ESQUEMAS TÉCNICO-TÁTICOS PARA UM BOM JOGO EDUCATIVO DE FILHOS “CAPETINHAS”
 
Quando o rebelde ainda é criança, é mais possível moldar-lhe o caráter e redirecionar-lhe os sentimentos, para transmodificar suas condutas emocionais futuras, não necessariamente em regime militarista, mas focadamente em regime pacifista. Da adolescência em diante, fica mais difícil alterar substancialmente a forma. A linha de intervenção externa agora seja mais no sentido de influenciar, de conquistar, de estimular no jovem uma forma de ver a vida com bons olhos, com seus próprios bons olhos. É questão de estabelecer, no acordo, na sutileza, pactos de convivência harmoniosa e de estimular nele o autorrespeito e o respeito aos valores daqueles que com ele conviva, ainda que eventualmente como personae non gratae.
Em princípio, personalidade é personalidade. Não se a muda. Não se a deve mudar. O esperável é que não haja danos psíquicos, afetivos, morais nem físicos em cada jeito de ser, mesmo que este seja forte e opinioso. É difícil não envenenar nem prejudicar o corpo com pensamentos azedos o tempo todo. A cada pico de pensamento negativo ou azedo, há um jorro de cortisol ou de adrenalina na corrente sanguínea. Então uma personalidade forte ou paquidérmica tem de ter bastante cuidado, para não se confundir com personalidade negativa, muito menos baixo-astral. Pode sair muito caro para a saúde.
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MINICONTO MONOLOGUISTA:
*** Um amigo meu tido e autotido(ops!) como casca-grossa, paquiderme jurássico, arrepia-cabelo, brigador de rua, que costumava sair feliz e satisfeito após cada embate de argumentos ou de socos, durante muitos anos vangloriava-se de ter uma saúde de ferro.
Certo dia, eu soube que ele tinha morrido de repente, ainda no auge do rojão.
Achei isso totalmente estranho. Ele parecia blindado contra setas negativas dos outros para sua estrutura psíquica e emocional.
O que o nocauteou fulminantemente talvez tenha sido o fato de que a sua carapaça emocional lhe protegeu das formas-pensamentos ruins dos outros na direção dele, mas essa sua mesma estrutura rígida também impediu a dispersão ou expulsão dos podres emocionais que ele mesmo acumulara dentro de si mesmo. Sei lá! É uma hipótese.
Ele não teve oportunidade de despertar o deus que havia dentro dele mesmo. Não aprendeu a transformar o tatame relacional em uma sala de negociações ou, melhor ainda, em um espaço aberto de animados, despretensiosos e bem-humorados diálogos.
Ele já vinha sendo há muito derrotado, por pontos, pelo próprio personalismo asselvajado.
Eu fui para o enterro. Só tinham ido três pessoas para o velório, incluindo a mãe dele. Cheguei a tempo de pegar na quarta alça.
Eu fui não só porque era amigo do de cujus, mas também porque raciocinei assim: esse cabra, que era um boxeador peso pesado das palavras rudes e das porradas, morreu de repente. O laudo médico disse que foi infarto, mas eu acho que foi sufocamento dentro de si mesmo. Aliás, dentro de si, não. Dentro de sua vedada camada de persona petrificada, talvez por excesso de obesidade personalística ou de hipertrofia emocional.
Também eu sou um argumentador, acho que do tipo médio-ligeiro, mesmo já com as luvas meio aposentadas. Talvez eu não tenha acumulado hematomas ostensivos, mas sei que já traumatizei muita gente, ainda que com golpes de ironia, de sarcasmo ou, pior, de indiferença (que, por incrível que pareça, na classificação das batalhas relacionais, é tido como um dos mais mortais, quer para os outros, quer para si). Consequentemente, eu também tenho cá minhas feridas, mesmo que microscópicas, mas igualmente traiçoeiras. Por essas e outras, eu fiz questão de comparecer à despedida do amigo. Eu também não quero essa indiferença tão extrema dos meus conhecidos quando chegar a minha hora. Se forem dez velorários, já me darei por satisfeito.***
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O bom é direcionar a força da personalidade para ações pensamentais, verbais e atitudinais positivas e proveitosas para si e para os outros. Aí todo mundo ganha. Todos os corpos ganham, inclusive o corpo social.
 
