Inteligência emocional



Confesso que tenho sérias restrições contra o conhecimento que é difundido como cultura de massa. Invariavelmente, em nome da democratização do saber isso costuma desembocar num reducionismo que tenta simplificar tudo a tal ponto que desnatura e corrompe o próprio conhecimento. Também, dá margem à criação de falsas ciências, equivocados ideais e toscas filosofias que, em si, imaginam poder criar um manual prático para quase tudo, como se o ser humano pudesse evoluir de alguma forma sem sacrifício, sem estudo e sem trabalho.

Um dos modismos criados por essas falsas ciências modernas é a chamada “inteligência emocional”. Na prática, por mais que lhe queiram dar uma roupagem sofisticada, esse conceito nada mais apresenta que não a proposta de treinar racionalizações para abrandar impulsos emocionais indesejados. É método artificial que camufla o comportamento externo de maneira a omitir as revoluções internas. Não educa a emoção; só disfarça a atitude.

As filosofias orientais – milênios à frente da cultura ocidental – já cuidam disso de maneira efetiva há muito tempo. A partir delas, concebe-se que o indivíduo não é o que ele pensa, tampouco é o que ele sente; o ser humano “é” e ponto! Pensamentos e emoções são manifestações do indivíduo e não podem ser confundidos com sua essência, propriamente dita.

Carl Gustav Jung desenvolveu seu conceito de “self” a partir disso. Roberto Assagioli, junguiano de carteirinha e que foi complementar sua formação em vivências com Madame Blatavsky, dedicou sua vida à “psicossíntese” que, em si, trata do mesmíssimo tema que a chamada “inteligência emocional”, porém, o faz de forma conseqüente, prática e eficaz, porque aponta a essência do indivíduo – o tal do “self” – como centro de controle das manifestações objetivas e subjetivas e, nesse contexto, inclusive pensamentos e emoções.

Portanto, muito mais relevante que ficar compilando frases e idéias prontas para tentar adestrar as emoções, muito melhor seria que cada indivíduo dedicasse algum tempo de sua formação para desenvolver o senso crítico e a assertividade e isso, por si só, seria suficiente para inibir agressividades, passividades, frustrações e recalques, frutos de quem equivocadamente acredita que está seguindo o que o coração manda.

Pensamentos e emoções são funções de potência equivalente e, a despeito de assumirem de maneira eventual e efêmera o comando das ações dos indivíduos, são diferentes facções no ânimo dos seres que se utilizam de táticas de guerrilha para sabotarem-se mutuamente, até que algum poder maior lhes imponha disciplina e bom senso. Ou seja, enquanto os pensamentos e emoções forem guiados por reações e impulsos inconscientes ficarão nessa eterna disputa pelo controle da vida dos seres. A cada um compete tomar consciência de si mesmo e assumir o controle da própria vida definindo um lugar para cada coisa e mantendo cada coisa em seu lugar.