O CULTO Á LUZ
 
Então disse Deus: que a luz exista!
A luz surgiu e era de fato tão bela,
Que Ele decidiu que faria com ela,
Todas as coisas que tinha em vista.
 
E no vazio cósmico ela foi lançada.
Como um jorro de esperma divino,
Quando fecunda o útero feminino,
A criança-universo foi engendrada.
 
O mundo é um coração que pulsa, 
Espalhando pela imensidão etérea,
A vitalidade dessa energia expulsa.
 
Nossos Mestres dizem a verdade:
─ Um espírito, livre da sua matéria,
É como luz brilhando na eternidade!

                                               
 
“ Deus (disse o rabino Schimeon), quando quis criar, velou sua glória e nas pregas desse véu projetou sua sombra.
“ Dessa sombra se destacaram os gigantes que disseram: ─ Somos reis ! Mas não eram mais que fantasmas.
“ Eles apareceram porque Deus havia se ocultado, iniciando a noite dentro do caos, e desapareceram quando dirigiu para o oriente a cabeça luminosa, a cabeça que a humanidade assume proclamando a existência de Deus, o sol regulador de nossas aspirações e pensamentos.
“Os deuses são ilusões óticas da sombra e Deus é a síntese dos esplendores. Os usurpadores caem quando o rei ascende ao seu trono e quando Deus aparece os deuses se desvanecem.”[1]
 
