Por Um Sentido Na Existência
Por um sentido na existência
Sinto a angústia invadir-me, tomar conta do meu ser.
Quem sou eu? Para que estou inserido no meu mundo? Qual a finalidade da minha existência?
Busco um conforto mais espiritual, uma transcendência religiosa. Deus pode explicar minha existência. Mas de que forma? Sou uma criatura criada e jogada no mundo, isolada de Deus, longe de seu pensamento. Sou apenas uma coisa, vivendo um mistério, sem compreensão ou conforto.
Tenho de aceitar que minha existência é um erro divino, de um ser Onipotente, Onipresente e Onisciente. Não é culpa minha que este Deus seja um Deus fraco, que aceita a morte de inocentes, o sofrimento de quem não tem culpa, o martírio de quem não pode se libertar. Estou fadado a aceitar o fardo divino, de aceitar que esse Deus “escreve certo por linhas tortas”, e que sou apenas um rascunho de um texto errado.
Vejo minha angústia aumentar cada vez mais. A existência e a aceitação desse Deus “coisifica” a minha existência. Sou um simples artefato desse Deus-Artífice lançado no mundo, com apenas duas possibilidades: aceita-lo ou nega-lo. Sou apenas uma criatura já definida, lançada em um Universo pronto, sem qualquer opção.
Isso é um pensamento angustiante. Sou obrigado a arcar com responsabilidades sem poder dominar meu ser, pois sou uma criatura do Criador. Apenas isso.
Preciso mudar de pensamento. Abandono, portanto, todo e qualquer pensamento religioso. Esqueço que sequer possa existir um Deus. Procuro respostas na Filosofia. Encontro o pensamento de Sartre.
O homem não é nada. Eu não sou nada. Sou apenas a liberdade. Liberdade diante das circunstâncias, e cada decisão define meu ser. Portanto, sou um constante fazer-me, de forma que não é possível determinar exatamente o Eu-Sou. Em contrapartida, é possível determinar-se o Eu-Não-Sou, pois o fazer-me diante das possibilidades é um fazer-me constante, enquanto o não-fazer-me é imediato.
Sou, portanto, minha liberdade. Essa liberdade implica responsabilidades. Sartre acha isso angustiante, mas, na verdade, eu acho reconfortante. Sou minha liberdade, e liberdade tal que posso mudar a todo e qualquer instante, e toda a responsabilidade com a qual tenho que arcar é única e exclusivamente culpa minha. Não tenho de arcar com a responsabilidade por coisas que não dizem respeito a mim e minha liberdade. Sou e tenho apenas a minha liberdade e minha responsabilidade.
Finalmente, portanto, encontrei o meu Ser, uma criatura de infinitas possibilidades em um mundo de possibilidades infinitas.
Mas este conforto, porém, não é o suficiente para apaziguar minha alma, pois “ainda que o homem conhecesse todas as coisas, temeria todas elas, pois mesmo na posse de verdades ou certezas inabaláveis, o seu ser-em-si é a mais abalável das coisas existentes.” ¹
Baseado nas conversas com o amigo e filósofo Magno de Souza, e em pesquisas sobre o conceito de liberdade no pensamento do filósofo francês Jean-Paul Sartre.
¹Frase de Magno de Souza.