Se bem observado o esquema 2-2-1, quanto mais na medida certa forem 2-2 (orientação-afeto), tanto menos será necessário 1 (repreensão). Porém, mesmo este, quando se fizer necessário, deve ser sem extravasamentos emocionais e com todo o equilíbrio interno possível.
Para quem está diretamente envolvido com alguém de difícil trato, é sempre mais penoso transcender para uma reflexão-proposta tão sublime e sublimante como essa, mas nunca impossível, concorda? A solução para se evitar grandes avexamentos com esse tipo de problemática é começar a educar o difícil (como também o aparentemente fácil), desde cedo, ou melhor, desde o berço (ou até desde a barriga), para aceitar os nãos que a vida impõe a todos nós.
A agressão aos pais é uma espécie de hebefrenia, mas é também uma forma de cobrança das educações moral, afetiva e emocional que não foram transmitidas a tempo e modo adequados.
 
A capacidade de aceitar emocionalmente os nãos como resposta deve ser estimulada gradativamente e o mais cedo possível, à proporção em que os cangotes vão se engrossando.
Mas, o processo transformador pode se iniciar a partir de qualquer época, mesmo que o convívio complicado já seja multidecenal. O QC (quociente de consciência) para melhorias de nível convivial não tem idade para despertar, e pode provir de qualquer polo no liame das relações, mesmo quando já se seja avô ou bisavô, ou a partir de um neto ou até de um bisneto.
 
 
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{Recado para todo “rebelde porque o mundo quis assim” (inspirado na música “Sou Rebelde”, de Leno e Lilian), que precisa engolir sapos-nãos de vez em quando e que é tachado de incorrigivelmente rebelde ou “mau”:
A vida é um jogo de relações de mão dupla, internas (de nós conosco mesmo), externas (de nós com os outros), inferiores (de nós com as forças negativas ou infernais) e superiores (de nós com as forças positivas ou celestiais).
Revoltar-se ostensivamente com as condições de jogo que nos foram impostas, ou que nós mesmos nos impusemos historicamente, não é jogo. Construir uma linha básica de raciocínio de que, fazendo o mal aos outros estamos fazendo justiça a nós mesmos, é estar fazendo “gol contra” o tempo todo e correndo grandes riscos de cair para a divisão inferior do campeonato da vida relacional e lá permanecer longamente.
 
Todo homem deve buscar suas melhoras a partir do estado em que se encontra, independentemente do que fizeram ou do que deixaram de fazer com ele.
 
