A Estratégia "Olho por Olho"
Caso 1: Durante uns 10 anos fui chefe de departamento na Universidade. Um belo dia, eu soube que uma pessoa estaria trabalhando em outro emprego ilegalmente, pois tinha contrato de dedicação exclusiva com a Universidade. Pedi a abertura de uma sindicância imediatamente. No dia seguinte, a pessoa veio falar comigo e dizer que não tinha idéia de que estivesse fazendo algo ilegal, uma vez que os horários em que exercia os trabalhos eram compatíveis. Expliquei que, mesmo assim, aquilo não era legal. A pessoa disse que já tinha providenciado a sua demissão do contrato ilegal e que não mais faria isso. Respondi então que por mim tudo acabava ali. Creio que ela levou alguns meses para acreditar nisso. Algum tempo depois, ela teve certeza de que eu tinha mesmo acabado o assunto naquele dia. Acredito que agora, apesar de não nos vermos há bastante tempo, nossa relação se firmou mais. Talvez porque passamos a acreditar mais no caráter um do outro. Ela porque percebeu que eu a tinha perdoado verdadeiramente e porque preferiu a minha atitude franca e direta a de outros que a criticavam no corredor, pelas costas. Eu porque percebi que ela era capaz de, tendo errado, admitir o erro, arrepender-se e consertá-lo.
Caso 2: Um colega, com quem eu havia tido uma boa relação anteriormente, passou por mim um dia e acintosamente negou-me o seu cumprimento. Ele estava zangado por algo que eu havia dito em um episódio relacionado à política universitária. Passamos alguns anos sem nos cumprimentar. Eu também passei a lhe negar o cumprimento. Outro dia, num encontro casual, ele veio na minha direção, com a mão estendida. Correu o risco de que eu o ignorasse em frente aos seus colegas. Disse que estava arrependido de ter feito o que fez e que havia agido de maneira infantil. Eu apertei a mão dele de volta e disse que tudo acabava ali e que eu estava contente com o desfecho. Creio que agora sejamos mais amigos. Ele porque pode confiar mais em mim. Eu porque admiro alguém com a coragem que ele teve, demonstrando caráter forte.
Não conto estes episódios para dizer que sou um modelo. Mas, sendo professor, preciso contar que minha atitude é baseada na Teoria dos Jogos, que aprendi e pratico quando me dou conta. E dela obtive sucesso.
A Teoria dos Jogos louva a estratégia “Olho por Olho” que foi comprovada cientificamente por Axelrod, como sendo a mais eficaz estratégia nos jogos humanos e tem quatro regras básicas:
a) Nunca seja o primeiro a trair.
b) Jamais deixe passar uma traição em branco. Revide, se achar que foi traído. Retalie na medida certa e lembre-se da possibilidade de ser um mal-entendido. Não é nada educativo, no entanto, perdoar traições.
c) Recompense a cooperação no ato. Elogie. Devolva a cooperação sempre que puder. É muito educativo premiar a cooperação.
d) Se for traído, retalie logo, mas depois esqueça. Esqueça mesmo.
O contrário do perdão é o rancor. O rancor corrói o rancoroso. O rancor pune o rancoroso. O rancor gera a vingança. A vingança corrói mais ainda o vingativo, que acaba com sabor de derrota depois do ato praticado.
Manter rancor significa manter a pessoa odiada presa numa gaiola, sem direito à liberdade do arrependimento.
Não perdoar não é inteligente, porquanto não é eficaz nem educativo.