Prá frente Brasil (Parte II)
Pra frente Brasil! (Parte II)
Os dias transcorriam na celeridade dos meus dezenove anos, sempre fazendo o trajeto casa-trabalho, trabalho-casa, já com a Copa do Mundo de futebol em andamento, sendo disputada no México e mostrada, pão vivo, na televisão pela primeira vez na historia.
Assisti a alguns jogos no aparelho de televisão do seu Pedro, um espanhol que morava logo acima da casa de tia da Glória, e para onde acorriam todos os moradores da vizinhança, encantados com a tremenda novidade. A mulher dele, uma baiana bem falante, gostava muito de mim, fato que me proporcionava um lugar privilegiado diante do tal aparelho, no qual se colocava uma sobre-tela para se ter uma impressão de visualizar as imagens em cores.
“Todos juntos vamos, prá frente Brasil! Salve a seleção.” poluía os nossos ouvidos, assim como o chamamento pseudo-patriótico “Brasil: ame-o ou deixe-o.”
Eu não sabia direito o que estava acontecendo no país, mas sempre notava as caras graves dos locutores lendo pronunciamentos sombrios dos generais de então, liderados por um zangado Garrastazu Médici, cujo nome já nos deixava com calafrios...
Íamos, eu e meu tio Moisés, de ônibus desde a Vila Silviânia, aonde morávamos, até próximo da fábrica de tintas, percorrendo a pé uns dois quilômetros, trecho que aproveitávamos para conversar um pouco, apesar do meu tio não dispor de um vocabulário muito extenso. Ele se achava muito orgulhoso de mim, por ter sobrevivido ao duro teste do trabalho com a cal na empresa, teste que espantava muita gente, fazendo a maioria desistir do trabalho. Lembrávamos também dos tempos em que ele comercializava farinha na feira de Itabuna, quando eu também o ajudava.
Meu tio Moises era um bom homem, sólido e triste como a maioria dos operários de todo o mundo, sempre a viver como bois caminhando para o abate.
Estoura então uma tremenda novidade na Tintas União: Zé Alberto, o escriturário, pede demissão e vai para outra empresa, em busca de melhor remuneração.
Primeiro levam o Joaquim para substituí-lo, mas, como a caligrafia do Joaquim não era muito boa, resolveram testar a mim.
Que beleza, sentar naquele escritório, um telefone ao lado da mesa e o vapor da cal bem distante de meu nariz.
Chiquinho, o gerente, um louro baixinho e de poucas palavras, passou a confiar a mim a emissão das notas fiscais, trabalho que eu desempenhava com muita satisfação. Melhor ainda foi perceber que o telefone podia proporcionar algo mais do que os insípidos telefonemas da Matriz ou de algum cliente querendo saber de sua mercadoria...
Um dia, logo pela manhã, a monotonia dos dias no escritório foi quebrada por uma doce voz perguntando do Zé Alberto. Informei-lhe que ele havia saído da empresa:
“Mas você não sabe prá onde ele foi?”
Eu nunca havia antes escutado voz com nuances tão delicadas. Fiz o melhor que pude para consolar a menina, que logo declinou o seu nome para mim: Mara...
Mais alguns dias e eu estava namorando com ela, provando do melhor beijo que jamais havia provado até então, agradecendo ao Zé Alberto pela “herança” que havia me deixado. Nossos encontros se davam entre as árvores que enfeitam a frente do hospital em que ela trabalhava como enfermeira, sempre depois do meu expediente no escritório.
Era uma deliciosa tortura, trocarmos aqueles abraços bem apertados, beijos bem molhados, e nada mais. Eu voltava para casa com a cabeça a mil, louco para descobrir o que aquela moreninha escondia dentro daquele uniforme de enfermeira.
Tempos depois, Mara me convida para um baile que iria haver em Cotia. E sábado, a noite, chego ao local combinado, o salão onde haverá o baile.
As horas passam e nada de Mara aparecer, restando-me apenas observar os casais dançando, já antevendo uma noite completamente perdida.
Eis que, lá pela meia-noite, uma loura se aproxima de mim acompanhada do namorado e mais uma companheira. Entabulamos conversação e observo claramente a intenção da loura de me colocar a amiga nas mãos, deixando-a livre com o namorado.
Não me fiz de rogado: logo estávamos a dançar, a morena e eu...
Quando o baile estava para terminar a moça loura vem me comunicar que não poderiam mais voltar para casa, e que ela e o namorado pretendiam passar a noite em um hotel de Vargem Grande, cidade próxima de Cotia, segredando-me ao ouvido que levasse a amiga dela comigo.
E lá fomos os quatro para o hotel.
Eu e a minha parceira combinamos que dormiríamos num quarto com duas camas, para preservá-la. Não opus qualquer resistência ao arranjo, já que tudo o que viesse naquela malfadada noite em que Mara me deixara falando sozinho, seria puro lucro.
Ficamos os dois sozinhos em nosso quarto, ela se preparando para deitar na cama que havia preparado. Sentei junto com ela na beirada da cama e começamos a nos beijar. Toquei de modo suave os seus seios, sentindo a rigidez dos mesmos sob o tecido leve da camisa que ainda vestia. A fraca resistência dela durou até que eu me colocasse entre suas pernas, pressionando o seu púbis com o meu membro vindo de uma espera de mais de dois anos...
Fui retirando com vagar as suas calças, ouvindo protestos de uma virgindade que prometi honrar. Só não prometi que lhe daria a Lua porque não me lembrei, em face do imenso desejo que me consumia.
A calcinha dela voou para o alto, enquanto eu mergulhava naquela curvinha úmida, na qual não havia nenhum resquício de virgindade tão chorosamente propalada, penetrando-a com toda a volúpia de minha juventude e arrancando-lhe, se não a virgindade anunciada, múltiplos gemidos entremeados de suspiros de satisfação.
Só fomos acordar lá pelas dez horas da manhã de um domingo ensolarado, ela ainda aninhada em meus braços.
Depois de tomarmos o café da manhã, deixei a minha parceira com a sua amiga e peguei o ônibus de volta para a casa de minha tia, com a firme intenção de nunca mais falar com Mara, projeto que cumpri à risca, apesar de seus inúmeros telefonemas, aos quais fiz questão de não atender nenhum deles.
E da menina do baile, a falsa virgem, ficou-me a lembrança de sua figura morena, enfeitada por uma negra cascata de cabelos.