[Agora, ninguém cai na sarjeta emocional, moral ou espiritual e fica lá para sempre. No campeonato das relações cósmicas não existe prisão perpétua a condições de sofrimento, solidão e desprezo, embora existam trocas de prisões e de sistemas prisionais, até que alcancemos a liberdade, por mérito antecipado ou por cumprimento total das nossas penas.]
Por outro lado (o lado de fora das prisões emocionais, sociais, emocionais, penais ou penosas), ninguém é livre. Até a liberdade tem seus níveis. Livrar-se de um sistema prisional é transferir-se para outro, ou porque merece ou porque a própria prisão se transformou.
As leis sociais são cárceres contra nossas tendências à usurpação dos direitos uns dos outros. Não teríamos condições de viver sem leis. Em sociedade, mais importante do que a noção de liberdade é a noção de paz e de justiça. O respeito que se exige para a própria liberdade implica o respeito que se deve ter à liberdade alheia.
Estamos sempre jogando (uns mais como jogadores, outros mais como jogados), e ninguém é livre para sair do jogo relacional. Com isso, é melhor conhecer e respeitar as regras do jogo, inclusive porque há fiscais observando nossas jogadas, espalhados por todo canto. Respeitando as regras do jogo, podemos exigir, com toda moral, o respeito aos nossos direitos de jogador.
O que mais ocorre numa primeira etapa da linha de maldades ou de rebeldias dos que decidem descumprir as leis sociais, morais e emocionais é o risco de serem punidos de acordo com os mesmos permissivos legais (normas autorizadoras da prática de atos jurídicos) que os jogadores burguesamente bem sucedidos vivem a evocar fria e calculadamente contra os que ameaçam a sua estabilidade. No mínimo, o menor de poder emocional, moral, político ou econômico vai tomar logo um cartão amarelo do juiz. Pode ser acusado, por baixo, de crime de injúria (ofensa à dignidade ou decoro de alguém), calúnia (falsa acusação a alguém de um crime) ou difamação (exibição em público da “roupa-suja” de alguém, desacreditando-o, detraindo-o).
Quer dizer, quem explode emocionalmente está sempre errado e sempre dando razão ao destinatário da explosão, mesmo que este é quem tenha agido errado primeiro e mesmo até que este é quem tenha provocado a ira explosiva do adversário, na malandragem retórica, a fim de construir razão para si.
Temos que aprender a ganhar sins no jogo erístico do convencimento, na habilidade negocial, na diplomacia, sempre no fair play, sem nem a necessidades de blefar. Porém, temos de aprender também a ganhar nãos ou a perder sins, com a mesma classe e com elegância. Ganha-se aqui, perde-se ali, “na boa”, e a vida continua. O cassino da vida relacional nunca fecha suas apostas. O salão nunca se esvazia. Os bolsos estão sempre cheios de fichas, que mudam só de cores, de acordo com os padrões de qualidade.
Quem monta e mantém essa linha de raciocínio inter-relacional básica, no mínimo vai reduzir bastante a chance de “engolir” as aceitações coercitivas que a vida dura (aí incluídos policiais desumanos, delegados insensíveis, juízes legalistas e outras autoridades disciplinadoras e punidoras públicas ou privadas do mundo visível e do mundo invisível), costuma impor aos mal-educados emocionais, muitas vezes de forma bastante contundente, principalmente aos excluídos e preconceituados socioetnoeconômicos.
A vida é um jogo complexo de relações, cheio de lances fáceis e difíceis, que nos impõem posicionamentos estratégicos em série e em paralelo, a todo instante. Um não aqui pode ser um sim ali. Um sim agora pode ser um não depois. Há não que vem para sim e há sim que vem para não. Daí é mais importante cada um fazer seu próprio jogo. Jugar, julgar e jogar não especificamente contra ninguém, a não ser contra seus próprios maus pendores.
A questão não está em aceitar passivamente os nãos como resposta. É de se perguntar por quê. É até justo e lícito insistir, enquanto não se entende o porquê do não, mas sobretudo com muito equilíbrio emocional, para não deixar eventual reação agressiva travada na garganta, no caso de uma desistência do pedido ou da exigência. Nunca aja ou reaja com raiva, para não derrotar a si mesmo no jogo relacional.
Toda linha de ações más estabelece na verdade um grande círculo, que vai terminar onde começou, ou seja, no iniciador da própria linha. Quem pratica o mal para os outros, mesmo sem má-fé, está colocando suas batatas para assar. Está acionando a lei de ação e reação.
 
 
{O criminoso sempre volta ao local do crime. Se ele não voltar, o local do crime vai alcançá-lo, ainda que de cenário novo e com personagens novos. Quem pratica qualquer mal e segue adiante, sempre vai deixar um rastro, que vai ligá-lo de alguma forma ao local e às pessoas por ele prejudicadas. Ele deverá voltar apagando toda sua borreira, para escrever de novo a lição, ainda que como repetente em novo ano letivo. São as regras da Grande Escola. – Voafra, conselheira e aposentada pelo INPS, enquanto consolava a mãe de uma vítima de estupro, na cidade de Anguera(BA), em 1978. }
 
Por isso, temos de usar de inteligência estratégica antes de pensar em fazer o mal para quem quer que seja, inclusive a si mesmo. O bom é fazer o bem. Acionaremos a mesma lei de ação e reação, agora a nosso favor.
 
No grande cassino, que é a vida social, a regra basilar de convivência entre os jogadores é esta: reivindicar direitos e perseguir interesses de vitória a cada lance, sempre, mas com diplomacia e paciência, tanto nas vitórias quanto nas derrotas.
Ninguém pode vencer direto todos os lances disputados com os adversários. Quem é craque nesse tipo de jogada-raciocínio costuma conseguir mais sins do que nãos no grande jogo, isso porque o adversário mais difícil nesses embates está dentro de cada jogador mesmo. São as próprias emoções desequilibradas, que costumam ofuscar da mente as melhores estratégias de ataque e de defesa urbana e cordial.
 
O que deve estar em jogo permanentemente é a melhoria das qualidades de vida relacional em todos os seus aspectos, quer nas relações interpessoais, quer nas relações intrapessoais, principalmente para quem ainda guarda o estigma de pessoa difícil, pessoa rebelde, pessoa explosiva ou pessoa do mal, sendo consequentemente mal vista durante muito tempo, pelo menos até robusta prova em contrário a partir de comportamentos marcadamente equilibrados, firmes e consistentes.
 
