Diálogo Absurdo
Nota: fato verídico
Rapaz - Posso te dizer uma coisa?
Mulher - Já disse cinco.
Rapaz - Como assim?
Mulher - Você me perguntou se podia me dizer uma coisa, são cinco palavras, por tanto, são cinco coisas.
Rapaz - Deixa eu começar novamente...
Mulher - Não, vai dai mesmo.
Rapaz - Como assim?
Mulher - Você queria voltar para o início quando já estamos no meio.
Rapaz - No meio de que?
Mulher - No meio da conversa.
Rapaz - Essa conversa chegou no meio muito rápido...
Mulher - Eu sou muito pratica.
Rapaz - O que eu queria dizer...
Mulher - Se não quer, não diz.
Rapaz - Como assim?
Mulher - Você queria, no passado. Não quer, então não diz.
Rapaz - Mas eu não disse nada...
Mulher - Claro que você disse, você ta falando desde o início da conversa e olha que para o final falta pouco.
Rapaz - Eu vou ficar calado.
Mulher - Eu não disse.
(Pausa longa)
Rapaz - O que você disse?
Mulher - Eu? Nada.
Rapaz - Você disse: eu não disse.
Mulher - Mais isso foi antes da pausa. Já passou.
Rapaz - Triste, você pode até ter razão, mas é triste essa sua razão.
Mulher - Você ta falando de quê?
Rapaz - Isso eu ouvi numa peça de teatro.
Mulher - Peça só pode ser de teatro, não precisa dizer peça de teatro, basta você dizer peça.
Rapaz - É ai que você se engana, tem peça de carro, peça de tabuleiro, peça... tem um monte.
Mulher - Peça de pizza.
Rapaz - Como assim?
Mulher - Você tem mania de "como assim".
Rapaz - Como assim?
Mulher - A porra!
(Rapaz chora)
Mulher - Por que você ta chorando?
Rapaz - Você nunca falou assim comigo.
Mulher - Talvez porque nunca tenha lhe visto antes, te conheça a um minuto.
Rapaz - Mas eu me envolvo rápido.
Mulher - Você é meio doido!
Rapaz - Meio doido, meio normal, empatou, to otimo!
(Pausa média)
Rapaz - Eu ainda preciso lhe dizer... dizer...
Mulher - Dizer?
Rapaz - Tá difícil formular uma frase sem esbarrar na sua exigência.
Mulher - Diz logo.
Rapaz - Eu estava ali, olhando para você...
Mulher - Está peça tá sem conflito...
Rapaz - Que peça?
Mulher - Esta, ora. Você ta vendo outra peça.
Rapaz - E isso por acaso é uma peça? Eu me recuso a ser um mero personagem.
Mulher - Fora daqui é a morte!
Rapaz - Você está me assustando.
Mulher - To brincando... Não se pode mais brincar.
Rapaz - Não com uma coisa dessas.
Mulher - Se você fosse um personagem, qual seria?
Rapaz - Seria Hamlet.
Mulher - Qual?
Rapaz - Hamlet.
Mulher - Qual?
Rapaz - Hamlet.
Mulher - Qual?
Rapaz - H.A.M.L.E.T - Hamlet.
Mulher - Você sonha alto.
Rapaz - E você, não?
Mulher - Não.
Rapaz - Não o que?
Mulher - Como assim?
Rapaz - Você disse: Não.
Mulher - Eu não disse não.
Rapaz - É claro que você disse não.
Mulher - Não, não, não.
Rapaz - Porque estamos brigando?
Mulher - Eu não sei...
Rapaz - Então, vamos parar.
Mulher - Tá.
Rapaz - Tá
Mulher - Tá
Rapaz - Tá
Mulher - Tá
(Pausa)
Rapaz - Você acredita em amor a primeira vista.
Mulher - Acredito.
Rapaz - Eu também acreditava. (Sai)