Traga Flores
Chegue, me dê um beijo na testa, reclame do trânsito, do dia cansativo, do calor lá de fora. Mas não reclame da tempestade em copo d'água que eu fiz esta noite. Traga flores. Com espinhos, com terra, com insetos. Compradas na floricultura ou roubadas de um jardim qualquer. Só as traga. Vá até a cozinha, pegue o jarro que ganhamos anos mais cedo. Coloque água até a metade e deixe na cabeceira da nossa cama. Mesmo eu dizendo que não gostei e te mandando tirar. Traga-as. E deixe-as num lugar perto de mim. Diga que me ama mesmo que eu não responda. Pareça se importar comigo mesmo quando eu fingir que não quero que se importe. Mas se eu chorar baixinho, finja que não viu. Não insista em me tocar ou fazer as pazes. Não me acuse de injusta, ingrata, grossa. Mesmo que tenha razão, o que eu não duvido que tenha. Mesmo que seja isso que eu mereça e você esteja doido de vontade de fazer. Eu vou deitar, me cobrir, virar para o outro lado do quarto (o lado que você não está) e vou fechar os olhos, sentir um pouco das lágrimas me queimando. E quando achar que foi o suficiente, vou secar meu rosto, esperar um pouco, virar para você e olhar o quanto você é especial e pensar no quanto eu esperei por você. E vou olhar pras flores e enquanto eu as estiver olhando, venha até mim, dê-me outro beijo na testa e me abrace, por que nenhum lugar no mundo é mais seguro do que dentro dos teus braços. Não se esqueça das flores. Quando as nossas carnes se unirem, eu vou querer olhar pra elas.