Bem, o que é isto, uma questão filosófica para mim?
Bem, o que é isto, uma questão filosófica para mim?
Henrique Jorge da Silva Sacramento1
Fugindo um pouco das normas estabelecidas pelo academicismo costumeiro, de sempre escrever na terceira pessoa, como se eu que descrevo o texto fosse plural, indo de encontro a lógica, procuro aqui, afirmar na primeira pessoa do singular, sou eu mesmo que escrevo, ou seja, que descrevo, o que penso, exatamente aquilo que o tema me propõe a raciocinar. Hoje 27 de Tamuz de 5775 do calendário judaico, ou 14 de julho de 2014, me fez lembrar o que nessa semana vim dialogando com um determinado rabino e demais judeus, sobre uma temática: “Por que no hebraico antigo não existia a ideia do verbo no tempo presente?”. Houve muito discurso redacional caloroso, muita defesa, é lógico a favor do hebraísmo, com o conceito de que os hebreus antigos não concebiam a ideia da existência de um tempo presente pois criam ser esse tempo algo ilusório, não existindo propriamente dito, assim, todas as expressões, em sua gramática e semanticamente expressavam-se ou no passado, ou no futuro. Por sua vez, levei ao grupo as seguintes indagações: “Não foi justamente com a aproximação com o helenismo que houve a modificação gramatical hebraica? ”, ou seja, não foi justamente por se aprimorar que foi possível evoluir? Se o presente não existe, por acaso o passado existe? Se existe, existe onde, ou aonde? E o futuro existe, ou nos é uma possibilidade? Ou quando pronunciamos verbos, sentenças no seu estado futuro, não estamos lançando luz para uma esperança? Pois que é isto tempo? Quando percebo que tempo não é exatamente aquilo que se expressa por uma sentença gramatical, ou mesmo por uma normativa lexical ou por uma regra de sintaxe, dessa ou daquela língua, passo a compreender que de fato por a menor das menores frações de bilionésimos de bilionésimos de segundos o único tempo mais provável que me resta é exatamente esse chamado – presente, tão valorizado no discurso grego. Por isso a questão não poderia vir de outro modo – Que é isto? Aqui o verbo “ser – está”, encontra-se no seu modo presente do indicativo ativo, digo presente e ativo. Quando me deparo com tal questionamento, reflito sobre a envergadura da questão em si, pois a mesma não tenta refletir sobre algo comum, mas sobre tudo a respeito daquilo que por ela mesma já a faz ser para além do objeto em si, pois o agente que é o pensante, passa a arrazoar sobre o objeto que por sua vez é a musa do seu próprio actos intelectum – a própria ação do pensar – como um Cognocit quallis intelctum, sendo o próprio ato de filosofar. E não se filosofa nem no passado, nem tão pouco no futuro, assim como, desde sempre, nos remete os pré-socráticos, só é possível filosofar nesse tempo ínfimo, rápido que nos escapa aos dedos chamado de presente, “pres – ente”, só se filosofa, aqui e agora.
Assim, não poderia deixar de ser, para mim, passa a ser, impreterivelmente, na sua forma categórica, uma questão filosófica só é aquela que desperta a partir do meu presente, questões concernentes a busca pelo sentido do onto, do esse, do ente, garimpando pedras e nela lapidando-as, para ver nas mesmas, o brilho oculto que na ausência das questões, camufladas estão em cada uma delas. Não se faz brilhar sobre o olhar, a sede saciada, de olhos a contemplar a fonte de águas frescas quando com sede se estar, sem que se faça caminhar até à fonte. Da mesma forma, não se empanturra a sede por água sem dela beber, sem saciar o desejo, e não se bebe em outro tempo para a sede saciar que não no tempo presente. Conhece alguém que bebeu água ontem para matar a sede de agora? E há de ser sempre presente, o único tempo que sempre haverá de ser, pois é, e está! Uma questão filosófica, é como a água e a sede, pergunta e resposta, não se cabem, fora do tempo chamado presente, uma questão filosófica, só é filosófica quando a mesma, parte da real necessidade do sujeito em compreender algo como objeto de compreensão. Para mim, nesses dias, uma simples questão verbal hebraica, tornou-se um palco de debates filosóficos, pois penso eu, e defendo o pensamento de que não se pensa, sobre esfera alguma, nem para afirmar ou para negar, ou mesmo comentar, que não seja no tempo presente, meu caro (a) tu lês este texto, que pensa, sobre o que lê, em que tempo faz tal ação? Não é no agora? E se essa ou aquela língua em um determinado tempo não tinha um tempo verbal chamado de presente, o nome para essa falta gramatical se chama: pobreza linguística. Não existirá um tema, que não possa ser pensado no ato filosófico, quando este passa a de fato tanto inquietar o sujeito frente a necessidade que o impulsiona a questionar, tanto quanto a possível resposta que o levará possivelmente a outros tantos questionamentos. Não é outra coisa, do que um ato, uma ação, uma atitude tomada aqui e agora, que não se espera, não se deixa para depois, não é postergada, um ato filosófico é uma ação tão presente que uma só questão, um só tema, pode levar dias, semanas, meses, anos, e não esgotar a maturidade de tal questão, pois o ato presente constante no mesmo é tão presente que não se dá ao luxo de se tornar passado nunca, não é acumulo de saberes históricos, nem tão pouco se dá ao deite de se tornar uma possibilidade futura. Por isso tem que sempre ser pensando aqui e agora. Deve ser esta a razão pela qual o nosso colega já nos escreveu: “Não é possível se banhar no rio duas vezes!”. Se banhe agora... Águas que já passaram não movem moinhos!
1. Bel em Teologia - Faculdade Batista Brasileira; Licenciando do 6º Período (2015) em Filosofia pelo Programa PROCEF da Faculdade de Santa Cruz da Bahia – FSC; Psicanalista Associado a Sociedade de Estudos Psicanalíticos e Hipnoterapia Aplicada – SEPHIA; Pós-Graduado em Metodologia e Didática do Ensino Superior – FSC; Coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão da Faculdade de Santa Cruz da Bahia; Membro da Comissão Permanente de Supervisão e Acompanhamento do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior da FSC – CPSA.