Estrategiando jogadas desse nível, mais avançadas, temos tudo para ser respeitados e vencedores, não dos outros, mas em relação a nós mesmos, até a próxima etapa-existência do grande jogo que é a vida, sem fim. Enquanto isso vamos acumulando fichas de felicidade e de paz, para desfrute imediato e futuro.
 
Independentemente dos processos de higiene e de autoenfermagem no sanatório da natureza, da dureza ou da leveza, que cada “revoltado”, “mal-amado” ou “injuriado” se eduque e se conscientize, até o ponto de não mais precisar ou não mais perceber qualquer sentido no uso de um velho hábito de comportamento (auto)destrutivo, que para outros ainda inconscientizados pode até ainda que ainda) normal. Eis a melhor terapia inter-relacional: autodisciplina e despertamento, desenvolvimento e expansão de sentimentos nobres, como o afeto, o perdão, a tolerância, a compreensão, o respeito de uns aos valores dos outros e o acerto de crescimento conjunto. [Pela lateral, vêm em bom socorrimento, também, umas aulinhas de judô, de capoeira, de tai chi chuan, ou longas caminhadas diárias, exercícios de respiração e meditação...] Tal pacote psicofisioterapêutico implica sarar as mentes, as emoções e, consequentemente, eventuais disfunções cerebrais, emocionais e morais de quem de dever e de necessidade.
 
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O ideal é entender que nenhuma relação dolorosa de longa duração ocorre por acaso. Tudo é condicionalmente construído por nós mesmos, a partir do que fizemos no passado, ou é reafirmado para acontecer a partir do que fazemos no presente contínuo da cotidianidade atual.
Deus, presentado na lei universal do amor, espera que aquele que estiver em um nível consciencial acima, exerça o papel Dele para ajudar a se melhorar quem estiver insistentemente abaixo. Mas, antes precisamos nos modificar perante o outro, para podermos esperar mudanças do outro perante nós. Mais importante do que mudar o outro é antes estabelecer uma relação pacífica com o outro, no estado em que este se encontra, jamais nos esquecendo de que a reforma íntima de nós mesmos é que abre caminho para a reforma íntima dos outros que esperamos ver mais sorridentes.
[Em muitos de nós a consciência divina só se expande pelo viés do amor convertido em pensamentos, palavras e ações continuadas. Nessa perspectiva, é preciso se distanciar para poder abraçar o outro. O melhor pai, a melhor mãe é quem trata o filho não só como filho, mas também, inicialmente como aluno, depois como discípulo, e, por fim, como amigo.]
 
Tão importante quanto a educação propriamente dita é o condicionamento do ambiente para favorecer o crescimento do educando.
Eis alguns exemplos que podem contribuir fortemente para uma melhor qualidade de vida relacional dos pais-educadores com os filhos-educandos, sejam estes inchadinhos ou inchadões, e destes com a sociedade além-cerca:
 
·        Música clássica,
·        cores suaves no ambiente,
·        equilíbrio emocional como tônica nas relações,
·        conversações sempre proveitosas e desprovidas de linguajares de baixo calão,
·        seleção de programas de rádio e de televisão condizentes com padrões de ética, cultura, arte e informação de qualidade,
·        hábitos alimentares saudáveis,
·        estudo regular do evangelho,
·        prática da oração ao acordar e ao deitar,
·        higiene do lar em nível de mente, corpo, roupas, alimentos, móveis e da casa como um todo.
 
