MAIS UM TANTO DO ASSUNTO "COTAS"

Caro Durval Carvalhal

Algumas imagens transmitidas pela TV sobre o andamento do Enem mostram claramente a diferença de classes. Não porque os brancos assim o queiram, mas não vi, naquele grupo de alunos adentrando os portões do colégio, onde seriam dadas as provas, um negro sequer. Vamos refletir sobre o assunto!

Porque deveriam ser presenteados com "cotas" em Universidades, se não frequentam os cursos básico e médio? Essa seleção é feita pela sociedade? É estimulada pelo governo?

Deveriam, pelo menos, estar presentes no Enem um contingente de negros, índios e pardos na ordem de 23%, para mais ou para menos, de representantes de um contingente de 43% da população representativa. Mesmo assim não se justificariam as cotas, pois tanto uns como outros estudaram nas mesmas Escolas Estaduais. Os brancos também frequentam as escolas públicas - digo tudo isso referenciando os pobres em geral. Se nem eles mesmos, os pais, se preocupam com a educação formal dos filhos, preferem colocá-los a trabalhar para ajudar no sustento da família, qual será o sentido das cotas? Cotas em Universidades para uma parte do povo que não se interessa pela educação? Por que o empenho, se o governo distribui a eles, os negros, pardos e índios, "cestas básicas" para manterem seus filhos menores em escolas públicas e eles, os país, não se empenham em colocá-los em sala de aula, precária ou não, que seja? A sociedade tem que pagar por isso? Qual é a lei universal que obriga o negro a se alijar desta forma? A exigir que todas as suas necessidades sejam compensadas pela sociedade pelo fato de terem um passado de submissão e maus tratos? Os brancos também lutaram pela posse das terras brasílicas, nos primórdios do Brasil. Também os brancos tiveram suas casas saqueadas, suas mulheres estupradas, suas crianças devoradas por índios. Todos tiveram dificuldades de adaptação aos costumes da terra, passaram fome e dificuldades de toda a ordem.

Foram todos homens corajosos, mulheres batalhadoras, sofreram nas mãos dos poderosos. Mas o tempo passou e a sociedade foi se adaptando aos novos costumes. Mudou. A terra é redonda e não sai de seu eixo. Caminhamos para frente e sempre no sentido horário. A sociedade mudou e com a sociedade os homens e mulheres, negros, imigrantes europeus, pardos e brancos.

Vamos sempre pra frente. Não precisamos de cotas. Somos todos cidadãos perante a Lei. Embora nada mais possamos fazer, no momento, a Lei já foi sancionada, podemos, após os resultados desse despautério, esperar modificações, por homens lúcidos e bem preparados.

Aproveitando a oportunidade, quero emitir minha opinião a respeito do Dia da Consciência Negra. Verdadeiro paradoxo! Não precisamos lembrar ao negro, num dia específico, os seus direitos à cidadania. Eles estão entre nós, vivem em nossas famílias, no trabalho, nas festividades, nos feriados, nas praias, nos aeroportos, nos eventos culturais, nas academias. São cidadãos brasileiros, pagam impostos escorchantes, como os brancos, dão à luz nos hospitais dos SUS ou particulares, como os brancos. Vão à escola e frequentam Universidades e Faculdades, como os brancos. Só precisam “batalhar” por isso, como os brancos. Creio que, “no andar da carruagem”, deveremos ter também o Dia da Consciência Branca.

Entramos em um novo milênio. No Brasil não existe racismo. O que existe é muita pobreza, ignorância, mau uso (ou desuso) da terra, descuido com a saúde, desperdício, mau uso da água potável, indiferença com o ensino das crianças, cultura da sujeira, lixo nas ruas e dentro de casa (quando as há), indiferença com os velhos e desrespeito com as crianças. Essa é a cultura de brancos, negros, pardos e índios em nosso país.

Vamos analisar e refletir sobre o assunto com fatos e não com demagogia. A democracia nos dá o direito de sermos demagogos, mas não nos obriga e nem nos impõe o dever de aceitá-las.

Faz-se urgente a consciência de cidadãos brasileiros, lúcidos, professores, doutores, sociólogos, psicólogos, médicos e interessados no desenvolvimento intelectual, moral e de costumes dos brasileiros da classe pobre e miserável (ainda os há e em grande número) e de nenhuma educação formal ou social, lutar de todas as maneiras possíveis contra a praga da demagogia. Vamos lutar com as armas que temos: a palavra escrita, falada, informatizada, mediática, gestual, a que se fizer necessária. Essa será uma boa luta. Colocar no Ministério da Educação homens preparados para o empreendimento de urgência urgentíssima é a melhor medida. O Ministério da Educação não deve ser um alojamento de políticos mau preparados para enfrentar a modificação que mudará a face do Brasil: a Educação. Modificar a estrutura educacional brasileira é um trabalho hercúleo. Somente a classe acadêmica de homens e mulheres, negros ou brancos, interessados em mudar a história do Brasil, poderá levar a bom termo essa questão.

Ainda espero ver a modificação da estrutura educacional. Vou torcer muito, até lá!

Esturato

05 de novembro de 2012.

Esturato
Enviado por Esturato em 05/11/2012
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