UMA DAS CARAS DA NOSSA SOCIEDADE
O texto a seguir é uma reflexão que nos mostra um aspecto existente na sociedade hodierna. O conteúdo NÃO foi produzido por mim. Ele se encontra no livro “Para Filosofar”. O texto discorre sobre “O amor e a sociedade narcísica”. Eis, portanto, a análise:
“O narcisismo revela a incapacidade de relação amorosa autêntica. O narcisista só se interessa por quem alimenta a imagem engrandecida e envaidecida que ele faz de si mesmo – o eu idealizado, narcísico. Como esse eu não corresponde a nenhuma pessoa real, as relações narcísicas são superficiais e insatisfatórias. O narcisista é contraditório: precisa do outro para manter sua autoimagem, mas não consegue relacionar-se amorosamente com ele.
A sociedade contemporânea, individualista, sem espírito comunitário e dependente do consumo, desenvolve condições para que o narcisismo aflore. As propagandas investem nos indivíduos, alisando-lhes o ego e tratando-os como onipotentes e merecedores de ver todos os seus desejos satisfeitos.
A pessoa se sente engrandecida à medida que adquire e possui coisas. Não admite mais as frustrações da vida, reagindo a elas de maneira infantil e destrutiva. A insatisfação permanente, gerada pela impossibilidade de ter os desejos satisfeitos, segundo as promessas do sistema, torna as pessoas agressivas e violentas. A violência é a outra forma da onipotência.
Na sociedade narcísica, quase não há mais lugar para valores como justiça, honestidade e integridade. Vigora a lei do mais esperto, que procura levar vantagem em tudo. Os membros dessa sociedade comportam-se como se estivessem diante das câmeras, representando, buscando o melhor ângulo, exibindo o melhor sorriso, caprichando na performance, porque outra característica da personalidade narcísica é a necessidade constante da admiração alheia. Os elogios dos outros funcionam como um espelho em que o narcisista vê a sua própria imagem refletida. Tudo nessa sociedade transforma-se em espetáculo, inclusive a política.
O desejo permanente de fama, sucesso e beleza leva os indivíduos a temer e rejeitar a velhice. Por isso, a eterna juventude é glorificada e a velhice, execrada. Envelhecer é crime.
Na sociedade narcísica, as pessoas são vazias, incapazes de relações profundas e verdadeiras. Daí quase a impossibilidade de amor entre elas. Não deixa de ser sintomático o surgimento da expressão ‘ficar com alguém’. Ficar, ao contrário de amar, é o verbo da moda.” (CORD, Cassiano et al. Para Filosofar. São Paulo: Ed. Scipione, 1995. 222 p.)
Esse texto, além de ser filosófico, como se vê, é uma análise psicológica da nossa sociedade. Por que isso? Ora, a Psicologia é filha da Filosofia. Por isso, não há nada estranho no fato de uma reflexão filosófica ser, também, uma reflexão psicológica. As raízes da Psicologia são filosóficas. Além disso, a Filosofia dialoga com todos os saberes, para que possa realizar um pensar sobre o todo, e não apenas a respeito de uma única parte da realidade.