O resto, que é o principal, é aconchego, cooperação, cumplicidade e companheirismo.
Sabemos que há outras realidades, muitas delas antagônicas em relação ao convívio doméstico. Sabemos que há um complexo de influências e de tentações desviantes de tudo o que é aprendido pelos hábitos familiares, e que muitas de tais distorções estão nos bastidores que a televisão não mostra, que a internet não esclarece, que estão para além da cerca da morada física. Entretanto, a maior influência é sempre a da educação do ambiente familiar, dos pais sobre os filhos, dos filhos (mesmo difíceis) que influenciam os pais (mesmo difíceis), dos filhos para si e entre si e dos pais para si e entre si mesmos.
A tendência de muitos é lamentar ou criticar comportamentos alheios, especialmente os hebefrênicos, ou não fazer nada para tentar mudar situações desagradáveis. É bem melhor, contudo, amar, exercer ascendência efetiva e emocional sobre quem de necessidade, e tudo o mais que tenha a ver com a felicidade do espírito e da paz convivial “acrescentar-se-vos-á” quase naturalmente.
Quando alguém do time familiar, independentemente de sua função no conjunto, desperta o QC (quociente de consciência) e toma a iniciativa de tentar exemplificar modelos de comportamentos que ele quer ver nos outros familiares, fazendo a sua parte, a garantia de progresso grupal é bem maior e mais rápido, sem conflitos, ainda que só daqui a duzentos anos. Quer dizer, a relação perfeita que cada um sonha com o outro deve começar pela realização a partir de si mesmo, sem esperar retorno ou “estalo de vieira consciencial” do “lado contrário”. Inexoravelmente, chegará um tempo em que a antiga e já ridícula queda de braço cessará com o abraço dos contendores, e iniciar-se-á um novo jogo relacional, mais felicitador e intercooperante. É uma lei.
Assim, transforma-se a morada em um refúgio, um refrigério, um oásis de paz, um santuário de harmonia. E, da mesma forma que o planeta Terra, também a morada familiar é mais do que uma unidade habitacional. Ela é também uma unidade socioespiritual, com seus padrões vibratoriais, suas influências invisíveis, seus vãos dentro de vãos, seus espaços entre espaços, quer seja uma mansão imobiliária de luxo, quer seja uma casinha de tábuas debaixo da ponte. O ideal é que tudo de bom e produtivo que for usinado na dimensão do lar-educandário possa acompanhar cada um de seus integrantes aonde quer que vá, como que levando as boas vibrações familiares dentro de si.
Quando todos os familiares (pais, filhos e demais conviviais) assumem essa forma de multi(auto)educação pela palavra ou pelos estímulos ambientais favorecedores, todos crescem juntos. Tudo mundo ganha. A sociedade ganha. O futuro ganha. O passado se autorresolve.
O importante também é explicar para os dependentes o porquê dos processos disciplinares, o porquê da inserção, da mudança e da eventual reciclagem de hábitos e, principalmente, o porquê da necessidade dos nãos e dos limites. Imposição com exposição fica mais fácil para o convencimento. As gerações y e z não têm aceitado regras ou limitações ditatoriais domésticas. É melhor investir um tempinho agora explicando, dialogando, orientando sobre o porquê das regras de comportamento, para colher depois juros e dividendos em forma de abraços de agradecimento. Simplesmente negar ou impor decisões sem justificativas agora pode implicar colher depois muita tristeza e medo ao ver monstros morais erguidos dentro do próprio lar, ou colher muita solidão com a partida prematura dos filhos, assim do nada, sem darem nem adeus.
 
Nunca aquele evento antigo e démodé chamado reunião familiar se tornou tão essencial como na atual contemporaneidade, quer para lavar roupa suja, quer para mantê-la limpa ou cada vez mais alvejada na tessitura do convívio próximo ao mesmo varal.
 
Quanto mais afetividade e orientação firme e simultaneamente carinhosa, quanto mais diálogos estimulantes, elogios e críticas estrategicamente construtivas, e quanto mais intensa for a terapia do abraço e do afago, tanto melhor é a chance de surpresas alvissareiras se anteciparem, inclusive no comportamento tendencialmente rebelde ou maldoso.
 
Uma boa linha adotada por muitos é tratar os conviviais de difícil trato(!) como se estes estivessem em um nível de consciência acima do demonstrado, ou seja, tratá-los habitualmente com urbanidade e cordialidade (mas com recheio de amor e de sinceros sentimentos), mesmo que eles não demonstrem interesse aparente nesse tratamento. Isso costuma gerar retornos surpreendentes, considerando, inclusive, que cada nível de consciência tem o seu quê de divindade, mesmo que expressada de forma aparentemente bizarra ou até grosseira. Pelo menos para os expertos em nanopsicologia, não é difícil perceber a mudança de olhar ou a sutil amenização do tom de quem é tratado como um gentleman.
Mesmo no terreno da nanopsiquiatria, não existe loucura moral incurável nem totalmente fechada. Sempre existem os momentos de relativa lucidez e de maior receptividade a gestos afetivos, instrutivos e consciencio-expansivos, ainda que demonstrado apenas com um sorriso amarelo, com um piscar de olhos, com o silêncio.
 
Cada jeito de ser tem sua amorosidade,
mesmo sob uma difícil personalidade,
ainda que sob uma gélida inertidade.
É questão de saber onde se escondem
os receptores e transmissores do amor contido,
que também pode ser contente, de repente.
 
