O cortiço de 1890, de Aluísio Azevedo, é uma visualização geopolítica da sociedade?

O desenho descritivo-narrativo entre a casa grande e o cortiço evidencia a desigualdade topográfica da sociedade de fim-de-século XIX, o que deslocado como modelo, dentro de sua limitação epocal, pode conter interessante crítica à sociedade capitalista ainda tão desigual na relação entre classes e a mobilidade social atrelada ao mundo contemporâneo.

A visualização geopolítica da sociedade atual tem em sua condição econômica e a corrupção um bom indício para afirmar que ainda a concentração de renda está na mão de poucos, enquanto muitos ainda vivem na miséria.

Essa situação é escandalosa e perversa à medida que a fome e o desemprego ainda são realidades que minam as relações sociais, enquanto os políticos e ricos esbanjam status quo e fortunas inconcebíveis. Enquanto continuar esse quadro nefasto, a sociedade estará doente e marcada pela injustiça social estrutural.

Há modelos de sociedade alternativa de superação do modelo capitalista. Crê-se que não foi em vão a descrição de Aluísio Azevedo quanto à denúncia dessa situação insuportável e desumana, ainda que legamos em pleno século XXI.

Superando a visão zoomórfica do cortiço como "viveiro de larvas sensuais" ou condicionado pela tropical sensualidade que justificaria a corrupção e exploração das Américas pela Europa, pode-se propor uma outra leitura que se afaste dessa estereotipia ideológica. O modelo naturalista não nos convence mais, o mundo global e neoliberal exige novos instrumentos de análise hoje.

Por isso, a topográfica visualização geopolítica de deslocamentos e exílio intelectual, a máquina global da imigração e confinação de capital ainda nas nações do primeiro mundo, a corrupção do pode em toda parte, são sinais gritantes que a distância entre enriquecidos e empobrecidos não pode continuar.

Precisamos de superar os modelos econômicos e gestão social do mundo global, para ir além da corrupção e melhorar as condições das populações que estão mergulhadas na pobreza, na fome e no desemprego estrutural.

Os tipos João Romão, dono do cortiço, e Miranda, dono do sobrado, evidencia a corrupção e a luta do poder ao longo da colonização do Brasil. Essa mentalidade ainda perdura na pós-modernidade. Os figurinos estão aí e há gente que quer uma sociedade diferente.

Vale lembrar Machado de Assis, que superou as expetativas de sua época e do realismo enquanto estilo de literatura positivista para ir na direção de ironizar a hipocrisia e o modelo de sociedade carioca em que estava inserido.

A ascensão social não pode congelar as sociedades alternativas e a busca real de superação da corrupção tão terrível entre nós.