Um pensamento sobre a própria morte.
Por que será que nunca pensamos com sinceridade em nossa própria morte? Por que embora falando sobre ela sempre a tratamos como uma possibilidade, uma probabilidade, mas nunca uma certeza que pode ser imediata? Por que mesmo nos preparando para ela, o fazemos com tanta calma como se o dia do fato em si nunca fosse acontecer?
A morte é o único acontecimento inevitável em nossa vida. Todos os outros podem acontecer ou não, inclusive envelhecer, mas o único que acontece com todos que foram concebidos é a morte. Até o nascimento pode não ocorrer, mas a morte não, se chegamos a nascer temos que morrer, querendo ou não.
Quando eu era bem mais jovem pensava que quando chegasse a certa idade não conseguiria viver normalmente por causa da iminência da morte. Mas chegando a essa certa idade e até passando, vivo como se fosse uma criança intocável – não consigo pensar em: daqui a tantos anos estarei morta, ou não conseguirei ver certas mudanças anunciadas. E percebo o mesmo naquelas pessoas mais velhas que eu, pouco ou muito – fala-se da morte, mas não se sente a morte.
Conheço pessoas com sérias doenças, pessoas que estão com prazo de vencimento já vencido para a vida, mas que continuam bravamente a ter certeza de que: comigo vai ser diferente.Por que nos consideramos tão especiais assim? Por que achamos que o mundo vai parar quando morrermos?
Foi quando meu primeiro irmão morreu que realmente pensei nisso pela primeira vez: ele tinha morrido e a vida continuava como se nada tivesse acontecido. O sol nasceu na mesma hora e a rotina de todas as vidas continuou a mesma: até a nossa, mesmo acrescida da dor. Eu saí pelas ruas por onde ele andou e tudo estava igual – o vento balançava os galhos das árvores, os pássaros cantavam, os cães vadiavam.As pessoas passavam por mim no mesmo passo apressado sem perceber que havia alguém que nunca mais passaria por ali. Mesmo assim continuamos a achar incompreensível que o mundo possa continuar sem nós.
Quando morremos somos iguais. Nada levamos conosco, nem mesmo as duas moedas esquecidas em algum bolso do vestuário. Iremos iguais. Ricos e pobres, exaltados e humilhados, vencedores e vencidos. Apenas iremos. No que se refere a esta vida aqui, fim. Depois, será depois e não tratarei desse assunto agora, porque é bem mais complexo. Estou realmente falando nesse pequeno ensaio, só da matéria. Aquilo que simplesmente vai se transformar, deixar de ser o que é para ser outra coisa material.
Juro que me espanto, mas não sei se não faria o mesmo: por que foi permitido a tão boa gente ir-se com a morte quando havia tantos sem merecimento que deveriam ir? Por que não conseguimos compreender que morrer não é castigo nem prêmio, mas contingência?
Peço desculpas por tantas perguntas aos quais não darei resposta. Não as conheço. São perguntas que faço a mim mesma, no silêncio dos meus pensamentos e que nem sei por qual razão resolvi exteriorizar. Talvez porque meu amigo tenha me dito que pode morrer a semana que vem. E eu não senti como se ele estivesse falando dele mesmo. Sim, ele pode. Mas eu também posso. Não só a semana que vem. Posso morrer agora. E se não morri, mesmo sendo possível que tivesse morrido, por que realmente não sinto isso? Por que apenas penso, mas nem mesmo me apavoro? Se morrer, morri. E a vida aqui vai continuar do mesmo jeito.
Por que será que nunca pensamos com sinceridade em nossa própria morte? Por que embora falando sobre ela sempre a tratamos como uma possibilidade, uma probabilidade, mas nunca uma certeza que pode ser imediata? Por que mesmo nos preparando para ela, o fazemos com tanta calma como se o dia do fato em si nunca fosse acontecer?
A morte é o único acontecimento inevitável em nossa vida. Todos os outros podem acontecer ou não, inclusive envelhecer, mas o único que acontece com todos que foram concebidos é a morte. Até o nascimento pode não ocorrer, mas a morte não, se chegamos a nascer temos que morrer, querendo ou não.
Quando eu era bem mais jovem pensava que quando chegasse a certa idade não conseguiria viver normalmente por causa da iminência da morte. Mas chegando a essa certa idade e até passando, vivo como se fosse uma criança intocável – não consigo pensar em: daqui a tantos anos estarei morta, ou não conseguirei ver certas mudanças anunciadas. E percebo o mesmo naquelas pessoas mais velhas que eu, pouco ou muito – fala-se da morte, mas não se sente a morte.
Conheço pessoas com sérias doenças, pessoas que estão com prazo de vencimento já vencido para a vida, mas que continuam bravamente a ter certeza de que: comigo vai ser diferente.Por que nos consideramos tão especiais assim? Por que achamos que o mundo vai parar quando morrermos?
Foi quando meu primeiro irmão morreu que realmente pensei nisso pela primeira vez: ele tinha morrido e a vida continuava como se nada tivesse acontecido. O sol nasceu na mesma hora e a rotina de todas as vidas continuou a mesma: até a nossa, mesmo acrescida da dor. Eu saí pelas ruas por onde ele andou e tudo estava igual – o vento balançava os galhos das árvores, os pássaros cantavam, os cães vadiavam.As pessoas passavam por mim no mesmo passo apressado sem perceber que havia alguém que nunca mais passaria por ali. Mesmo assim continuamos a achar incompreensível que o mundo possa continuar sem nós.
Quando morremos somos iguais. Nada levamos conosco, nem mesmo as duas moedas esquecidas em algum bolso do vestuário. Iremos iguais. Ricos e pobres, exaltados e humilhados, vencedores e vencidos. Apenas iremos. No que se refere a esta vida aqui, fim. Depois, será depois e não tratarei desse assunto agora, porque é bem mais complexo. Estou realmente falando nesse pequeno ensaio, só da matéria. Aquilo que simplesmente vai se transformar, deixar de ser o que é para ser outra coisa material.
Juro que me espanto, mas não sei se não faria o mesmo: por que foi permitido a tão boa gente ir-se com a morte quando havia tantos sem merecimento que deveriam ir? Por que não conseguimos compreender que morrer não é castigo nem prêmio, mas contingência?
Peço desculpas por tantas perguntas aos quais não darei resposta. Não as conheço. São perguntas que faço a mim mesma, no silêncio dos meus pensamentos e que nem sei por qual razão resolvi exteriorizar. Talvez porque meu amigo tenha me dito que pode morrer a semana que vem. E eu não senti como se ele estivesse falando dele mesmo. Sim, ele pode. Mas eu também posso. Não só a semana que vem. Posso morrer agora. E se não morri, mesmo sendo possível que tivesse morrido, por que realmente não sinto isso? Por que apenas penso, mas nem mesmo me apavoro? Se morrer, morri. E a vida aqui vai continuar do mesmo jeito.