sem mais.