Os dois irmãos - Oswaldo França Júnior
Uma vez tive que ler um de seus livros para o vestibular da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Lembro muito bem do livro, era “Jorge, um brasileiro” (1967). E como eu gostei daquele livro. A narrativa do autor era muito simples e direta, era como se alguém estivesse me contando oralmente aquela estória. Fiquei muito entusiasmado com aquele livro e lembro-me de tê-lo lido em menos de uma semana. Dos livros que havia lido naquele ano, para os exames dos vestibulares que eu prestei, esse foi um dos que eu mais gostei (concorrendo diretamente com ‘Grande Sertão: Veredas’). Isso já deve ter quase cinco anos que aconteceu. Hoje, depois de tanto tempo, tenho mais coisas a dizer sobre esse autor que, com uma de suas obras, acabou entrando em minha história. Entretanto, antes de falar de França Júnior, quero explicar como retomei esse autor em meus dias e como é que eu escolhi “Os dois irmãos” para ler.
Para eu chegar até aqui muita coisa aconteceu. Mas vou tentar ser bem sucinto. Na faculdade, mais precisamente a uns dois meses (ou quase) atrás, eu conversava com meu professor de Literatura, Marcelino, em busca de uma orientação sobre o que eu deveria ler e estudar para escrever minha futura monografia – que agora seria sobre literatura brasileira e não mais sobre estudos clássicos. (Fui obrigado a trocar minha habilitação, por incompetência mesmo) No nosso papo, muitos nomes surgiram e um deles foi o do Oswaldo. A ideia vingou pois o mesmo possui um acervo na biblioteca central da UFMG – e eu ainda nem passei por lá – e isso seria um dos facilitadores para minha pesquisa. Ainda estou longe de concluir o curso – bota longe nisso – mas mesmo assim decidi que queria ler mais sobre esse autor nas férias, para ter certeza de que seria dele mesmo que eu iria falar. Esse foi o segundo motivo de eu querer ler mais um livro de sua obra. O primeiro, como já disse, foi o fato de eu ter lido “Jorge, um brasileiro” – que com certeza eu relerei antes de provavelmente escrever uma monografia sobre o França.
Motivos apresentados, contarei agora como é que eu escolhi o livro “Os dois irmãos” para ler e, como foi o processo de leitura. Duas semanas atrás, eu fui devolver – com multa – dois outros livros – os quais eu nem sequer tive tempo de ler – na Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, a nossa biblioteca pública, aqui em Belo Horizonte, e pensei em levar outros dois volumes que eu pudesse ler tranquilamente. Em primeira instância, lembrei-me rapidamente do “Jorge” e conclui que um dos dois volumes – só podemos pegar dois de cada vez – seria outro livro do Oswaldo. Tenho que fazer uma pausa para confessar que até aquele dia, eu sequer lembrava o nome do autor, e tive que procurar pelo “Jorge” para saber o que estava procurando. Eu sei bem que eu blasfemei, mas heresias à parte, eu tenho que passar por vergonhas assim para aprender a ser gente grande. Bom, achei a prateleira com as obras de Oswaldo França Júnior e aleatoriamente escolhi esse livro. Até então – sinto vergonha mas vou repetir – não lembrava o nome do autor, não conhecia sua obra e pouco sabia de sua vida. Escolhido os dois livros, (o outro eu só vou citar quando for dar minha opinião sobre ele) voltei para casa folheando os dois volumes em meu poder.
Comecei a ler a estória dos “irmãos” sem nome na mesma semana, mas por complicações adversas na família eu só voltei a lê-lo nessa semana passada. Li o livro praticamente todo no mesmo dia. Foi exatamente no dia dezesseis de dezembro – desse ano que acabou de acabar – lembro com precisão o dia pois estava no hospital com minha mãe, que acabara de realizar uma cirurgia de varizes. Não havendo nenhuma complicação na operação, sobrou-me tempo para ler o livro. Confesso que comecei a ficar entediado com a estória, mas a escrita do autor é tão cativante que nem em dei conta de que tinha acabado o livro. Minha predileção por ‘Jorge’ continua indubitável, mas valeu a experiência. Tanto é que a próxima obra do autor a ser lida por mim, será ‘O viúvo’ (1965) que é seu primeiro romance – o que não vale uma pesquisa, não?!
Bom, sobre o livro ‘Os dois irmãos’ (1976 – ROCCO – Rio de Janeiro/RJ) – mesmo ano que eu nasci, vale a curiosidade – tenho a dizer que é uma estória ingênua e ao mesmo tempo madura. França narra a vida de dois homens, ‘o homem e seu irmão’, – os personagens principais não recebem nomes. O que em minha modesta opinião é genial – que inicia-se num funeral. É o enterro do pai dos dois homens e, o mais velho, o ‘homem’, decide que a partir daquele dia iria tomar conta do irmão que, até então, havia deixado de lado. A narrativa principal fica por conta do ‘homem’ que custa a entender o modo de vida de seu irmão, queixando-se sempre com sua esposa do ‘irmão’. O irmão é obsessivo por encontrar pedras preciosas na região em que vive, negando para tanto um trabalho que lhe dê sustento. Bem da verdade, as intempéries da vida de nada incomodam o ‘irmão’. Tudo o que ele faz é na base do sossego e da tranquilidade. Para o ‘homem’ isso é motivo de interrogatórios sem fim para com o pobre ‘irmão’. Ao meu ver, o toque cômico da estória está no fato de o ‘homem’ estar sempre atrás do irmão, insistindo para que ele arrume um emprego fixo para que tenha condições de cuidar da própria família, mas para fazer isso, deixa também de trabalhar. O tempo ocioso dessa trama é ressaltado por flash backs ocasionais, que demonstram um saber ‘natural’ do irmão, um jeitinho de lidar com problemas e de ser amigo de todos. O livro termina como começa, com a morte do pai, vista dessa vez por uma lembrança do ‘homem’, com uma curiosa lamentação. São 131 páginas de um enredo alegre, curioso, traumático, entristecido (em determinadas passagens), e muito divertido. Não é recomendado para quem espera ação, nem tão pouco drama. Gostei do emaranhado de acontecimentos, me confundi um pouco com tantas lembranças, mas no todo é um bom livro. Fácil de se ler e rápido de ser digerido. Narrado com simplicidade e louvou por França Jr.