ALGUNS PROBLEMAS DO PROFESSORADO

Ensaio sobre alguns problemas do professorado no Brasil

Recebi um e–mail que é a cara do Brasil na Educação. Este e–mail é um desabafo de professor. Mas, em parte, os professores formados na graduação não estão adequadamente preparados para lecionar. Essa é a minha opinião. A graduação serve apenas para dar um conhecimento geral e pífio da profissão, seja cursado em três ou quatro anos. Somente com a pós–graduação eles estarão aptos a lecionar para o ensino fundamental. Somente desta forma poderão reivindicar salários compatíveis e lutar por direitos e pelo respeito dos alunos em classe.

Falo com conhecimento de causa. Sou professora especialista em Língua Portuguesa pela Cogeae, e tive oportunidade de vivenciar o grau de conhecimento dos professores na graduação. Passei também pela experiência em classe do ensino fundamental e posso dizer a vocês que foi uma experiência traumática, dolorosa e massacrante. Lecionei apenas 2 meses e parti para outro campo de trabalho. Não aguentei o nível de educação e desrespeito dos alunos em classe – e fora dela também. Vejam vocês a que ponto chegamos. Um aluno de 7ª série, cobrado em classe por um trabalho de redação, virou o corpo para frente, pois estava sentado de costas para a professora, como se ali nada estivesse acontecendo, e colocou um revolver em cima da carteira, e olhando bem na minha direção, perguntou–me: você tá falando comigo, pssora? O que que ca pssora qué sabê?

O desrespeito à figura humana e da mestra à sua frente não significava absolutamente nada para o "delinquente". Não era um adulto, era um adolescente mal formado, sem um mínimo de educação familiar. Ele estava dando a mim e aos colegas o que recebia em casa, isto é, nenhum conceito de respeito pelos professores e colegas de classe. Não se pode dar o que não se tem. Aliás, os pais de aluno entendem a escola como o local em que se tem obrigação de ensinar e educar. Eles precisam trabalhar e jogam para os professores a tarefa de educar seus filhos.

Há que se fazer uma revolução no sistema de ensino do país. Estamos esperando a décadas que mudanças ocorram, mas... Não é por falta de competência dos órgãos educativos, mas por falta de competência do governo federal. O cargo de Ministro da Educação precisa ser preenchido por um elemento do mais alto escalão da Educação. Um catedrático competente que se proponha a fazer mudanças na área. Não pode ser um cargo político. Tivemos experiências negativas no setor educacional, mas também tivemos elementos decididos a mudar o sistema. Mas o Ministério é um cargo político e por este motivo não houve tempo hábil nem chance do Ministro em questão efetivar as reformas propostas. E o tempo passou e o caos já instalado recrudesceu.

Para ilustrar a situação caótica em que nos encontramos e para uma maior avaliação do estado em que se encontram as escolas e faculdades devo esclarecer o seguinte: Na graduação – cursei Letras na FAI de São Paulo – tivemos dois alunos jovens que já lecionavam em escolas particulares com apenas 6 meses de curso. O que esperar de um professor com apenas 6 meses de curso? O que deve ter acontecido em classe quando os alunos perceberam a incompetência do professor com menos conhecimento de conteúdo que eles? Após três anos de curso, os formandos conscienciosos partiram para outras áreas. Não só pelo pouco preparo e muito sacrifício para freqüentar as aulas noturnas –, mas também pelo salário nada convidativo. O salário de um professor do ensino fundamental é apenas renda familiar. Não dá para sustentar uma família na capital de São Paulo.

Não vou entrar no mérito da questão Ensino fora das capitais. Conheço apenas de leitura e de casos relatados em classe. Mas se na periferia da capital de São Paulo ocorrem casos de professores mal formados lecionando, imaginem no sertão de Goiás, no sertão nordestino, nas cidades ribeirinhas de Manaus.

A educação no Brasil está caótica. E não é apenas no ensino fundamental, não! Está caótica em todos os níveis. Haja vista, a ocorrência – há poucos dias atrás, numa sala de cirurgia – que levou uma paciente a óbito por falta de competência profissional dos assistentes de um cirurgião famoso. Essa foi a ocorrência mais recente. A nossa memória é curta. Esquecemos de outros casos de incompetência médica com facilidade, porque não ocorreram com nossos familiares. Indivíduos mal formados no ensino fundamental "seguem aos trancos e barrancos" pela vida a fora e nas universidades do país. Seguem carregando a sua incompetência até o fim da vida. São indivíduos despreparados, entrando no mercado de trabalho e provocando acidentes na engenharia, na medicina, no campo jurídico, enfim...

A EDUCAÇÃO no Brasil, o conceito educacional, precisam ser revistos. Precisamos nos aprofundar nas necessidades, nas carências do povo de baixa renda. Distribuir, à mancheias, dinheiro " bolsas tudo" e merenda não prepara crianças para o futuro próximo. São paliativos apenas. Sem educação vamos continuar sendo um país de terceiro mundo. Sem educação fundamental alicerçada em princípios, em ética, em conhecimentos gerais, valores familiares, respeito ao próximo, não chegaremos à parte alguma. Vamos continuar patinando no lodaçal da ignorância em que estamos afundados. Pessoas mal preparadas intelectualmente não encontram caminhos para o desenvolvimento social e para o crescimento pessoal.

Vamos lutar, meus amigos! As eleições estão aí, neste ano de 2010. Vamos fazer valer os nossos direitos à cidadania. Nem tudo está perdido... Temos homens muito competentes na administração e na política que farão, espero, o que tem que ser feito... Vamos nessa!!!!!!!!!!

Esturato
Enviado por Esturato em 30/07/2010
Código do texto: T2409190
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