Do Paraíso Perdido, Pomares e Jardins

Às vezes me vem à idéia de como seria o Paraíso.

Fico pensando em Adão, tal e qual aprendi no catecismo.

O que ele fazia antes de ter sua costela transformada em Eva?

A meu ver ficava lá, vagando pelo Paraíso, comendo frutas que apanhava fresquinhas das árvores. A gente sabe bem o gosto que tem uma laranja recém apanhada e uma que ficou guardada na fruteira sobre a mesa. Céus! A diferença é... , digamos, paradisíaca! E o cheirinho da fruta, então! Hummm!

Será que caçava? Não creio. Não havia necessidade. Tinha alimento para todos os animais, sem disputa, sem confusão. Tenho certeza de que Adão era vegetariano. Ele não matava para comer, certamente. Além do mais ele devia apreciar os sons dos pássaros e mesmo o rugido das feras.

Depois veio Eva e a reprodução. Adão não deve ter acreditado que tudo podia ser ainda melhor!

O simbolismo do fruto proibido deve ter aparecido quando a população da Terra começou a crescer e, então, alguém (por preguiça, creio eu) inventou a divisão do trabalho.

Imagino, numa certa época o seguinte diálogo:

- Vamos fazer um trato: tu colhes as laranjas e eu colho os abacates, depois a gente troca, OK?

- Tá certo, mas quantas laranjas valem um abacate?

- Hum, é mesmo...Tá bom! Vamos inventar o dinheiro, então!

Assim, pelo que dizem os estudiosos da religião, portanto, o Paraíso seria um lugar onde os frutos estariam à nossa disposição, onde haveria Paz, porque não precisaríamos brigar com ninguém pelo alimento. Sobrar-nos-ia tempo suficiente para pensar, criar e amar. Usaríamos todos os nossos sentidos plenamente e trabalharíamos apenas pelo prazer e não por obrigação.

Amaríamos e viveríamos. E respeitaríamos a Vida.

O que seria então o inferno? Um lugar onde não há Paz, onde as pessoas podem ser perniciosas umas com as outras, onde há intolerância, inveja, ciúme, traição? Onde não se ama e não se confia? Onde a Vida não vale nada? Um lugar onde não dá para ser plenamente feliz, afinal. Conheço um lugar assim ...de vez em quando...

Fico pensando: por que nos proibimos de plantar árvores frutíferas nas ruas? Por que só plantamos jardins? Flores pode, laranjas não? Ninguém humano come flores por hábito. A Vida precisa de flores, é claro, mas como complemento estético, ou talvez homeopático. A Vida precisa em primeiro lugar de alimento. As árvores de nossas praças tendem a ser, no entanto, ornamentais. Já perguntei para várias pessoas o que elas achariam de se plantar árvores frutíferas e legumes nas praças públicas. A resposta invariavelmente vem sendo que "as pessoas" iriam estragar tudo. Ou seja. Se plantamos comida "as pessoas" (necessitadas?) as colheriam. Pergunto: e daí? Não sabem me responder. Dão exemplos como: meu pai uma vez plantou goiabeiras e a molecada não deixava nem amadurecer e arrancava tudo. Pergunto: mas eles levavam as goiabas verdes para casa para amadurecer e comer depois? Não sabiam me responder. Em Santa Catarina parece que plantam alimento nas ruas, em algumas cidades. Não ouvi notícias de revoluções por lá por causa disso. Plantar girassóis será permitido até que alguém descubra que dão uma excelente sopa (calma, isto é uma metáfora!!). Margaridas sim, tomates não!

A verdade parece ser que não podemos admitir que "as pessoas" não trabalhem para comer. Negamos o Paraíso a nós mesmos.

A Natureza nos dá o alimento quase de graça, só precisamos respeitar suas leis - que incluem trabalhar um mínimo para preservá-la.

Amar aos outros é uma escolha nossa.

Poderíamos viver e amar, como no Paraíso perdido.

Ora, quem inventou o inferno fomos nós!