A redação da vida individual é cheia de passagens externas a si e obrigatoriamente incluídas. E essa autobiografia nunca será completada, porque ninguém nem nenhum ambiente externo conhece cada biografado em toda a profundidade e completude, nem no tempo nem no espaço. Isso se considerarmos, inclusive, os vários eus subpessoais, misteriosos e complexos, que se alternam à flor da pele, com suas alçadas de decisão contra ou a favor dos nossos interesses divinais e animais (ou às vezes bestiais), e que depois se embrenham mata a dentro de cada um de nós, isso durante a vida toda.
Em todos os processos da vida, um conhecimento especial e indispensável é o de si mesmo, como parte de um todo cósmico, transcendental e transafetivo. Esse o alimento mais essencial para nossa alma, do qual jamais deveremos ficar inanes ou subnutridos.
Considerando, inclusive, que temos também fome espiritual a satisfazer, os piores alimentos-lixo são o ódio, o rancor, o orgulho e o egoísmo. Fazem um mal terrível, inclusive para o duodeno e o pâncreas. Consequentemente, a melhor higiene da alma está na prática do amor, do perdão, da humildade e da solidariedade. Devemos estar sempre não de barriga, mas de coração cheio desses psiconutrientes, abastecidos a partir das primeiras horas do dia, antes de iniciar a lufa-lufa inter-relacional.
Com essas práticas psico-higiênicas, qualquer outro processo de saneamento físico e de melhoria das qualidades de vida como um todo fica mais viabilizado.
É dever diuturno de cada um de nós fazer safáris no interior da floresta, que é o interior de si mesmo, numa temporada permanente à caça desse mesmo si (que é a “individuação” ou autodescorberta, segundo a visão de Jung). E quanto mais esse autoconhecimento se expande, tanto melhor nós dominamos essa floresta microcósmica infinita, mesmo porque a floresta, a caça e o caçador são uma só grandeza. Isso facilita seu mapeamento e conquista, de forma sustentada, ainda que infinitamente gradual, em benefício próprio. Já dá para o gasto e para o proveito parcial em vários sentidos, embora pudesse ser proveito num sentido só mesmo: o de ir sendo feliz com o que não é ou de ser feliz com o que não é indo.
Simplificando, nesse tipo de matéria, o que mais felicita não é saber, mas é fazer o que sabe fazer com o que sabe. Fatorando mais ainda, é cada um desenvolver o princípio da suficiência autocognitiva, que é bem mais proveitoso do que o princípio da autossuficiência cognitiva. Só por aí, “na manha” e “na maciota”, já dá para se prover dos recursos necessários a vencer cada etapa de maior crescimento prático e multirrentável, sem comprometer os momentos de diversão, de amor, de relax, nas equilibrantes centrações, descentrações, alocentrações e supercentrações.
E a melhor prova de sucesso de tal sabença funcional é quando nós soltamos nossos bichos-personas emocionais, já razoavelmente domados, para darem uns passeios de vez em quando, ainda que sob rédea curta, e eles voltam depois tranquilos e plenamente satisfeitos para o jugo.
Todas os nossos bichos-personas interiores precisam viver, se mostrar e respirar com alguma liberdade. Mas quanto mais calmamente se posicionar o guia do safári (a mente consciencial), melhor será o controle sobre os eus interiores (bichos-personas) e mais equilibrada será a manifestação livre destes. É a saúde evolucional.
O que não se deve é abandonar o safári. Isso aí nem pensar! E que cada um procure cada vez mais se desvencilhar daquelas pesadas botas-correntes que nos impedem de avançar mais leves nas caçadas, e busque sempre novas armas-valores para melhor capturar e domesticar os nossos bichos interiores. E que nunca nos esqueçamos: nesse safári, floresta, caçador e caça se confundem.
E tudo isso sem perder a perspectiva de si, do outro, do Cristo e de Deus, que se confundem quando amalgamados pela energia do amor.
Por fim, ainda que distantes fisicamente, onde quer que estejamos, devemos decidir em continuar vibratorialmente unidos, numa diáspora de amizade, carinho e solidariedade, numa rede de energias sintônicas e positivas e numa corrente de luz e oração. Tudo isso transcende os limites do tempo e do espaço terrenais e até os das páginas de um livro como este aqui, porque se mobiliza na conexão profunda da mais poderosa das dimensões: a dimensão do amor fraternal ou do amor em Cristo. E o Curador de Almas Divino deve renascer todos os dias em nossos corações, quer sejamos nós escreventes, quer sejamos legentes, quer sejamos principalmente agentes e reagentes transformadores e multiplicadores da velha boa nova. Basta que nós estendamos a manjedoura da ajuda uns aos outros na maior de todas as redes de relacionamento: a humanidade, representada a partir de qualquer próximo situado no raio de nossos pensamentos, palavras e ações. A saúde multinivelar decorrente é inevitável.