A ideia de que Deus é luz e o que o espírito humano é feito de luz é uma intuição bastante antiga que já existia nos tempos mais primitivos da civilização humana. Os persas e os hindus, em tempos anteriores a Zaratrusta (século XII a.C), já possuíam uma noção bastante avançada desse conceito, pois sustentavam a existência de dois princípios a reger a vida no universo. Esses princípios eram a luz, representada pelo deus Marduc (Ahura Mazda) e as trevas, representada pelo deus Arimã. Paralelamente, numa tradição que tem, provavelmente, a mesma idade que a tradição religiosa persa, os egípcios, igualmente, desenvolveram uma teogonia com base num conceito similar, que colocava o deus Rá, simbolizado pelo sol, como a divindade suprema do seu panteão, a quem estavam submissas todas as outras deidades. Os povos da Mesopotâmea também colocavam o fenômeno luminoso, representado pelo sol, como princípio gerador de todo o universo. Destarte, todos seus deuses tinham vindo do espaço, sendo Shamash aquele que representava o sol. Assim, praticamente, todos os povos antigos desenvolveram religiões solares, onde o astro-rei aparece como origem e mantenedor da vida. Nem os israelitas, que sintetizaram a noção da divindade num conceito abstrato, de um Deus- espírito que não podia ser representado por nenhuma forma que a mente humana pudesse imaginar, escaparam da tradição de que Deus é, em essência, energia que se manifestou em forma de luz. Assim, o primeiro ato de Deus, ao fazer o mundo, segundo a Bíblia, foi “fazer a luz”. E quando quis se manifestar a um ser humano, Ele o fez na forma de uma chama, ou seja, uma forma luminosa.[2]   
Ora, o que é “fazer a luz?” Certamente não é fabricar a luz, pois fabricar sugere uma ação de transformação de uma matéria prima em produto. A Bíblia diz que Deus “tirou” a luz de dentro das trevas para com ela formatar as realidades universais. Os cientistas dizem que o universo saiu de dentro de um átomo que explodiu. Nem a Bíblia nem a ciência dizem o que havia antes disso e o que era Deus antes de fazer o universo. Mas para algo sair de dentro de alguma coisa é preciso que ele tenha uma existência anterior ao próprio parto. Não pode simplesmente “nascer” algo que não tem existência anterior ao nascimento, sendo o nascimento apenas o ingresso de alguma coisa na esfera da existência positiva.Nascer é uma etapa que é posterior a gerar. Só pode nascer algo que foi gerado.
Por isso o mestre cabalista diz que “ Deus, quando quis criar, velou sua glória e nas pregas desse véu projetou sua sombra”. Isso quer dizer: Deus existia antes de sua criação. Ele era a luz presa dentro da própria sombra, o imenso Caos.[3]  “Dessa sombra se destacaram os gigantes que disseram: ─ Somos reis ! Mas não eram mais que fantasmas.”
Estes eram as leis naturais, que se manifestaram no abismo sombrio, mobilizando a imobilidade, para que a energia se manifestasse. Por isso, um iminente cabalista, ao responder à pergunta de um discípulo sobre o que era Deus, ele disse simplesmente: "Deus é pressão". E a isso os cientistas acrescentam: o universo saiu de um ponto no espaço, tão denso, que não podendo conter em si tamanha quantidade de energia, explodiu. Essa explosão foi o Big-Bang, o começo do universo.
E aí o mestre cabalista diz: “ Eles apareceram porque Deus havia se ocultado, iniciando a noite dentro do caos, e desapareceram quando dirigiu para o oriente a cabeça luminosa, a cabeça que a humanidade assume proclamando a existência de Deus, o sol regulador de nossas aspirações e pensamentos.”
Sim. As leis naturais existem e regulam a vida do universo enquanto Deus não interfere nelas. Elas foram necessárias para regular o caos liberado com a manifestação de Deus (a energia) no terreno da existência positiva. Todos os cientistas concordam que o universo nasceu caótico e descontrolado. Como a energia de uma bomba que explode e expele a sua força destruidora para todos os lados. Mas quando o universo começa a ser organizado, quando a energia começa a se transformar em massa, gerando os grandes corpos e sistemas siderais, todas as leis naturais passam a obedecer a um comando único: a gravidade. Esta é a força da energia que existe em cada corpo celeste, e controla os movimentos de todos eles. Então estrelas se juntam em galáxias, e os planetas se aglomeram em volta de estrelas.  É a prevalência da luz maior sobre a menor, a luz mais forte sobre a mais fraca.  Nasce então o simbolismo da deidade máxima, simbolizada pelo sol, que os antigos cultuavam. E a ordem se faz no caos.
Então conclui o mestre: “Os deuses são ilusões óticas da sombra e Deus é a síntese dos esplendores”. Os usurpadores caem quando o rei ascende ao seu trono e quando Deus aparece os deuses se desvanecem.”
Quer dizer: nada ofusca o brilho de Deus. Não há poder no universo que não seja dado pelo brilho da sua luz. E como ele é pura luz, a ele só nos integraremos quando nós mesmos formos luz.
Essa é razão pela qual toda iniciação busca, simbolicamente, levar o candidato a um estado em que ele possa, livremente, liberar a própria luz que nele está contida, "interdita" pela condição de profano em que ele se encontra. Dai as perguntas contidas no Ritual de Iniciação maçônica que se refere ao "temerário que tem o arrojo de querer forçar a entrada no Templo" e a consequente resposta que diz tratar-se de "um pobre candidato que caminha nas trevas e, despojado de todas as vaidades, deseja receber a Luz". E por fim, a apoteose final da iniciação, que revela o cerne do simbolismo contido nesse verdadeiro culto á luz, que se pratica na maçonaria.
VM:- no princípio do mundo, disse o Gr
.'.Arq .'. do Univ.'.:
- Faça-se a luz
.......
E a Luz foi feita
.......
A Luz seja dada ao neófito


T .'.F .'. A.'.
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notas

[1] Comentários do Rabi Schimeon Ben-Jochai, o codificador da Cabala, sobre a Siprha Dizeniûta, o Livro do Mistério Oculto, a bíblia cabalística. Citrado por Eliphas Lévi, em sua obra As Origens da Cabala -Editora Pensamento, São Paulo, 1968.
[2] Exodo, 3:3
[3] Por isso a expressão “luz interdita” que se refere ao fenômeno luminoso associado á uma partícula atômica de alta radiação.