Lei da atração x Lei de causa e efeito
Está na moda, novamente, falar sobre “lei da atração”, induzindo a todos de que, por mera intenção mental, se possa conseguir sucesso e prosperidade. Já se assistiu a esse filme várias vezes e, certamente, é uma refilmagem bem mal feita. Houve os tempos de se endeusar o “pensamento positivo” e o “poder do subconsciente”. Poder-se-ia, aqui, ainda, ficar discorrendo longamente sobre “o poder da prece”, “alquimia mental” e outros quetais. Essa “novidade” é tão antiga quanto a descoberta do fogo, só que ressurge, de tempos em tempos, sob nova roupagem.
Não se pretende, com isso, desdizer o óbvio, isto é, que tudo quanto se crie no mundo à nossa volta seja, originariamente, fruto de uma concepção volitiva, inteligente e subjetiva que, em maior ou menor grau, interfere na consecução da realidade objetiva.
Contudo, partamos do princípio de que, de fato, exista um ser absoluto, cuja vontade inteligente tenha, originariamente, criado as parcelas relativas deste nosso universo ainda pouco compreendido.
Portanto, esse ser absoluto e causa originária de todas as coisas emanou suas verdades sob formas, conceitos e condições, conforme sua concepção e vontade e, em sendo absoluto, tudo quanto tenha criado obedece a tais leis que, em si, são inderrogáveis – caso contrário, sua essência absoluta padeceria de um paradoxo relativo ilógico e, certamente, imoral.
Isso tudo está muito subjetivo e filosófico demais. Talvez seja melhor trazer o tema para níveis menos densos.
Vamos para um exemplo mais palpável na realidade cotidiana. É pressuposto bastante razoável que a lei da gravidade seja aceita por toda a humanidade. É irrelevante se alguém entenda os fundamentos da física que lhe dêem explicação sobre a lei da gravidade. Todos sabem sobre tal lei e lidam com ela o tempo todo. “Tudo que sobe, desce”, apregoa o dito popular.
Portanto, imagine-se que alguém se poste ao lado de uma pilha de tijolos e comece a lançá-los verticalmente ao ar, acima de si. Quantas tentativas seriam necessárias até que um dos tijolos lhe atingisse a cabeça? Essa resposta é irrelevante. Contudo, não é razoável imaginar-se que a lei da gravidade possa ser, pela vontade de quem quer que seja, derrogada de uma hora para outra e que os tijolos passem a flutuar, somente para atender aos interesses de um ser em específico; mesmo que ele tenha a maior fé dentre todos os seres humanos.
Alguém dirá que há homens, sagrados ou não, que dominam ou dominaram a arte da levitação. Sinceramente, não creio que aqui seja o momento oportuno para se discorrer em detalhes sobre como lidar com as leis gravitacionais, para que um tal efeito se consume na prática. Mesmo nesse caso, a lei da gravidade continua existindo e, da mesma forma que, por efeitos aerodinâmicos em relação à atmosfera, corpos pesados possam voar, há efeitos anímicos similares. O que interessa é que, não há vontade que possa fazer com que uma lei natural, de contornos absolutos, possa ser derrogada.
Alguém dirá, também, que ninguém pode negar que há, vez por outra, inequívocos efeitos pelo exercício do poder da fé, do poder da mente, do poder do pensamento positivo, ou que outra denominação se queira dar. Isso é uma verdade.
Contudo, não basta se valer da “lei da atração”, ou do “pensamento positivo” ou do que quer que seja. É necessário que, ao colocar tais mecanismos em prática, tenha-se em mente uma outra lei absoluta que, essencialmente, parece ser desconsiderada por muitos, qual seja, que não é lícito que alguém possa ferir a outro alguém – tampouco, a si mesmo. Da mesma forma que se podem lançar tijolos ao ar, porém, se deve aguardar, sem dúvida, que a própria cabeça sofrerá os efeitos disso. Provocar as leis naturais – sob um ânimo esotérico ou não – para a obtenção de intentos próprios, certamente, pode chegar num mesmo resultado.
Vale dizer, ao usar-se a fé como conforto e a força da mente como dínamo, deve-se levar em conta que não se pode prejudicar a ninguém, caso contrário, isso haverá de surtir algum tipo de tijolada, mais cedo ou mais tarde. A isso costuma-se chamar de lei de causa e efeito – base fundamental do conceito de “carma”.
Não é incomum que se veja, por aí afora, pessoas bem intencionadas dizendo: “Sou filho de Deus, Ele me protege e se eu sou por Ele e Ele por mim, nada nem ninguém poderá contra nós”. Louvável postura, desde que se observem os mesmos conceitos anteriormente relatados. Afinal, se alguém ficar jogando tijolos para cima é pouco provável que fique ileso, por mais que a paternidade divina lhe ampare, porque Deus não há de derrogar a lei da gravidade só para favorecer um incauto que fique desafiando os tijolos a voar.
Assim, é importantíssimo que nunca haja afastamento de conceitos éticos e morais básicos, porque o exercício do livre arbítrio, a bem da verdade, é uma condição absoluta para que os seres relativos possam aderir ao bem, ou sofrer as conseqüências até que o façam.
Portanto, utilizando-se deliberadamente ou não da “lei da atração”, quem prejudica a outrem com suas intenções, pensamentos, palavras e atos, pode até ser o mais fervoroso dos crentes e tementes a Deus, entretanto, seu eventual sucesso sempre será efêmero, tanto quanto a subida dos tijolos. Inevitavelmente, cedo ou tarde, passará sua vida sob uma saraivada de tijolos que choverão em seu caminho, tanto quanto os tenha lançado por aí.