Todos nós somos naturalmente bons, segundo Jean-Jacques Rousseau (filósofo, escritor, teórico político e compositor musical autodidata suíço (1712-1778)), em seu livro “Emílio”. [Várias correntes espiritualistas afirmam que a mente humana é naturalmente positiva, possuindo uma propensão nata para a felicidade. Será a eterna parte criada à imagem e semelhança de Deus, conforme a narrativa de Moisés?] Mas uns, mais do que outros, precisam de estímulos externos especiais para brotar sua bondade para o mundo, ainda que de forma peculiar ou, como se diz por aí, customizada.
Todos temos pontos positivos em nosso favor, por mais que liberemos nossas personas psíquicas e emocionais antagônicas ou adquiridas pela drogação, obsessão, carências, traumas e outros fatores histórico-ambientais.
Para as pessoas consideradas de difícil trato, é o caso, inclusive, de reconhecer, o quanto antes, seus pontos positivos ou positiváveis e estimular sua expansão, pelo elogio, incentivo, abraço, diálogos, conselhos e outras influências benfazejas. Se, julgando-nos mais esclarecidos e “melhorzinhos”, não fizermos isso, tornar-nos-emos, também, pessoas de difícil trato, não pelo que pensamos, dizemos ou fazemos, mas pelo que não pensamos, não dizemos e não fazemos. Quem não toma nenhuma iniciativa para melhorar os circunstancialmente mais necessitados sob sua guarida, também ele é um necessitado de ajuda. E corre o risco de não ficar na história do necessitado como aquele que lhe deu a mão que este mais necessitava. Não vai aparecer nas fotos. As pessoas têm de evoluir, com ou sem a ajuda de quem de dever.
 
Qualquer valor humano pode ser convertido para produções funcionais e úteis. Depende do direcionamento que se lhe dê a partir de qualquer tempo e em qualquer lugar, com a devida assistência especializada e acompanhamento constante até a segura autolibertação consciencial.
Há aquela ideia de que “o fim depende do início”, reaventada no filme “O Clube do Imperador” (do diretor Michael Hoffman, onde a referida frase aparece também latinizada como “Finis origine pendet”, concorrendo com outra mais antiga, que diz” “terminus pendeo in exordium”). Trata-se de um ideologema, que deve ser visto sempre com ressalva. A depender da qualidade dos novos estímulos que a escola da vida oferece como prova, como castigo ou como prêmio no transcurso do ano letivo, um novo nível de consciência pode aflorar a qualquer momento, mesmo na velhice ou já nas eventuais aulas de “segunda época”.
 
{“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” – Emmanuel, escritor espiritual.}
 
Nós vivemos iniciando novos projetos de comportamento, novas tentativas de melhoria, nos batizando consciencialmente de vez em quando. O importante é que cada um de nós procure se burilar e dar o melhor de si mesmo, seja qual for seu nível de consciência, sejam quais foram suas formas de apresentação e seu estilo pessoal. O que mais vale é adotarmos boas e úteis plataformas raciocinais que justifiquem nossas ações, repudiando aquelas linhas de raciocínio, de sentimentos e de emoções doentias ou suicidas.
Todos nós somos nômades dentro de nosso próprio território mental. Cada um de nós está em constante transformação, embora muitos novos caracteres sejam formados menos na tomada instantânea de consciência do que na repetição de hábitos. [Segundo Aristóteles, “nós somos o que repetidamente fazemos”.]
Até tomada de consciência em contrário, somos o que fazemos ou o que fazem de nós repetidamente. Somos também o que achamos ou o que acham repetidamente que somos. Nossa massa cinzenta se comporta como fruto das ações, das visões repetidas, dos cheiros repetidos, dos gostos repetidos e de outros estímulos sensoriais, emocionais e imagéticos que recebe repetidamente.... Por isso se adapta mais cedo ou mais tarde a qualquer tralha que lhe é imposta, mais como um meio de sobrevivência do que por prazer real em si.
 
A tomada de consciência, que abrange também a tomada do cérebro e seus comportamentos condicionados-condicionantes, é a escolha de um novo caminho. E a mudança efetiva-se com a trilha incessante nesse novo caminho.
Conscientizar-se mentalmente é fácil, mas o sucesso das qualidades de vida pretendidas depende de planejamento, disciplina e habituação na observância desse planejamento e dessa disciplina, reforçada, inclusive, pela alimentação de ideias para o cérebro, que normalmente não se conscientiza ao mesmo tempo que a mente espiritual. A alimentação e realimentação filosófica é altamente nutritiva e sustentadora.
 
