O que é ser nacionalista?

Para falar do que é ser nacionalista, é necessário definir o que é nacionalismo. E, antes disso, é preciso se falar o que é nação. Já dá para notar que a tarefa não é nada fácil, não é?

Um conceito bastante simples com o qual posso começar a trabalhar para esclarecer esse assunto é do geógrafo Matt Rosenberg: “Nações são grupos humanos culturalmente homogêneos, maiores do que uma tribo ou uma comunidade, que dividem as mesmas línguas, instituições, religiões e experiências históricas”. O jurista brasileiro Darcy Azambuja complementa esse conceito de uma maneira muito contundente e interessante: “Nação é um grupo de indivíduos que se sentem unidos pela origem comum, pelos interesses comuns e, principalmente, por ideais e aspirações comuns. Nação é uma entidade moral no sentido rigoroso da palavra. Nação é muita coisa mais do que povo; é uma comunidade de consciências, unidas por um sentimento complexo, indefinível e extremamente poderoso: o patriotismo.”

A nação é, portanto, algo abstrato, mas isso não faz dela algo irreal, ilusório. A nação é a alma coletiva de um povo, uma identidade construída ao longo de séculos de experiências históricas, de conflitos, de vitórias, de derrotas, de reviravoltas - o historiador Joseph Ernest Renan arremata com propriedade ao dizer que “a nação, como o indivíduo, é o resultado de um longo processo de esforços, de sacrifícios e de devotamentos.” A nação é formada pelos antepassados e pelas gerações futuras. O sentimento patriótico é o que dá melhor forma à nação, que lhe dá os contrastes mais discerníveis. Nação e pátria são, pois, conceitos com uma relação muito intensa.

Podemos extrair do bojo dessa discussão o que é nacionalismo. O nacionalismo é o sentimento de exaltação da nação. Ressalto aqui que nação nada tem a ver com Estado, pois há exemplos de nações que não possuem tal tipo de estrutura – cito os romani, os judeus (até menos de um século atrás) e os curdos. Portanto, essa exaltação à nação refere-se ao povo, à população; os interesses nacionais defendidos nesse processo são, pois, interesses da coletividade nacional, e dão das estruturas oficiais (ou oficiosas) de poder.

As raízes do nacionalismo encontram-se firmemente enterradas na antiguidade oriental: mesopotâmios, persas e egípcios apresentavam, em suas culturas, traços nacionalistas primitivos. O nacionalismo como o conhecemos surgiu na Idade Moderna e foi demonstrado de modo bastante claro em movimentos como a Revolução Francesa, a Guerra da Independência dos EUA e as reunificações alemã e italiana. Durante o período da Segunda Guerra, foi reiteradamente usado de maneira deturpada como bandeira pelos ideários totalitários, notadamente o Nazismo e o Fascismo, bem como as doutrinas políticas neles inspiradas. Ainda hoje, o nacionalismo é visto como uma característica específica de movimentos nazi-fascistas e análogos. Isso gera algumas contradições que, daqui a pouco, pretendo esclarecer.

Tendo exposto tudo isso, posso chegar ao cerne do texto: o que é ser nacionalista? Respondo: é, primordialmente, cultivar o sentimento do nacionalismo. Ser nacionalista é amar a pátria e a nação; é conhecer e respeitar os símbolos nacionais; procurar conhecer cada vez mais a trajetória da nação ao longo dos anos; e é, principalmente, defender os interesses nacionais não somente com palavras, mas com atitudes.

O caso brasileiro parece mais complexo que o de outras nações. Nosso povo tem formação multiétnica e multicultural, transformando nossa nação numa imensa colcha de retalhos. O sangue que corre em nossas veias é um sangue de muitas cores, de muitas raças: somos negros, índios, brancos e asiáticos. Nossa nação foi formada por nagôs, haussás, tupinambás, guaranis, portugueses, alemães, italianos, árabes e japoneses, uma infinidade de gentes. Ainda assim, nos vemos como brasileiros. A despeito das diferenças regionais, temos uma cultura homogênea, um credo religioso discernível como nosso – o Brasil é a maior nação católica do mundo –, uma língua própria e uma pátria que nos une a todos. Diante disso, repito a pergunta: o que é ser nacionalista?

Ser nacionalista é ter orgulho da miscigenação racial e cultural que nos forma como brasileiros. Ser nacionalista é lutar pelos interesses nacionais: escolas que proporcionem um ensino decente e de qualidade, não somente com relação às matérias básicas, mas também com a vivência cidadã e cívica; uma polícia bem preparada que proteja quem merece ser protegido e reprima quem merece ser reprimido; um sistema público de saúde que atenda melhor as necessidades da população; um Estado mais eficiente, sem corrupção, sem “burrocracia”, que aloque os recursos públicos onde devem e que seja regido pelos ditames Ordem e Progresso. Ser nacionalista é lutar por um Brasil melhor para todos nós e para as gerações vindouras.

O verdadeiro sentimento nacionalista não se constrói nem se alimenta de injustiças. Xenofobia, racismo, supremacismos e outros venenos dessa categoria apenas destroem a nação, contribuem para fomentar a diferença de maneira prejudicial e desviam perigosamente o foco de toda a questão: o desenvolvimento da nação. O verdadeiro nacionalismo também não faz pouco de outras nações nem as deprecia: ele respeita as outras nações e é capaz de reconhecer suas experiências bem-sucedidas e discutir sua possível aplicação no Brasil, mas com bom-senso, sem excessos nem precipitações.

O Brasil não precisa de gente acomodada sempre alerta para alardear críticas destrutivas e nada práticas contra o governo, os políticos e toda essa situação lamentável que presenciamos cotidianamente. Isso já existe aos montes. O Brasil precisa de gente que arregace as mangas, que lute por ele e que o construa forte, firme e digno.

“O patriotismo tudo vence.”

Ruy Barbosa