Dormindo - um breve ensaio filosófico (26.09.11)
As estrelas. Desde o primeiro homem que olhou para o céu, às estrelas. O grande mistério dos índios, dos maias, dos astecas, dos nórdicos, dos povos do egeu e do mediterrâneo. As estrelas traziam perguntas. Depois, trouxeram medo - muitos povos acreditavam que o céu estava caindo sobre nossas cabeças. Outros criaram triângulos imaginários, desenhos, constelações… para tornar o mistério menos intocável.
Uma grande metafísica do céu. Enfim, a humanidade chegou em um consenso - o céu era belo. E devia ser adorado, cantado em poemas, comparado às musas e atribuído aos deuses. Grandes escritores, grandes poetas, grandes pintores e até intelectuais apoiaram essa posição quase que ideológica.
Ainda sim, uma grande metafísica do céu. Séculos e décadas se passaram, até surgir uma pergunta elementar: por que não? o céu era a saída, o lugar intocável que devíamos querer chegar, de qualquer forma, precisávamos conhecer - como precisamos, claro, de tanta coisa. Sem razão, o céu se tornou o refúgio do homem - onde o homem não era mais homem, mas era deus. Deus sobre a lua, deus sobre Marte, deus sobre os planetas e estrelas de toda a galáxia. E, desde os anos 50, não só uma galáxia. Uma extensão infinita e bela de vazio - onde um desprezível ser complexo de carbono, que existe a cem mil anos em um planeta na periferia de uma galáxia bastante típica se põe a frente de quasares de 13 bilhões de anos.
Sem mais metafísica, o céu era nosso. Vendemos, compramos… e invadimos. Procurando um refúgio, um conforto, uma cadeia de carbono a N anos-luz. E, ao contrário da expectativa natural, em que nos satisfaríamos com o descoberto, não: queríamos o impossível. E conseguimos o impossível. Vimos toda a galáxia, mapeamos o movimento dos braços, o caos do bojo, o cíclo das estrelas, suas velocidades, vímos outras galáxias, não vimos buracos-negros, enfim, nos fascinamos com o nosso imenso vazio. Esse preto infinito com pequenos pontos amarelados. O que poucos sabem é que o céu não é como as fotos maravilhosas do Hubble, Kepler, SALT, ou o que for. Não existem sobre nossos olhos tão limitados essa imensidade de cores, de brilho, de beleza nesse céu azul. Triste dizer isso, mas nossa visão ótica precisa de combinações de espectros conhecidos que extrapolam o que podemos fazer sem a ajuda de um computador e de sobreposição de imagens. O céu é uma imensidão preta, com borrões vermelho-amarelados. Ninguém veria mais que isso se viajasse pelo espaço com seu próprio corpo. Somos apenas estruturas complexas de carbono - vemos tão pouco, conhecemos tão pouco, vivemos tão pouco. Nosso refúgio não deveria ser o céu, mas a terra sob nossos pés. Não deveríamos buscar o céu, mas fugir dele. Fugir dessa monotonia, dessa extensão de 13 bilhões de anos luz sem sentido algum. Não estamos nem dentro, nem fora, mas estranhamente, atipicamente, sobre uma superfície. Ainda sim, a verdade é que o porquê do céu é o homem perguntando o porquê da Terra. Estamos, talvez, nos prevenindo de fazer abertamente as perguntas cuja resposta tememos e, ainda sim, cada vez temos mais certeza que as respostas não são as que gostaríamos de encontrar. Queremos ser mais do que pó de estrelas supermassivas.