A linha de frente atitudinal não é julgar, mas ajudar, ou pelo menos entender e estender as melhores vibrações de sentimento na direção de quem se julga ou é julgado uma ovelha-negra. Já é um socorro, que pode se somar com outras medidas em lugar e tempo presentes ou futuros. Nada se perde na semeadura da evolução pela educação e pelas boas vibrações emanadas do coração.

 
CONCLUSÃO
 
 
Embora fisicamente animaloides, nós não somos animais, para os quais só a educação ou amestramento basta. Do ponto de vista da alma, nós não somos seres naturais.
Por outra, aquelas ideias de que “ou sou assim mesmo”, “é minha natureza”, “quem quiser que me aceite assim” ou “vocês vão ter que me engolir”, são psicoideologemas falsos, com traços zoologicizantes e que atravancam o próprio progresso. Alguns se acomodam nesses conceitos e se ligam a algemas psíquicas aprisionadoras a padrões comportamentais involutivas, inferiores ou até bestiais.
Outros podem ver nessas nossas características psicoemocionais únicas um desafio do alpinismo da vida em direção a Deus, sustentados pela poderosa supercorda do amor crístico.
Integramos o reino hominal. E, como tais, somos mesmo é seres evolucionais. Não tem para onde correr. Só tem para onde subir.
 
No processo de reescultura dos sentimentos mais primários e rudes sob nossa jurisdição instrutorial, a lição de moral, os conselhos e as advertências devem ser sempre ilustrados com afeto, com muita paciência e perseverança, ainda que na habilidade ditatorial, mas sempre sob o manto da diplomacia, para antecipar a transmorfização emocional pretendida. É o milagre do amor e da inteligência afetiva, cujo discurso geralmente cala mais fundo no coração do destinatário, de si mesmo e de todo o corpo familiar. Consequentemente interfere no cérebro preconceitualmente rotulado de caso sem jeito, ao ponto até de rearranjar as células da eventual área danificada e condicionante de estruturas raciocinais potencialmente destrutivas.
Não é raro o próprio agente da conscientização ser ele mesmo um entrave a suas próprias pretensões de despertar a consciência do outro.
 
Um nível melhorado de consciência precisa esperar uma “volta pelo mundo”, muitas vezes muito grande, para finalmente se despertar. Depende das qualidades do estímulo que vai recebendo na estrada. Essa “volta” serve para o burilamento e processamento das ideias do ajudado e do ajudador. Ambos podem ser necessitados de estalos de vieira conscienciais, cada um a sua maneira, ainda que um esteja em um nível de consciência “melhorzinho” em relação ao do outro.
{É de se registrar em ata que o estalo de vieira consciencial ou tomada súbita de consciência depende de uma sequência de evoluções pontuais, quer no campo de minigestos afetivos, quer no campo do conhecimento da psicologia das relações ou da psicologia sistêmica, quer por fatores espirituais ou psicoinfluenciantes de terceiros. Sem um esforço anterior suficiente a fagulhá-lo no momento oportuno, não tem estalo certo.
A construção de uma segunda natureza mental correspondente a um patamar superior de evolução é um processo longo, não de acordo com a medição do tempo cronológico normal, mas numa luta hercúlea continuada, na medição do tempo espiritual, para fazer-se merecedor do advento do “tempo de Deus” libertador. Não adianta forçar muito a barra para antecipar esse tempo, porque ele segue vieses próprios, dentro de uma observância cósmica fiscalizatória, da qual não temos a mínima ideia de como funciona. Somente uma linha comportamental nossa pode ajudar, de alguma forma, a antecipar os prelúdios desse Grande Tempo: o amor combinado com o desapego de tudo que se tem em termos de valores egoicos, paixões, desejos mundanais e vontades da personalidade e do cérebro, e esforçar-se diuturnamente para fazer somente a vontade de Deus para nossas vidas enquanto presos na carnalidade. Pode até não antecipar o estalo de vieira consciencial, mas antecipa logo o despertar da segunda natureza mental e o estalo de vieira da paz de espírito, a qualquer momento. Questão só de alguns ajustes findos de tempo, desde que se continue subindo a íngreme ladeira. O bom é que o chamado tempo de Deus, quando vier nos agraciar com seu manto consciencial, protetivo, salvacional ou evolucional, nos surpreenda em pleno trabalho de ascensão, em plana tentativa de agir corretamente, em pleno esforço de fazer o bem.}
 
Fora de casa, já no mundo, o “incorrigível” pode passar de mão em mão, da mais suave à mais áspera, no seu itinerário translibertador.
Depois de muitos conflitos, traumas, dores e clamores, pressões e depressões, o fator final ou fator X que desencadeia o nível de consciência esperado pode provir de um detalhe, de um conselhinho à toa, de uma ocorrência boba. Mas pode provir também após um desastre, uma grave doença, uma dor psíquica ou física de proporções gigantes, quando muitas vezes ele já está distante a muitas léguas e há muitas décadas do lar original. É quando ele vai desenvolver os benefícios do despertamento do seu QC no convívio com outros familiares, com os colegas de cela de uma eventual cadeia, com os companheiros de quarto de um hospício ou talvez de um asilo de velhos sem parentes.
 
