André Anlub e Rogério Camargo 133
Seu altruísmo era difuso, o seu confuso é que era lacônico.
Se por acaso falasse, nada que calasse calaria mais. Faria inveja a um silêncio de pedra.
Uma dissonância eterna, mas bem harmoniosa e organizada; com hora, local e data.
A hora é agora, o local é aqui e a data é sempre. Não precisa de calendário nem de relógio para confirmar.
Nadar, correr, voar, doar e se doar. A dor que já conhecia não subestimava seu infinito valor.
Dor é oposição – à vida e a si mesmo. E pouco havia de oposição na entrega, na aceitação do que lhe era dado dar e receber.
Seus olhos de guarida observavam tudo; suas mãos sempre estendidas não aceitavam os absurdos.
Era o maior de todos os absurdos... Com um sorriso, até concordava. Mas não estava em si sair de si.
Gente honrosa em seu trato, mas tem fome e sede como qualquer um; gente bondosa de fato, mas desde que seu calo fica intacto.
Olhar com os olhos de ver. Ver com os olhos de sentir. Sentia muito e não sentia muito: não havia do que, se havia porque.
Havendo um buraco na tez ou na alma ou no bolso ou no esboço do caráter, no mar, no céu ou no asfalto... Aonde for... Tenta fechar.
Ou passar por ele. Por aberturas, se forem aberturas, passa-se. Buracos não existem apenas para quebrar as pernas. Nunca quebrou as pernas. Buracos não devem e não podem é servir de quebra-galhos, de atos falhos para gatilhos aos novos erros, obscurecendo cruelmente a bondade inerente.
Saber disso leva adiante. Sabe disso. Vai adiante.
Rogério Camargo e André Anlub
(26/4/15)