dor.
É uma falta que enche, um silêncio que ensurdece. Deve ser um reclamo da alma, o coração afligindo a perda do que se faz presente. Tenho saboreado palavras, ditado alguns sentimentos, falado voz de mudos e ouvindo sons de surdos. Procuro sensações extraviadas, verdades desguaritadas e tudo que encontro dentro é uma sujeição, um matrimônio entre dependência e pânico. A vida escorre entre os dedos, num piscar transpõem e cruza o impassível, é o sinal de que o fim galgou antes de nós mesmos. Já não sentimos calor, nem é frio, apenas atinamos para o morno. Evocamos as velhas memórias e por essa analogia de formas, ainda temos o ensejo de gozar boas emoções vividas ou simplesmente permanecidas. Alguns desfrutam o gosto amargo da colheita, outros orgulham-se pelas sementes bem sucedidas... São as escolhas, a conjectura das atitudes e sua hostilidade perante as injustiças, a postura, os gestos...lá vai.
Poupar meias palavras, quero inteireza, crua sem rodeios falar ou desabar. Por instante, esquecer... Falar como anjos, bons amigos...simplesmente, humanos.
Buscando tudo e nada, correndo parada, cheia de um vazio. Estar na pele é horrível, mas habitar a alma é pior ainda. Dá vontade de cavar um buraco e sair do corpo.
O coração já não pulsa, dentro lateja aflição. Apela as formas de expressões de ousadas às cabíveis. Grita e brada o desejo inconsolável e desolado de quem quer e merece paz. Alguém que pôs a vida à troca de amor a quem quer fosse, ofertou a própria satisfação para conceder uma GOTA de ternura em um OCEANO de ódio. Às vezes clamo para que qualquer anjo de plantão venha me salvar, resguardar meu peito, e não deixar que orbitem estes demônios e trajem de sépia os coloridos que tanto demorei a pintalgar. Imploro para que tutele minha mera alma, arranque a dureza que o mundo deposita e que não é MINHA, e se não for possível, que saque meu coração, pois de crueldade não quero viver. Quero ser criação, verdade, SER, acreditar que ainda há esperanças e que o mundo não é tão estragado, que é somente o meu ângulo.
Peço incessantemente que me aconchegue em braços confortáveis , me bote a dormir, e que diga que tudo vai ficar bem. Num silêncio ensurdecedor, num vazio abarrotado e farto de veneno, eis que procuro a minha dignidade. Quero palavras mais simples, quero frases mais curtas, quero sentimentos menos complexos, e agora uma passagem mais breve. Dentro de nós muitas vezes ainda vive o mortal, a gente alimenta todo dia sem culpa por necessidade da alma. Incompreensível - pelo menos para mim - um dia pessoas fazem parte das nossas vidas, referenciam nossos passos, no outro, fazem parte da nossa saudade e vivem apenas nas lembranças. E sem possibilidade de escolha. Algo superior ao domínio da razão, e até os menos emotivos, se comovem pela afeição numa espécie de mágica milagrosa.
A vida me deu as rédeas, mas tirou os trilhos. Sem piedade e nem sinal de condolência, leva a união que fez de mim essa pessoa, o conjunto de sentimentos que moldou com afeição a minha essência. Sem direito a despedidas festivas, apenas lágrimas, derruba meus referenciais, e joga para cima de mim, sem aviso prévio, toda responsabilidade, e a cruz nas costas.