História Nova do Brasil: a república para nossas escolas
O advento da república
História Nova do Brasil, Volume 4, pág. 49 a 99
Editora Brasiliense
A República resultou das lutas travadas pelos grandes contingentes urbanos das camadas médias apoiadas por todos os setores populares da nação, da burguesia nascente e fração do latifúndio do café que abandonara o trabalho escravo.
Os Senhores de terras, uns ligados de há muito ao trabalho assalariado e que lutaram, portanto, contra o Império, pela Abolição, não mais apoiaram a Monarquia, vindo a participar da nova política de governo; outros aferrados que estavam ao trabalho escravo e servil, não tinham forças para resistir: estavam impotentes. Compor-se-iam, mais tarde, para afastar “os excessos do republicanismo” e tentariam um golpe de Estado, ainda com Deodoro. Conseguiram dar início, com o Governo Prudente de Morais, ao domínio das oligarquias.
A participação da burguesia, pequena porque limitada era sua força na época, permitiu que usufruísse do poder. Nessa linha estão as emissões, de Rui Barbosa, no Ministério da Fazenda, possibilitando crédito e incentivando a formação de companhias, e a revogação do empréstimo imperial aos latifundiários como “indenização” pela perda de seus escravos.
A República, enquanto representação de certas forças sociais, caiu, mas as transformações estruturais que, em curto período, realizou no domínio econômico ficaram e se desenvolveriam, voltando a eclodir na Revolução de 1930, já em novo nível de desenvolvimento. No breve período republicano em que estiveram no poder forças progressistas da nação, criaram-se mais indústrias do que em todo o tempo do Império.
A força preponderante do movimento republicano repousou nos contingentes das camadas médias, já que o operariado, embora participando, como atestam várias greves, era ainda incipiente. O Exército, pela sua origem, e com a força e organização que lhe são inerentes, representou a vanguarda da classe média e de todas as classes sociais que apoiavam a mudança do regime político.
A República importou em dar vários passos à frente em nossa estrutura política. O novo regime terminou com o grotesco Poder Moderador, com a vitaliciedade do Senado, com o direito do voto fundado na renda. A passagem de Rui pela pasta da Fazenda repercutiu como uma rajada renovadora naquele velho ambiente. O governo de Floriano empolgou e conscientizou o povo.
O estudo dessa época, que alguns denominam de crise da República, mas que foi realmente de crise para o latifúndio, encontra-se no capítulo seguinte. Mostra a primeira experiência brasileira de governo democrático, com as deficiências e as ingenuidades que as limitações da época nos impunham, mas com realizações que precisam ser analisadas e estudadas como importante manancial de experiências e ensinamentos para o nosso povo, e um vasto repositório de suas mais legítimas tradições.
Indicações bibliográficas
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[Texto copiado do volume 4 da Coleção]