Não tem mais conserto
Não tem mais conserto
Não tem mais conserto,
é irremediável, inaceitável
e ponto final.
Cá estou defronte sua pele frágil,
seus dedos que apontam para leste e oeste,
seus cabelos loiros brilhando defronte
a chama das velas.
Seus lábios a esboçar um dessorriso, e sua face...
Agora, ela sem brilho,
exigindo um beijo,
uma carícia.
Pudera uma lágrima irrigasse seus olhos agora.
Pela primeira vez eu desejo que chores,
sofra, ou ao menos sinta a dor
que eu sinto de nos separarmos.
Suas algozes unhas que me marcavam,
dilaceravam meu coração,
estão agora inertes...
Sua pele de mármore,
seus pés paralelos,
suas bochechas de um rosado falso.
Seu estômago praxidérmico,
que já carregou fruto de nossa alegria.
Suas coxas abraçadoras, finalmente se encontraram.
Suas costas,
que eu deitava e ouvia as batidas de seu coração,
nem mesmo posso vê-la.
Sua testa franzina e de pouca sobrancelha,
que de bons tempos,
suavam em meu peito gelado.
Você agora não possui mais sangue efusivo.
Possui o encanto de vida,
o plurissentimento dos que te amaram.
A nossa filha
chorando lágrimas escarlates, me pergunta:
-Pai, por que a mamãe não acorda?
O que eu digo para ela?
Sabe o que eu queria dizer?
-A mamãe não acorda porque o papai está morto!