Rabindranath Tagore
Aqui passo a relatar uma celebridade impressionantemente mística que mexe comigo:
Rabindranath Tagore - 07/05/1861-07/08/1941
Poeta, contista, dramaturgo e crítico de arte hindu, nascido em Calcutá,o foi o maior poeta moderno da Índia e o gênio mais criativo da renascença indiana.
Além de poesia, Tagore escreveu canções (letras e melodias), contos, novelas, peças de teatro (em prosa e verso), ensaios sobre diversos temas incluindo críticas literárias, textos polêmicos, narrativas de viagens, memórias e histórias infantis: O Jardineiro, O Carteiro do Rei, e Pássaros Perdidos. Grande parte de sua obra está escrita em Bengali. Gitanjali (1912), uma tradução e interpretação de uma obra poética em Bengali do original de 1910 fez com que Tagore ganhasse o Prêmio Nobel de Literatura em 1913.
Seu pensamento abriu novos caminhos para a interpretação do misticismo, procurando atualizar as antigas doutrinas religiosas nacionais. Colaborou em revistas americanas, tendo obras publicadas em francês, inglês e espanhol . Realizou conferências no Uruguai, Argentina, França, Estados Unidos. Recebeu o título de "Doutor Honoris Causa e Membro Honoris Causa" de universidades e associações do Brasil e outros países, e de Oficial da Legião de Honra da França e da Ordem do Leão Branco da Tcheco-Eslováquia.
Algumas obras famosas em trechos: Verdades,Se Não Falas, Gitanjali, Cantar me Enlouquece, Flor deLótus, Poema da Despedida...
Trecho do livro Nas Margens do Ganges: “Da mesma forma que o Ganges, na estação das chuvas aumenta gradualmente de volume e transborda, assim Kusum se aproximava, dia a dia, da plena floração de beleza. Mas com vestes brancas e sem enfeites, de rosto pensativo e atitude calma, lançavam-lhe um véu sobre a juventude e ocultavam-na, como uma bruma, aos olhos dos homens. Dez anos tinham decorrido sem que ninguém reparasse que Kusum se desenvolvia”.
Poemas almos como:
Se não Falas
"Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.
Presente de amante
Ela está perto de meu coração, tão linda quanto uma flor no jardim; é suave, como é o descanso para o meu corpo. O amor que lhe tenho é minha vida fluindo plena, como corre o riacho nas manhãs de outono, em sereno abandono. Minhas canções são únicas como meu amor, como é único o murmúrio de um rio que canta com todas suas ondas e correntes".
Pergunta
"Deus, mais uma vez ao longo dos tempos,
enviaste mensageiros
Para este impiedoso mundo:
Eles disseram, «Perdoa a todos», e disseram, «Ama o próximo -
Liberta o seu coração do mal.»
Eles são venerados e lembrados,
embora nestes obscuros dias
Os mandemos embora com insensíveis cumprimentos,
para fora das nossas casas.
E entretanto vejo dissimulados ódios
assassinando os desamparados sob a capa da noite;
E a Justiça a chorar silenciosamente, furtivamente,
o abuso do poder,
Sem esperança de redenção.
Vejo jovens a trabalhar freneticamente,
Aflitos, batendo com a cabeça na pedra, inutilmente.
Hoje a minha voz calou-se;
não tenho música na minha flauta;
A negra noite sem lua
Encarcerou o meu mundo, mergulhando-o num pesadelo.
E é por isso que, com lágrimas nos olhos, pergunto:
A esses que envenenaram o teu ar,
a esses que apagaram a tua luz,
Será que lhes perdoaste? Será que os amas?"
Meu Coração
"Eu perdi o meu coração no empoeirado caminho deste mundo;
Mas tu o tomaste em tuas mãos.
Eu buscava alegria e apenas colhi tristezas;
Mas a tristeza que me enviaste tornou-se alegria em minha vida.
Os meus desejos se espalharam em mil pedaços;
Mas tu os recolheste e os reuniste em teu amor.
E enquanto eu vagava de porta em porta,
Cada passo meu estava me conduzindo ao teu portal".
(49, livro "Travessia")
No livro Coração de Deus, o filósofo clássico Tagore, traz 77 inspiradores poemas místicos, em cuja introdução, o editor Herbert Vetter afirma: "Rabindranath Tagore é um dos poucos representantes de pessoa universal a quem o futuro do mundo pertence”.
Estas sublimes preces-poemas mostram exemplos do amor de Tagore pelo Hinduísmo, sua reverência a Buddha, seu respeito a Jesus e sua dívida ao místico Kabir. Alguns dos temas presentes em suas preces envolvem a dependência de Deus, gratidão, alegria, reverência e um reconhecimento das dificuldades da vida.
Nas palavras de Tagore encontramos: “Não rezemos para sermos protegidos dos perigos, mas para sermos destemidos diante dos mesmos”.
Obras como as orações contidas neste livro levaram Rabindranath a se tornar, em 1913, o primeiro asiático a ser agraciado com o Prêmio Nobel da Literatura. Para premiá-lo, o Comitê da Fundação Nobel comparou sua obra à de Tolstoi, Ibsen,Strindberg, Yeats e George Bernard Shaw. A premiação relevou a força incomparável das orações simples da vida comum. Em sua introdução aos primeiros escritos em inglês de Tagore (Song Offerings, Gitanjali), W.B. Yeats nos revela que, levando o manuscrito em suas viagens de trens e ônibus, freqüentemente ele tinha de fechá-lo para que desconhecidos não percebessem o quanto estava emocionado. Os poemas em oração de Tagore são afirmações comoventes e poderosas que não se dissociam das tragédias da vida.
Com preces e poemas simples e profundos Tagore revela sua alma e a de todos nós, colocando em palavras um amor que transcende compreensão, tempo ou qualquer metodologia. Seus escritos são uma carta de amor a Deus, humana, real e afetuosa.
Espero que o documentário seja do agrado de todos, assim como me é.
Santos-SP-10/09/2006