Ensaio sobre a loucura
“Não é trancando seu próprio visinho que você convence sua própria loucura” Dostoievski
Olhar a vida através da loucura, entre mundos que acordam e adormecem brincado num lusco-fusco de sanidade e insanidade.
Tocando com dedos realidades que ninguém mais vê.
É preciso respirar, inalar a loucura, o mundo sem presa e seus contraditórios influxos.
O louco sente o mundo girar em seu próprio umbigo, não se assombra, não percebe tristezas tão facilmente.
O louco brinca com vênus, e não tem vergonha, tudo é seu, o mundo é seu, e ele o dá pra quem quiser.
Não há fadiga, não há rotina, talvez exista Bach e seus concertos, a música acalma os loucos, não é isso que dizem?
Loucos são fáceis de achar
Estão girando por aí
Como folhas levadas pelo ar
Nem querem saber onde vão cair
Loucos são os moinhos de vento
Loucos são seus pensamentos
E todos os tormentos escondidos
Ah, a insanidade… Será que é mesmo de verdade?
(Janaina Cruz)
Convide todos os tempos, a antiguidade clássica, Homero e seus deuses, Eurípedes e suas paixões, Hipócrates e seus sinais orgânicos, ponha tudo no seu liquidificador, depois acrescente a idade média, os padres que curavam a loucura nas fogueiras… Agora ofereça tudo a Freud, que não conseguiu explicar com exatidão esse ser especial.
Loucos são árvores de copas largas
Onde habitam esquecidos, abelhas e esquilos.
Onde a chuva cria sempre passagem.
O louco faz mil viagens.
E muda…
Sua alma fica muda?
Se seus passos estão à toa?
(Janaina Cruz)
Ah, a loucura, filha de dois deuses: Plutão e da Frescura, educada pela inebriação e pela ignorância. Decidiu ser diferente desde criança.
E que mal há em ser diferente, em ser contente mesmo quando não se deve?
Engana-se quem pensa que o louco é um prisioneiro dele mesmo, que os remédios lhe fazem sempre bem.
Auto depreciar-se, alargar-se , largar-se pelo mundo, não pertencer a ninguém…
Que corpo é esse que puseram em mim?
A minha alma é livre
Não quer ser assim!
Eu vejo figuras ardentes
Vejo o tempo que te tapeia.
Vejo as fêmeas e suas téias
Sou como o firme suicida
Mas renasço todo o dia…
(Janaina Cruz)
A sociedade teme os loucos, e já quis livrar-se da visão deles, trancafiando os em hospícios e manicômios . Porque o diferente causa tanto medo? Loucura não se transmite, talvez a loucura exista dentro de todos nós, mas em proporções diferentes, quem nunca cometeu um ato insano que atire a primeira pedra.
Sejam transfigurados
Inalgurem seus mundos e seus estados.
(Janaina Cruz)
A flor silvestre da loucura, principia seus segredos, como crianças que espalham seus brinquedos, não acumulam topázios, nem fabricam navios, alguns vagam em liberdade, outros atormentam e são atormentados.
Pra que pressa homem?
O mundo já acabou…
(Janaina Cruz)