INQUIETUDE
Hoje acordei sentindo, parecia uma grande dor, porém não localizada. Sentei-me ao pé da cama, coloquei minhas mãos sobre meu peito, e perguntei ao meu coração. O que você tem? Por que está tão inquieto? Está doente? Fiquei alguns minutos em silêncio, sem resposta.
De repente minha alma começa a ficar inquieta. Perguntei a ela. O que você sente? Por que se atormenta sobre mim? Ela disse-me. Estou inquieta porque você está. Eu sou seu ser invisível. Esqueceu? Você me faz perguntas. Não tenho as respostas. E você fica infeliz. Você se sente tão pequeno, e isso me faz pequena também. Você quer ser diferente, e eu fico triste por você. Você está tão só, e eu vendo esse seu estado, me sinto sem você. Vazia. Sem destino.
Retornei ao meu silêncio por alguns segundos. Tomando a palavra de minha alma, meu coração, meio confuso, se manifestou. Concordo com sua alma! Eu também sinto-me tão pequeno. Estou magoado com você! Incomodado, perguntei. O que foi que eu fiz? Ele respondeu. Você sofre tanto com o mundo, preocupa-se com as pessoas sofredoras, é atencioso, procura ser prestativo, e na maioria das vezes se decepciona. Ama depois sofre, partilha e muitas vezes não vê resultado, e atribui a culpa a mim e à sua alma!
Preciso de curativos! Curativos bons, que produzam efeitos! Curativos? Indaguei. Sim, curativos! Bons curativos! Como assim, bons?
Ele respondeu.
Curativos que estanquem essa sua tristeza, essa sua angústia, essa sua solidão. Que protejam você nos dias frios e nas noites vazias, nos dias de tempestade e nas horas que se sentir só, no seu silêncio. Que além de competentes, sejam grandes, que possam envolver seu corpo como num abraço cheio de ternura, para que sinta-se seguro e amparado.
Curativos que façam você aprender o quanto é especial e amado, mesmo que nunca tenha sentido esse amor conscientemente, muitas vezes, nem mesmo dos seus pais ou familiares. Que não sejam descartáveis, mas que absorvam esse seu sofrimento de maneira sutil e permanente.
Curativos que não tenham efeito eterno. Aqui na Terra nada é para sempre. Mas que cure essa ferida com nome de inquietude. Incurável no seu eu, por querer ser perfeito, fazendo com que sua alma desnorteie-se, e eu sofra em demasia, sem necessidade.
Afinal, aqui na terra, nem Cristo o foi!