{- Na escola da vida, as questões para os alunos mais difíceis e renitentes quase nunca são respondidas na mesma aula. Muitas vezes, as respostas só são trazidas à sala quando o mestre já morreu. – De um ex-presidiário e vigia noturno de uma escola primária em Vitória da Conquista(BA), enquanto ponderava com um jovem professor decepcionado com o comportamento de alguns alunos rebeldes, no fim do ano de 1969. Certamente inspirou-se naquela frase de Henry Adams (1838-1918), novelista, historiador e jornalista estadunidense): "O professor se liga à eternidade. Ele nunca sabe quando cessa a sua influência".}
 
Mas, não importando onde nem em que condições esteja, ele vai voltar pelo mesmo caminho de destruições anteriores, para reacerto de contas, até a primeira ofensa, considerando a hipótese de não ter surgido nenhum fato novo que altere em seu favor o montante da dívida, ou por iniciativa sua ou de outros. Deus nos perdoa, mas não nos tira o mérito de apagarmos nós mesmos os nossos rastros.
 
{Parafraseando a famosa frase “somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos” , de Antoine de Saint-Exupéry, em seu livro “O Pequeno Príncipe”, eis um debatema entre um pai e um filho:
Pai: Somos eternamente responsáveis por aqueles que prejudicamos.
Filho: Mas somos responsabilidades eternas daqueles que devem nos amar.}
 
Portanto, quanto mais rápido a família ou quem de direito ou de dever iniciar a “operação educação afetiva”, amando e amorizando, enquanto o insurreto estiver nas suas cercanias, tanto maior será a chance de novos níveis de consciência brotarem e se expandirem na mente de todos os envolvidos, seja do lado agressivo, seja do lado agredido. Talvez até a relação íntima nem se rompa e o “difícil” nem precise crescer em outras plagas. O amor tem seu quê de facilitador de relações, já nas primeiras dosagens. Porém, se, mesmo devidamente amado, o “malvado” sumir no mundo, com certeza voltará mais cedo. Se, pelo contrário, ele sair de casa mal-amado, quando voltar, depois de muito tempo, precisará não só pedir perdão, mas precisará também perdoar.
O mundo é redondo. Toda relação tem de ter um final feliz, nem que essa novela ocupe várias existências. O amor dado por quem representa um papel de “melhorzinho” nunca é perdido. E o amado, mesmo resistindo, desdenhando e não demonstrando qualquer retorno, vai precisar dessa energia para somar com outras que contribuirão para seu despertar consciencial ou afetivo, quando regenerado ou melhorado. E lembrar-se-á, com alguma gratidão, de quem não desistiu dele nos tempos ásperos da intriga.
A depender do próximo episódio da novela relacional, um personagem tido como difícil em cenas relacionais anteriores é quem poderá estar amando a quem antes fez sofrer, às vezes mais do que este agora. É o milagre não só do amor, mas pode ser também o milagre das inversões afetivas. O mundo é redondo e pode virar seu eixo na relatividade vibracional das relações. Depende dos “estalos de vieira” conscienciais que cada um pode receber de vez em quando e que pode elevá-lo em curto espaço de tempo a um patamar evolucional imediatamente superior, ainda que levando também suas eventuais caturrices e baforadas, estas certamente não mais tão incomodativas como dantes.
Enfim, inevoluível, nem o fogo! [É uma paráfrase ao enunciado do grande literato Afrânio Peixoto: “Incorrigível, só o fogo”. Essa pérola conclusiva foi escrita a caneta, por ele mesmo, sobre um exemplar de seu romance “Rosa Mística” (1900), encontradiço na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Esse livro fora renegado pelo autor.]
 
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Josenilton kaj Madragoa
Enviado por Josenilton kaj Madragoa em 20/04/2011
Reeditado em 21/04/2011
Código do texto: T2920045
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