Beijar o pão.

Poucas coisas ficam, de fato, das queridas pessoas que partem.

Do meu pai, Gerd Silbiger, que se foi há 11 anos, sinto muita saudade e percebo isso através de algumas lembranças que, vira e mexe, vêm à tona.

Hoje de manhã, preparando o café da manhã para família que ainda dormia, lembrei do seu costume de beijar o pão sempre que era jogado fora.

Herança que veio dos tempos sofridos de guerra, quando foi prisioneiro dos nazistas pelo simples fato de pertencer à linhagem do povo de Deus.

Duros tempos aqueles.

Além de ter perdido seus pais e irmão nas câmaras de gás, passou por vários maus bocados que todos conhecem muito bem.

A vida foi seguindo seu rumo e o jovem Gerd, abrasileirado Geraldo, aportou nestes confins tupiniquins, construiu novas raízes e gerou seus frutos.

Achava, em princípio, um tanto quanto estranha essa mania que tinha de beijar o pão.

Mas o moleque que hoje emerge em abundância seus cabelos brancos, foi percebendo que tratava-se de um gesto de carinho, uma verdadeira cerimônia de despedida, um agradecimento e, ao mesmo tempo, uma desculpa por ter que jogá-lo fora. Vai saber.

Meus olhos se encheram de lágrimas quando lembrei daquela cena, por tantas vezes reprisada no palco da minha infância.

Quando beijei o pão antes de colocá-lo no cestinho de lixo, estava também beijando alguém que foi muito querido, um amigo de todas horas.

Pai querido, onde você estiver, receba este beijo com todo carinho desse mundo.

Do seu filho, Oscar.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 04/03/2012
Reeditado em 10/03/2013
Código do texto: T3534062
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