Os Exilados de Moscou - A perseguição aos poetas russos no alvorecer do comunismo.
A ideologia comunista como meio de igualar direitos e deveres sociais, mergulhou num abismo profundo oculta sob a proteção rígida da Cortina de Ferro. O objetivo máximo da revolução era criar uma sociedade alheia às diferenças inerentes à alma humana. Na aldeia comunista, ninguém podia pensar. O pensamento humano deveria estar plenamente de acordo com os interesses governamentais do partido ou o pensador autônomo se veria envolvido em graves problemas.
O conceito de partilha territorial e racionamento de bens de consumo passou da teoria à prática de forma radical e impensada. Não se cogitou a possibilidade de uma rebelião originária da alma dos soviéticos; uma revolução dos desejos e dos sonhos pessoais amordaçados e submetidos ao falso esquecimento.
A depressão aumentou, o nível de suicídio subiu, o consumo de vodka ultrapassou todas as fronteiras do aceitável; mas a hierarquia governamental soviética fingiu que não viu.
Em meio ao caos da opressão, a arte manteve-se fiel ao seu princípio sublime: revelar o que se vê.
O calcanhar de Aquiles russo estava escondido justamente aí, na cabeça dos homens que pensam. E em meio ao caos de uma revolução, a alma grita com ainda mais força.
O que se viu na antiga URSS comunista foi uma barbárie. A intenção de calar o sentimento e a sofreguidão humana foi de uma ambição dantesca. A idéia de fazer dos soviéticos homens inteiramente iguais nas necessidades e no pensamento só poderia naufragar em meio a um oceano escuro e sem rota de direção.
E como o espírito da arte é incorruptível, ele manteve-se íntegro e, nos momentos mais cruciais, manifestou-se com altivez nas vozes de seus poetas russos. Porém, cuidado! Os homens que pensam não podem ser bem vindos. Se alguém escuta, todos poderão acordar e perceber que o pesadelo é real.
E aí vem eles: Feodor Dostoyesvsky (exilado na Sibéria como prisioneiro após escapar da pena de morte.); Ivan Turguenev (exilado na França após ser expulso da pátria soviética); Alexander Pushkin (morto em duelo por armação do czar); Anton Chekhov (perseguido pelo governo por denunciar as condições vexatórias impostas aos prisioneiros); Máximo Gorky (expulso da Academia de Ciências do Czar); Boris Pasternak (viu reduzida sua tarefa a de tradutor, para que fosse impedido de pensar por si mesmo); Ossip Mandelstam (exilado para a Sibéria até seus últimos dias); Anna Akhmatova (proibida de publicar seus escritos sob a censura do regime de Stalin); Maiakovski (perseguido pelas autoridades stalinistas, suicidou-se em 1930).
A lista de poetas e escritores russos vítimas da intolerância governamental é inacreditavelmente extensa. No auge do regime comunista ortodoxo, era vetado ao artista qualquer forma de manifestação contrária às intenções do partido. Mas a colônia dos poetas manteve-se ativa. Os poetas produziam seus poemas e o faziam transitar entre as rodas intelectuais anárquicas. Logo, todos estavam cientes da circulação do novo poema e o poeta tornava-se consagrado no âmbito obscuro dos revolucionários mudos. A poesia driblava a censura e permitia que a chama da liberdade de expressão se mantivesse acesa no interior de cada indivíduo russo.
A poesia e a literatura são armas tão poderosas quanto o armamento pesado voltado para a Praça Vermelha. É por isso que o artista não pode esquivar-se da verdade. O covarde retira-se na hora da guerra. O bravo manifesta-se.
Os exilados de Moscou falaram tão alto que suas vozes ainda ecoam em nossas vidas. A realidade do poeta contemporâneo não está distante do momento soviético dos séculos passados. Ainda estamos lutando contra as forças de opressão da massa ignorante. Ainda incomodamos. Ainda nos é necessária a coragem extrema.
Portanto, mais uma vez, fica aqui a mensagem, ser poeta é assinar um pacto eterno com a verdade e com a revolução intelectual para que seja fonte de inspiração e consolo para as futuras gerações.